OPINIÕES E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Júlio César Monteiro dos Santos Júnior - TSBCP
Resumo: Uma das principais manifestações viscerais da doença de Chagas é o megacólon e suas conseqüentes complicações, tais como a constipação crônica e severa, a desconfortante distensão abdominal, os fenômenos oclusivos associados ao fecaloma e ao volvo da sigmóide, a necrose da alça volvida, a colite isquêmica ou a úlcera que pode ou não perfurar. Todas comuns e com grau variado de gravidade, que podem ser evitadas com o tratamento do megacólon. Várias são as alternativas possíveis para o tratamento cirúrgico do megacólon chagásico, todas com os objetivos de aliviar os sintomas da doença e prevenir suas complicações. Embora a maioria delas contemple esses objetivos, algumas estão associadas a altos índices de morbi-mortalidade e poucas foram criadas com base nos conhecimentos da fisiopatologia da doença. Assim, operações que incluem amplas dissecções do reto e que naturalmente se associam a número maior de complicações, devem ser evitadas, principalmente nos casos em que o reto tem dimensões normais. Nesses casos, a retirada do segmento proximal do reto e de todo o cólon dilatado com anastomose acima da reflexão peritoneal devolve ao paciente o que poderia ser esperado em termos funcionais, sem os riscos observados com as técnicas desnecessariamente radicais.
Unitermos: Doença de Chagas, megacólon, volvo, fecaloma, tratamento cirúrgico
MEGACÓLON
O termo megacólon, por consagração, é
usado para designar a dilatação e o alongamento do
intestino grosso, fundamentalmente devido a alterações
da inervação intrínseca dessa víscera, com
os conseqüentes distúrbios morfológicos e funcionais.
Em sentido lato, no entanto, esse termo abrange,
também, todas as ectasias entre as quais estão incluídas as
que ocorrem por causa de uma lesão orgânica que
estenosa e impede a progressão do conteúdo intestinal com
a conseqüente dilatação visceral a montante.
Com essa definição e com o fator
etiopatogenético, o megacólon pode ser congênito
e adquirido.
MEGACÓLON ADQUIRIDO - Doença de Chagas
Os "megas" adquiridos, freqüentemente
vistos no Brasil e em várias outras regiões da América
do Sul, são manifestações tardias da doença de Chagas
e se desenvolvem como resultado da
destruição irreversível de células ganglionares periféricas
do sistema nervoso autonômico e/ou central durante a
fase aguda da doença. Nas vísceras ocas a destruição
de células ganglionares provoca, com o passar do
tempo, o aparecimento das dilatações, hipertrofias e
alongamentos caracterizando as enteromegalias.
Na opinião de Koberle1, exposta em 1963,
o nome enteromegalia ou simplesmente
"mega" (megaesôfago, megacólon) deveria ser reservado
para toda aquela condição em que o segmento dilatado é
o próprio segmento doente. Dessa forma não
haveria confusões como as ocorridas no passado
inclusive motivando abordagem cirúrgica inadequada
como ocorreu com a doença de Hirschsprung. Com
esse conceito, o termo megacólon congênito deveria
ser abandonado.
Incidência
A doença de Chagas continua como grave problema de saúde na América Latina como
atestam os números da OMS2. Estima-se ao redor de 17
milhões o número de pessoas infectadas; 300.000 casos
novos por ano, com 2 a 3 milhões de pacientes
com complicações crônicas da moléstia e 21.000 mortes
anuais, decorrentes.
O megacólon chagásico, uma das
complicações da moléstia, é relativamente freqüente entre nós e
já foi considerada a doença cirúrgica mais comum
do intestino grosso. No Hospital da Clinicas da
FMUSP ocupou o 5o. lugar entre as doenças operadas do
tubo digestivo; em 10 anos, de janeiro de 1985 a
dezembro de 1994, foram operados 160 pacientes (76 na
última metade da década de 80, e 84 na primeira metade
da década de 90), por causa de
megacólon, correspondente, em média, a 5,8% de todas
as operações feitas, por ano, na disciplina de
Coloproctologia3.
Não dispomos, no entanto, de outros
dados epidemiológicos, como ocorre com o
megaesôfago, para maior avaliação da atual realidade a respeito
da prevalência de megacólon na população geral ou
na população dos pacientes chagásicos. Esse fato
tem como explicação a natural dificuldade em se
detectar o megacólon, talvez por causa de sua evolução
mais lenta e com sintomas mais brandos e, portanto, com
a tendência de se manifestar mais tardiamente, ou
talvez se deva ao fato que o paciente suporte mais os
sintomas de constipação do que de disfagia e, portanto,
procure o médico bem mais tardiamente do que o fazem os
que são portadores de megaesôfago. Por qualquer que
seja a razão, os dados epidemiológicos são raros.
