TRIBUNA LIVRE: COMO EU FAÇO
Como sempre, gostaríamos de agradecer aos
nossos colegas a participação nesta seção pois, sem êles, ela
não existiria. Lembramos sempre que o nosso objetivo é
favorecer a participação de todos, permitindo assim que
emitam suas opiniões livremente.
Além destes agradecimentos, gostaríamos de
lembrar aos colegas que esta é uma TRIBUNA LIVRE e não
há necessidade de convites para que sua opinião seja
discutida. Enquanto houver distintos posicionamentos dos
apresentados, o tema será mantido ou retornará à
discussão, porém não serão publicados os textos
considerados contestatórios.
Gostaríamos ainda de solicitar aos colegas que
queiram participar, que enviem sugestões de novos temas ou
perguntas, bem como suas condutas nos casos discutidos.
Àqueles interessados em colaborar, manteremos
sempre um canal aberto pelo fax 019.32543839 ou E.mail: fernandocordeiro@globo.com
Nesta edição discutiremos o tema: "Pólipo viloso de
reto baixo" com a colaboração de 4 membros da nossa Sociedade:
Dr. Flavio Antonio Quilici(SP)
Dr. Mauro de Souza Leite Pinho(SC)
Dr. Renato Araújo Bonardi(PR)
Dr. Eleodoro Carlos de Almeida(RJ)
1. Quais são na sua opinião os sinais e sintomas
mais freqüentes de um pólipo viloso maior do que 2cm
de diâmetro, localizado em reto baixo? Como
confirmar o diagnóstico?
Dr. Flavio Antonio Quilici - Os pólipos vilosos de
reto baixo, com tamanho superior à 2cm de diámetro,
apresentam como síntomas mais frequentes, o sangramento
de cor vermelho rutilante durante as evacuações e a
mucorréia, asociada ou não com as fezes. A enterorragia exclusiva e
o tenesmo são raros e a dor inexistente.
Dr. Mauro de Souza Leite Pinho - O sintoma sem dúvida mais sugestivo na minha experiência é a perda de secreção sanguinolenta, de aspecto mucóide. Quanto ao diagnóstico, a retossigmoidoscopia me parece ser suficiente, pois o aspecto endoscópico é bastante característico. O toque retal pode ser traiçoeiro, devido à consistência macia da lesão.
Dr.Renato Araújo Bonardi - Os pólipos vilosos
costumam produzir uma grande quantidade de muco,
portanto quando localizados no reto baixo o paciente costuma
notar a presença de muco junto com as fezes, e muitas
vezes evacua somente muco independentemente da
eliminação das fezes. Além disto com freqüência
apresentam sangramento que costuma ser discreto e portanto o
paciente também pode notar o muco com estrias de sangue.
Lembramos ainda que muitas vezes a produção de
muco se mistura com as fezes deixando-as de consistência
mais amolecidas e com isto o paciente pode ter mais de
uma evacuação ao dia. Esta última é uma característica
interessante porque após a sua ressecção, o paciente pode
experimentar uma mudança no seu hábito intestinal no
sentido de apresentar evacuações mais endurecidas e menos
freqüentes. A confirmação diagnóstica é simples e feita
sempre com um exame proctológico completo sendo bem
evidente com uma retossigmoidoscopia rígida. Devemos
salientar que os pólipos vilosos sésseis têm uma
consistência amolecida e "aveludada" que muitas vezes ao
examinador menos experiente, o simples toque retal pode não
evidenciar a presença da neoplasia.
Dr.Eleodoro Carlos de Almeida - Os principais sinais e sintomas de um pólipo viloso, maior do que 2 cm. de diâmetro, localizado no reto baixo são: tenesmo retal, mucorréia, sangramento e, às vezes, prolapso com exteriorização da lesão. O diagnóstico é confirmado pelo exame proctológico completo, com biópsias para estudo histopatológico.
2. Em que situação deveremos suspeitar
de malignização?
Dr.Flavio Antonio Quilici - As características
de malignização do pólipo viloso, sómente pelo seu
aspecto macroscópico, é rara. No entanto, os pólipos extensos,
acima dos 4cm.de diámetro, a visão endoscópica de áreas
de granulação grosseira e/ou presença ao toque retal de
áreas endurecidas ou fixas aos planos profundos, são
sugestivos de malignização.
Dr.Mauro de Souza Leite Pinho - Em minha opinião, sempre. Na verdade, apenas após a excisão local do tumor viloso poderemos ter certeza de que não houve penetração na muscular da mucosa. Por isto é nossa conduta nestes casos sempre fixar a peça aberta, imediatamente após a ressecção, com alfinetes em uma cartela de papelão.
Dr. Renato Araújo Bonardi - Como dissemos, a consistência habitual do pólipo viloso é amolecida e quando tocamos áreas endurecidas na superfície destes pólipos, sempre devemos suspeitar de malignidade.
Dr. Eleodoro Carlos de Almeida - Suspeitamos de malignização quando a lesão se apresenta ulcerada, com coloração vinhosa, endurecida e sangrando com freqüência.
3. A exérese local é radical ou existe o risco da
incerteza de malignização?
Dr. Flavio Antonio Quilici - A ressecção local, desde
que radical e com margens de segurança adequadas
garantem sua cura, mesmo estando o pólipo malignizado.