Contudo, a estimativa da OMS2 é de 10 a 12% (cerca de
30.000 por ano) dos pacientes chagásicos
crônicos desenvolvem o megacólon.
Estimado por registro de autópsias feitas
no Departamento de Patologia da FMRPUSP, temos o megacólon na freqüência de 69/556 autópsias
(12,4%), excluindo as crianças e mortes por
acidentes2.
O megacólon predomina ligeiramente nos homens com valor que não expressa
significado estatístico. A faixa etária de maior incidência fica
entre os 20 e 60 anos, com pico entre os 40 e 50 anos.
Grande parte da aquisição dessa doença se
dá na área rural, em virtude do contato dos
indivíduos com fezes de triatomídeos domiciliados. A doença
está sob controle e o quadro atual mostra uma
prevalência de 0,13%, nas zonas endêmicas, dado obtido por
meio de inquérito sorológico.
Anatomia Patológica
A forma digestiva da doença de Chagas compreende as perturbações notáveis na fase
crônica envolvendo o tubo digestivo e os principais
sintomas dizem respeito a problemas decorrentes dos
distúrbios da atividade motora principalmente do esôfago e
do cólon esquerdo com as alterações morfológicas
que caracterizam os "megas". O substrato
anatomopatológico dessas manifestações está na
denervação intrínseca das vísceras comprometidas, envolvendo
o sistema nervoso autonômico, principalmente
o parassimpático, por meio da destruição dos
plexos mioentérico e submucoso (Auerbach e Meissner).
A demonstração dessa destruição foi feita por
Koberle4, no final da década de 50, quando pôs em
evidência, após trabalho exaustivo de contagem neuronal
dos plexos intramurais, que o intestino grosso em
seus diferentes segmentos possuía número de
neurônios equivalente, em média, a 5% do normal.
Recentemente, Adad5, em um estudo de anatomia patológica,
destacou as alterações já bem descritas a respeito do
megacólon chagásico, expondo detalhes sobre as
alterações macroscópicas e microscópicas
freqüentemente encontradas na colopatia chagásica,
estabelecendo relação entre a dilatação visceral e a
hipertrofia muscular com a redução dos neurônios
intramurais. Sobretudo, anotou que a inervação colinérgica
está gravemente diminuída no megacólon,
especialmente na camada muscular própria. Ao lado
dessas evidências, o que já foi colocado como hipótese
para a dilatação preferencial para certos segmentos do
tubo digestivo (esôfago e cólon esquerdo,
principalmente o sigmóide) é o fato de que neles o alimento ou
os restos da digestão alimentar (bolo fecal) estão
na forma sólida.
Embora a patogênese da lesão tenha sido e
seja, ainda, objeto de vários estudos, a explicação de
como ocorre a lesão neuronal continua sendo motivo
de controvertidas opiniões. O fato é que não se sabe
ao certo como ela ocorre. Contudo, qualquer que seja
o mecanismo, parece que o processo se estabelece principalmente na fase aguda, época em que
fica determinado o grau da
lesão4,6. As
alterações morfológicas e manifestações tardias serão,
portanto, diretamente dependentes do variado grau da
lesão nervosa e, no tubo digestivo, ficaria na
dependência, também, da consistência do seu conteúdo.
FISIOPATOLOGIA
As alterações fisiológicas observadas
na enteromegalia da doença de Chagas cursam por
conta da denervação que é, obviamente, variável de
paciente para paciente, pois depende do equilíbrio
estabelecido entre o hospedeiro e o T.
cruzi, equilíbrio esse que envolve diversos fatores da complexa reação do
sistema imunológico.
Estudos feitos por vários autores têm
resultados com evidências de respostas viscerais compatíveis
com a de uma estrutura denervada7-11, porém, esses
estudos não foram suficientes para conclusões que
permitissem definir como é que cada um dos diferentes
segmentos do intestino grosso, com sua inervação
alterada, participa na gênese do megacólon. Esse aspecto
é relevante porque nele nos basearemos para
comentar os diferentes tipos de técnicas cirúrgicas propostas
para o tratamento do megacólon adquirido.
Com respeito a isso, os resultados de nosso estudo sobre a sensibilidade retal e o reflexo
reto-esfincteriano, contribuíram no sentido de não
se interpretar que, na doença de Chagas, as
alterações encontradas no reto pudessem ser os
fatores determinantes do aparecimento do
megacólon10, tal como ocorre na doença de Hirschsprung.
SINTOMATOLOGIA
O quadro clínico da doença de Chagas
afetando o intestino grosso se caracteriza pelo aparecimento
da constipação intestinal que, na grande maioria das
vezes, é de evolução lenta e progressiva. Não se sabe
quando, na vida de um paciente que foi infectado pelo
T. cruzi, irão surgir as manifestações atribuíveis à
colopatia chagásica. Estima-se que o período que separa
um evento e outro dure cerca de 20 anos e que o
megacólon leve mais 10 ou 20 anos para se estabelecer como tal.
Essa constipação, de evolução lenta
e progressiva, que se torna rebelde a qualquer tipo
de tratamento clínico, caracteriza a colopatia
chagásica. É comum o relato de constipação inicial de 2 ou 3
dias resolvida com uso de laxativo suave, mas que, com
o passar do tempo, torna-se mais intensa, com o
número de dias entre uma e outra evacuação
aumentando. Evolui assim, durante vários anos, obrigando
troca periódica de laxativos, dos mais brandos aos
mais fortes, até a situação caracterizada por
impossibilidade quase total para a evacuação das fezes. O
abdômen cresce e comumente surge a mais
freqüente complicação do megacólon chagásico que é o
fecaloma. Nada mais do que fezes acumuladas, num único
bolo, no interior do intestino, ressecado, de grande
volume e impossível de ser propelido pelos
movimentos intestinais, que são ineficazes. Esse acúmulo fecal
é notável, ao exame do abdômen, às vezes à
simples inspeção, às vezes à palpação, quando é
possível perceber pela sensação táctil a crepitação que
ocorre pelo descolamento da mucosa que à compressão
ficou "colada" na superfície grudenta do fecaloma.
A sensação é a mesma que se percebe ao afastarmos
duas superfícies de couro unidas por goma, ainda
úmida. Esse sinal, patognomônico de fecaloma, é
chamado sinal de Gersuny. O fecaloma pode, também,
ser percebido pelo toque retal.
Esses sintomas e sinais, ao lado da
distensão abdominal provocada pela constipação crônica
e dificuldade para expelir gases, os antecedentes
do paciente, a zona de origem, a historia familiar possibilitam o diagnóstico de doença de Chagas
com megacólon.
O interrogatório dos diferentes
aparelhos comumente fornece outros elementos que subsidiam
o diagnóstico. Não é raro que nessa fase da avaliação
do paciente sejam reveladas alterações em
outros segmentos do tubo digestivo, principalmente
no esôfago, bem como sintomas relativos à doença
do coração.
No exame laboratorial, a reação de fixação
de complementos, conhecida como reação de Guerreiro
e Machado, quando positiva, concretiza o
diagnóstico que pode e deve ser confirmado pelo exame
radiológico contrastado do intestino grosso (enema opaco) que
irá, no caso, revelar um cólon dilatado e
alongado, principalmente envolvendo o sigmóide e o
descendente e, não raramente, o reto.
COMPLICAÇÕES12
a. Fecaloma
A complicação mais comum é o fecaloma
(65%). Difíceis de serem evacuados mesmo com o auxílio
de lavagens intestinais, os fecalomas, na maioria
das vezes, são de localização baixa, no momento
do diagnóstico, e, portanto, passíveis de serem
tocados, pelo ânus. Quando isso ocorre, a remoção é
digital, estando o paciente sob efeito da raquianestesia
limitada à região perineal. Com muito cuidado para não
provocar lesões traumáticas, o extremo distal do fecaloma,
em geral muito duro, é quebrado e a massa fecal,
logo acima, com o auxilio de lavagem com água
glicerinada, vai sendo removida digitalmente, até seu
esvaziamento completo. Quando o fecaloma é muito alto e
impossível de ser tocado, o artifício é promover sua remoção
com o emprego de lavagens intestinais repetidas.
Quando isso não for suficiente para sua retirada, o
fecaloma será removido por ocasião do tratamento cirúrgico
do megacólon, sem maiores problemas.
b. Volvo do sigmóide
É a segunda mais freqüente complicação
do megacólon chagásico (31,5%), podendo ser
sem necrose (28%) ou com necrose (3,5%).