Dr. Mauro de Souza Leite Pinho - Nos casos em que o patologista demonstra que há penetração na muscular da mucosa passamos a considerar a lesão como um adenocarcinoma de reto, e avaliamos a necessidade (ou não) de uma ressecção mais ampla. Se não for demonstrada esta invasão, consideramos a lesão tratada, devendo ser reavaliada endoscópicamente em um ano.
Dr. Renato Araújo Bonardi - Os pólipos vilosos de reto distal devem ser sempre ressecados completamente e nunca somente biopsiados. Muitas vezes estes pólipos têm pequenos focos de adenocarcinoma que não são percebidos no toque e a biópsia pode não alcançar estas áreas e desta forma confundindo o diagnóstico.
Dr. Eleodoro Carlos de Almeida - Quando injetamos solução salina com adrenalina na concentração de 1:250.000 na submucosa e a lesão apresenta-se totalmente solta, nos dá segurança quanto à radicalidade cirúrgica local, geralmente compatível com a ultrassonografia endorretal pré-operatória. Quando há infiltração muscular, a ressecção deve atingir todas as camadas do reto e, mesmo a ultrassonografia endorretal ou a tomografia computadorizada negativas para linfonodos perirretais, ainda paira alguma insegurança, exigindo vigilância rigorosa pós-operatória.
4. No caso de um tumor viloso em reto baixo,
ocupando mais do que a metade da luz intestinal, a
biópsia pode ser definitiva ou não? Como proceder?
Dr. Flavio Antonio Quilici - Pólipo viloso com
grande tamanho, ocupando mais da metade do lúmen do
reto baixo, não deve ser biopsiado, pois a conduta na
presença de qualquer pólipo adenomatoso, viloso ou não, é
sempre a sua total ressecção, seja ela endoscópica,
transanal ou cirúrgica.
Dr. Mauro de Souza Leite Pinho - Apenas a excisão completa da lesão vilosa nos dá a segurança de não tratar-se de um adenocarcinoma de reto, e esta deve ser feita a qualquer preço, por via endo-anal ou mesmo através de ressecção anterior baixa.
Dr. Renato Araújo Bonardi - Não. Como já mencionamos, a biópsia pode não ser conclusiva. Nesta situação de uma lesão ocupar mais da metade da circunferência do reto distal, temos procedido a ressecção de todo um manguito de mucosa do reto até ultrapassarmos a lesão. Este manguito é então seccionado e promovemos uma anastomose da mucosa abaixada ao nível da linha pectínea. Com isto ressecamos completamente a lesão vilosa e o patologista tem condições de uma avaliação completa de toda a peça cirúrgica.
Dr. Eleodoro Carlos de Almeida - Se a lesão ocupar toda a metade do diâmetro do reto, a biópsia pode não ser definitiva e o melhor é praticar a retossigmoidectomia abdominal com reto-anastomose ou anastomose coloanal se se fizer necessário.
5. Comentários adicionais?
Dr. Mauro de Souza Leite Pinho - Sim. O tumor
viloso de reto, quando extenso, necessita por vezes de
uma ressecção anterior ultra-baixa, e apresenta a grande
dificuldade de definição do bordo inferior da lesão, pois esta
é macia demais para ser bem detectada por palpação
trans-abdominal. Nestes casos, utilizamos algumas vezes
com grande sucesso a eversão do reto após sua liberação
via abdominal afim de determinar claramente, por via
perineal, os níveis de secção inferior com segurança. A utilização
do grampeamento retal «às cegas» pode nos causar
surpresas desagradáveis ao abrirmos a peça, estando a margem
comprometida.
Dr. Renato Araújo Bonardi - É necessário se fazer um acompanhamento freqüente destes pacientes, uma vez que os pólipos vilosos têm tendência a recidiva local com freqüência maior e portanto devemos sistematicamente insistir com o paciente a necessidade de exames periódicos, principalmente nos primeiros 12 meses. Nunca devemos esquecer que os pacientes portadores de tais lesões devem ser submetidos a uma colonoscopia na sua avaliação inicial.
Dr. Eleodoro Carlos de Almeida - Nos grandes tumores vilosos posteriores localizados abaixo da 2a.válvula (10cm.), usamos como via de acesso a ressecção transesfincteriana posterior (York Mason), que facilita a ressecção total da parede do reto. O bisturi ultrassônico, por permitir a ressecção e a hemostasia concomitante, é preferido por nós nestes casos. Na maioria dos nossos pacientes, as lesões são ressecadas por via transanal com o uso da válvula de Parks e infiltração de solução salina de adrenalina na concentração de 1:250.000.
Esta rodada de perguntas e respostas encerra esta seção da TRIBUNA LIVRE: COMO EU FAÇO.
Agradecemos novamente a inestimável colaboração dos colegas que prontamente responderam à nossa solicitação e tornaram
possível a realização de mais uma tribuna.
Este tema é amplo e nossa intenção é a de dar um rápido enfoque do tratamento da enfermidade em vários
locais alcançados por nossa Sociedade.
Se você tem alguma opinião divergente ou gostaria de completar aquilo que foi aqui referido, escreva-nos.
Gostaríamos de ter sua participação efetiva independente de sua titulação dentro da sociedade e mais uma
vez agradecer àqueles que de maneira tão rápida, gentil e extremamente conscisa colaboraram para manter acesa
conosco a chama desta TRIBUNA.
Novamente, o nosso fax é: 019.32543839 e E.mail: fernandocordeiro@globo.com.
Participe.
Fernando Cordeiro