O volvo é causado pelo alongamento, pela dilatação do cólon e pelo estreitamento que ocorre
na base de implantação do meso devido a
mesenterite chagásica, que provoca retração do mesmo e faz
com que a alça sigmóidea fique flabeliforme. O
cólon excessivamente alongado dobra-se sobre si
mesmo, acomodando-se na cavidade peritoneal, de tal
forma que acaba por facilitar a rotação. Torcido, pode,
por oclusão do pedículo vascular, evoluir para
necrose12.
O quadro clínico do paciente com volvo
é caracterizado pelos sinais e sintomas de
obstrução intestinal. Sobressai a grande distensão
abdominal assimétrica (sinal de von Whal). Com a evolução,
a distensão de outros segmentos intestinais faz com
que o abdômen fique simétrico. O timpanismo sempre
é exagerado, podendo, na dependência de haver
necrose, somar ao quadro sinais de irritação peritoneal,
de desidratação e inclusive os de choque circulatório.
O diagnóstico é feito pela história clínica, exame físico
e pode ser auxiliado pelo exame radiográfico
simples do abdômen.
A avaliação clínica desses pacientes deve
ser cuidadosa, principalmente por causa da
possibilidade da necrose intestinal, que deverá ser
detectada precocemente. O exame proctológico é obrigatório
e, pela endoscopia, pode-se examinar o extremo
distal do segmento volvido com a oportunidade para
avaliar criteriosamente a situação da mucosa no local da
torção e, se as condições forem favoráveis, tentar a
distorção
endoscópica13-18.
No tratamento do volvo dois aspectos devem ser considerados com rigor:
a)- se há ou não necrose e
b)- se há ou não possibilidade de distorção endoscópica.
O diagnóstico de necrose às vezes
depende exclusivamente da avaliação clínica que inclui o
exame proctológico. Todavia, quando a dúvida é
persistente temos recomendado que se considere que a
necrose existe. Assim, o tratamento deve ser cirúrgico e
a operação consistirá na remoção do segmento
volvido e necrótico, optando-se sempre pela
colostomia proximal e distal ou pela operação de
Hartmman18, em que pese o fato de se tratar de um
procedimento associado a complicações
freqüentes20.
A anastomose primaria não tem sido
preconizada por causa da necrose intestinal associada, do
edema presente, do caráter urgente da operação e por
causa da falta do melhor preparo pré-operatório. Em
geral, esses pacientes são reanimados e
imediatamente opetados. Além disso, grande parte das vezes,
o atendimento e o tratamento são feitos por
cirurgiões menos experientes o que, certamente, acrescenta
riscos à operação.
Se não há necrose, a primeira tentativa
de tratamento do volvo, como já referido, é a
distorção endoscópica que é executada com o auxilio
do retossigmoidoscópio e de uma sonda retal de
Fouchet. A tentativa de introdução da sonda pelo ponto de
torção deve ser parcimoniosa. Alcançado o intento, a sonda
é deixada no local, pelo menos, por 12 horas.
O esvaziamento que se faz pela sonda é suficiente
para desfazer o volvo, que é parcial. O paciente deve
ficar em observação, pelo menos, por 24 horas, e
examinado periodicamente. Se a tentativa de distorção
endoscópica não conduz ao bom êxito, a opção de tratamento
torna-se cirúrgica. Nessa oportunidade, o volvo é desfeito e
o meso do cólon sigmóide é aberto para se desfazer
o estreitamento da base de implantação do mesmo.
Nós temos usado como técnica a abertura longitudinal
do mesossigmóide, ou seja, no sentido dos
vasos sigmoideos, com posterior sutura transversal.
Isso permite não só o alargamento da base de
implantação como também o encurtamento da altura do
mesocólon. Há quem recomende colostomia proximal, feita no
cólon transverso, com a justificativa de evitar nova torção
e permitir melhor preparo para o tratamento
definitivo. Nem um e nem outro argumento é justificativa, a
meu ver, correta. Primeiro porque, embora diminua
a oportunidade, a colostomia não evita nova
torção; segundo, porque o preparo pré-operatório para
operação do intestino grosso não inclui, necessariamente
a colostomia; terceiro, porque a colostomia significa
ônus social e econômico muito grande para o paciente
em troca de pouco ou nenhum benefício; por último,
porque o futuro tratamento da colostomia envolve, além de
custo institucional e social, consideráveis riscos para
o paciente, pelas complicações a que está associado
seu fechamento. Apesar disso, 26% dos pacientes
operados com volvo, em nossa Instituição, ficaram com
colostomia. Esse dado inclui, evidentemente, 6%
dos pacientes que tinham volvo com necrose.
c. Colite isquêmica
A colite isquêmica, não dependente do volvo,
é a terceira mais comum complicação do megacólon
e compromete 6% dos pacientes21-23.
Tem sido confundida como retocolite
ulcerativa, concomitante, ou como complicação tóxica de
etiologia bacteriana associada a retenção fecal, que é comum
na colopatia chagásica24,25.
A colite isquêmica tem sido descrita por
nós como complicação do megacólon chagásico
desde 1979, pois no grupo de 75 pacientes com esse
problema, 39 deles (54%) eram chagásicos com
megacólon23, sem doenças vasculares periféricas
clinicamente demonstráveis.
A colite isquêmica, no megacólon,
caracteriza-se pela mudança de hábito intestinal onde a
constipação crônica dá lugar à diarréia, mais evidente quanto
mais distal for o comprometimento do cólon. A diarréia,
no entanto, é pouco notável naqueles pacientes em que
o fenômeno isquêmico compromete o cólon
descendente. Esse fato é explicado pela presença do megacólon
distal à zona comprometida pela isquemia, que compensa
o volume exsudado ou não absorvido pelo
segmento inflamado. Com diarréia franca ou não, a evolução
é crônica com marcado comprometimento do
estado geral do paciente, com queda da
hemoglobina, diminuição das proteínas plasmáticas, aparecimento
de edema, por causa da hipoproteinemia, anorexia, emagrecimento e febre. O intestino
grosso comprometido, ao longo da evolução da doença,
exibe alterações radiológicas semelhantes às vistas
nas doenças intestinais inflamatórias crônicas
com estenoses ou pseudopólipos. Do ponto de
vista endoscópico, as lesões se caracterizam por
entremeado de tecido de granulação piogênica, mucosa
normal, e mucosa em fase de franca regeneração, com
úlceras rasas ou profundas, de formas bizarras,
conferindo ao revestimento intestinal aspecto
pseudopolipóide, semelhante aos descritos nas doenças
inflamatórias dos cólons; imagens muito mais próximas às
da doença de Crohn do que às da retocolite
ulcerativa. Na fase crônica, há estreitamento fibrótico
segmentar do cólon, ao qual se associam sinais
e sintomas obstrutivos. O exame
histopatológico confirma o diagnóstico principalmente quando
se encontram fagócitos com hemossiderina
depositada no seus citoplasmas.
O tratamento da colite isquêmica, com
essa evolução, é sempre cirúrgico, porém exige
recuperação do estado geral do paciente, que quase sempre não
são muito jovens.
A derivação intestinal é medida paliativa
que proporciona notáveis benefícios, não só por
promover o alívio da diarréia ou dos sintomas obstrutivos,
quando ocorrem, como também por evitar o
contínuo traumatismo provocado pelas fezes no
segmento isquêmico, que só fazem por intensificar as
perdas sangüíneas e protéicas. Recuperado, o paciente
é operado de forma eletiva para a ressecção
do megacólon e do segmento isquêmico.
d. Úlcera por estase fecal
A úlcera por estase fecal, também chamada
úlcera de "decúbito", é de etiologia isquêmica e decorre
da compressão localizada da mucosa pela massa
fecal pétrea. O nome decúbito, para essa úlcera, vem desse
fato. A mais grave complicação da úlcera é a perfuração
com a peritonite fecal conseqüente. A úlcera incide em
2,8% dos pacientes e a metade apresenta perfuração
(1,4%)12.
O diagnóstico da úlcera não perfurada, em
geral, é feito após a ressecção do megacólon e durante
o exame anatomopatológico da peça cirúrgica.
Quando perfurada, o diagnóstico clínico é o da peritonite,
cuja etiologia fica constatada no intra-operatório.
Nessa condição, melhor do que tentar ressecar o
megacólon com a perfuração, é exteriorizar a área perfurada,
como colostomia, após o "tratamento" de seus bordos.
A peritonite é tratada como peritonite fecal
para o que recomendamos associação antimicrobiana
de largo espectro de ação e lavagem exaustiva da
cavidade peritoneal, com fechamento primário da
parede abdominal12, seguimento rigoroso e re-intervenção
de acordo com o quadro clínico evolutivo do paciente.
TRATAMENTO CIRÚRGICO DO MEGACÓLON
O tratamento cirúrgico do megacólon
evoluiu, até certo ponto, de acordo com as concepções a
respeito da fisiopatologia e dos conhecimentos
acumulados sobre a sua gênese, porém com os autores
tomando, muito mais, como base o que era observado
de resultados obtidos em estudos feitos com a doença de Hirschsprung.
A grande influência que os conceitos de
autores alemães, ingleses e franceses exerceram sobre
os cirurgiões brasileiros pode ser notada na forma
rápida com que as técnicas cirúrgicas desenvolvidas para
o tratamento da doença congênita foram
sendo importadas e usadas no tratamento do
megacólon chagásico, com modificações que mais as
adaptavam às características pessoais e às limitações da época,
do que aos conhecimentos de quais eram e como eram
os fatores ou por quais mecanismos eles participavam
na origem dos "megas", na doença de Chagas.
Assim, em alguma época, as simpatectomias
e esficterotomias tiveram seu lugar na abordagem
cirúrgica do megacólon chagásico, mesmo que entre nós
pareça ter sempre predominado a idéia de que o segmento
cólico dilatado deveria ser incluído nas ressecções.
A tendência, no entanto, de se
estabelecer analogia entre as duas doenças persiste até hoje .
Há quem ache que o reto, na doença de Chagas
é especialmente denervado, como na doença
de Hirschsprung, mesmo após as
demonstrações histopatológicas feita por Koberle, em
exaustivas contagens de neurônios, ao longo do intestino
grosso, tanto de seres humanos como de animais de experimentação.
Koberle1,4,6,26,27 evidenciou que a denervação é um fato universal e que o número
de neurônios contados no reto é semelhante ao
contado no ceco ou em outro segmento do tubo
digestivo27. Por outro lado, no megacólon chagásico os segmentos
não dilatados, ao contrário do que tem sido observado
na doença de Hirschsprung, são os que apresentam
maior quantidade de neurônios
preservados28.
Os estudos sobre a fisiopatologia do
megacólon, as respostas sensíveis do reto, a integração do
reflexo reto esfincteriano, a atividade motora do segmento
retal e o sincronismo de funcionamento do esfíncter
anal interno não estão, ainda, suficientemente exauridos
para conclusões que permitam imputar a qualquer
dos segmentos do intestino grosso as razões para
o desenvolvimento do "mega". Por outro lado,
os trabalhos desenvolvidos isoladamente prestam-se
mais às interpretações precipitadas do que contribuem
para elucidar dúvidas que persistem a respeito da
gênese dos "megas" na doença de Chagas.
O reto foi e tem sido considerado o segmento, se não gerador, pelo menos mais importante
como participante na escala dos eventos que acabam culminando com as alterações
morfológicas costumeiramente vistas na colopatia chagásica.
Por essas concepções, não comprovadas, o
paciente chagásico, com megacólon, com ou sem megarreto
tem recebido o mesmo tratamento cirúrgico dispensado
aos pacientes com doença de Hirschsprung.
Operação radical para doença
relativamente benigna - essa foi uma das críticas feitas durante
a década de 50, endereçada à técnica de Swenson _
tem sido empregada no tratamento do
"megacólon" congênito.
A idéia de Duhamel29, com
algumas modificações, permitiu encontrar a técnica
cirúrgica que evitou as dissecções amplas do reto e superou
as deficiências funcionais do segmento denervado. O
que ele propôs foi associar a sensibilidade retal
preservada ao poder mecânico de segmento proximal do
cólon normal com o objetivo de dar ao reto a
função congenitamente perdida, o que não se aplica à
doença de Chagas, em que a denervação do intestino
grosso não se limita ao reto. Mas, foi assim que as
técnicas cirúrgicas para o tratamento do megacólon
chagásico foram sendo importadas ou criadas e continuam
sendo discutidas, até hoje, nos nossos Congressos.
O advento de novas técnicas ou as
variações táticas das existentes, ensejadas pela busca de
uma melhor opção para o tratamento do problema,
parecem não ter sido desenvolvidas alicerçadas em
novas concepções sobre a fisiopatologia do
megacólon chagásico.
Cutait30 escrevendo o capítulo sobre
tratamento do megacólon chagásico, no livro: Rumos
Modernos da Operação, de Eurico da Silva Bastos, edição de
1969, anotou que "a retossigmoidectomia, por via
abdominal, constituiu a intervenção de eleição, no período de
1947-1962. Nesta operação, baseada no conceito
etiológico, então prevalecente, de acalasia do esfíncter
pelvi-retal, fazia-se a ressecção do cólon sigmóide dilatado e
de extenso segmento do reto com o trânsito
estabelecido por meio de anastomose que ficava
sempre extraperitoneal".
A retossigmoidectomia abdomino-perineal com anastomose colorretal imediata foi realizada de
rotina no período de 1952-1958. A modificação tática
deveu-se ao fato de não mais se considerar o
megacólon conseqüente a acalasia do esfíncter pelvi-retal e sim
a discinesia do segmento retal. No entanto, o
procedimento foi, também, abandonado por causa do
elevado índice de deiscência. A mesma operação, porém
com o abaixamento do cólon e anastomose retardada,
foi introduzida em 1959 e executada como operação
de escolha a partir dessa data"31.
O megacólon chagásico tem indicação
de tratamento cirúrgico não só por causa dos
sintomas rebeldes de constipação, mas, também, pelo risco
das complicações comuns e de graves conseqüências
que acompanham essa doença.
O tratamento é paliativo, alivia a
constipação evitando, portanto, a formação do fecaloma e do volvo.
Por se tratar de doença sem cura, de
caráter benigno cuja fisiopatologia não é
integralmente conhecida e na impossibilidade de se escolher
uma técnica que devolva ou restaure ao máximo a função
e "normalizando" os distúrbios conseqüentes à
inervação destruída, o procedimento cirúrgico deveria
servir apenas para aliviar os sintomas de
prisão-de-ventre. Deveria ser, portanto, o mais conservador possível,
o mais fácil de ser executado; o que oferecesse o
menor risco para o paciente, mutilasse menos e produzisse
a mínima perturbação das funções ainda preservadas.
Não tem sido possível contemplar
essas condições com técnicas cirúrgicas que
envolvem amplas dissecções e ressecções do reto, nas quais
a reconstrução do trânsito intestinal é feita
com anastomose próxima ao canal anal.
A falta de conhecimento ou a valorização
dos dados disponíveis a respeito da
fisiopatologia contribuiu certamente para o grande número de
técnicas cirúrgicas usadas no tratamento do megacólon.
Todos sofreram essa influência.
As técnicas descritas e usadas no
tratamento cirúrgico do megacólon chagásico podem
ser enumeradas, assim:
1. Sigmoidectomia simples,
2. Retocolectomia anterior limitada ou estendida, com ampla (abaixo da
reflexão peritoneal) ou pouca resseção do reto
(acima da reflexão peritoneal) e
3. Retocolectomia anterior com abaixamento colo-anal
1. Sigmoidectomia
Ao contrário do que ocorreu com o
tratamento do megacólon congênito, a sigmoidectomia
simples, segura e de baixa morbidade, deu bons
resultados quando usada para o megacólon chagásico.
Sua indicação indiscriminada foi seguida, no entanto,
de recidiva, em longo prazo, notável em vários
pacientes, reforçando a idéia de que o reto deixado no
trânsito poderia ser a causa do desenvolvimento da
dilatação do cólon que permanecia a montante.
Como a denervação intestinal na doença
de Chagas é aleatória e imprevisível, é de se supor
que qualquer que seja o segmento extirpado, a recidiva
será certa e virá na dependência apenas do tempo, que
será menor nas situações em que o segmento
conservado for mais denervado e maior quando ao contrário,
pouco importando, portanto, se o reto foi ou não retirado.
Isto é, se o segmento retal for o mais denervado,
certamente sua presença imporá grande dificuldade para
a progressão do bolo fecal até sua passagem pelo
ânus; se, por outro lado, o reto for o segmento
menos denervado não terá a participação tão pronunciada
no desenvolvimento do megacólon a montante.
Não há um parâmetro dentro do exame
clínico que permita suspeitar qual segmento intestinal tem
sua inervação mais comprometida, exceto a dilatação
que acreditamos ser, também, dependente do estado
físico do conteúdo da víscera dilatada.
Se compararmos a imagem radiológica do megacólon chagásico obtida com contraste com
a mesma imagem do intestino grosso, na doença
de Hirschsprung, seria de se supor que quando
segmento retal tivesse um perfil radiológico semelhante
ao normal ele estaria mais denervado, justificando o
cólon esquerdo alongado e dilatado, portanto, as
partes proximais estariam alongadas e dilatadas às custas
da obstrução imposta pela discinesia retal, tal como
ocorre na moléstia de Hirschsprung.
Essa foi a idéia, a meu ver, equivocada,
que determinou a racionalização da tática operatória
para o megacólon chagásico.
Koberle1,4 alertou contra esse tipo de
equivoco quando propôs reservar o prefixo "mega" para
a condição em que o segmento dilatado fosse o
próprio segmento doente, para que, na doença de Chagas
não houvesse as mesmas confusões notadas no passado
e que motivaram abordagem cirúrgica inadequada,
como ocorreu com a doença de Hirschsprung.
Posteriormente, por meio de exames histopatológicos,
foi observado que os segmentos não dilatados dos
cólons eram os que apresentavam percentual mais alto
de plexos mioentéricos
preservados28.
Com esse raciocínio, desenvolvemos um
estudo da fisiopatologia desse segmento em
pacientes chagásicos com megacólon e megarreto, em
pacientes chagásicos com megacólon e retos "normais"
(não dilatados) e em pacientes não chagásicos e
com funcionamento intestinal normal10.
As dimensões do reto foram avaliadas por
meio de técnica radiológica padronizada e com
elas procedeu-se à comparação dos retos dos
pacientes normais com os dos pacientes com
megacólon chagásico. Fruto dessa comparação, esse grupo
foi dividido em dois subgrupos: primeiro, pacientes
com "megacólon e reto normal" e, segundo, pacientes
com "megacólon e megarreto".
O estudo não incluiu o registro da
atividade motora do intestino grosso, mas permitiu a
avaliação do reflexo reto-esfincteriano por meio
concomitante de registro eletromiográfico e da sensação
subjetiva do conteúdo retal estimulada por balão inflável
alojado na ampola retal. O estímulo, pela inflação do
balão, foi feito até a manifestação da vontade insuportável
de evacuar, anotando-se, ao mesmo tempo, o volume contido no interior do balcão e a pressão exercida
pelo mesmo nas paredes do reto.
Conclusões: a. o volume necessário
para despertar a sensação de conteúdo retal com
vontade leve e passageira de evacuar começou com 20 ml
e provocou desejo insuportável de evacuar com 115
ml, nos pacientes normais; b. o mesmo ocorreu com
os pacientes chagásicos com megacólon e retos
"normais", que, diga-se, foram capazes de evacuar o balão; c.
o reflexo reto-esfinceriano estava preservado nos pacientes chagásicos, independente da dimensão
do reto _ isto é, o estímulo retal inibiu a atividade
da musculatura do canal anal e foi registrado pelo
paciente como vontade de evacuar _ de grau leve e
passageiro até insuportável, seguido da evacuação do
balão. Contudo, os pacientes com megarreto, diferente
dos normais e dos que tinham megacólon com
reto "normal", suportaram volumes de até 400 ml
(máximo), mas não foram, evidentemente, capazes de evacuar
o balão, dadas as suas dimensões.
Essas observações, desde que obtidas,
foram consideradas relevantes na escolha da técnica
cirúrgica para o tratamento do megacólon chagásico. Assim,
as operações com ressecções mais amplas do reto ou
as técnicas de abaixamento passaram a ser
reservadas apenas para os pacientes com megacólon e
megarreto. O paciente com megacólon e reto "normal" ou
não dilatado recebeu tratamento mais conservador
que consistiu da retocolectomia anterior, nas quais
apenas o segmento proximal do reto e o cólon dilatado
eram extirpados.
A sigmoidectomia foi operação usada para
o tratamento de 22 pacientes. Vinte deles foram acompanhados e o resultado foi considerado bom
em 75% deles e regular em 20%. Em 5%, o resultado
não foi satisfatório.(Tabela-1)
Tabela 1 - Avaliação de resultados em termos funcionais, em 878 pacientes operados de megacólon chagásico.
SIG | RA | CAR | Abaixamentos colon anais | Outras | |||
a. Cutait | b. Duh | d. DH | |||||
Resultados | N=22 | N=453 | N=50 | N=29 | N=34 | N=253 | N=34 |
Bom | 75% | 84,0% | 66% | 41% | 82,4% | 78% | 50% |
Regular | 20% | 13,3% | 28% | 55% | 17,6% | 17% | 26,5% |
Ruim | 5% | 2,7% | 4% | 4% | - | 5% | 23,5% |
Sig=sigmoidectomia; RA=retocolectomia anterior ;CAR=Cardoso; Duh=Duhamel; DH= Duhamel-Haddad e Outras=(abaixamento com íleo, Hartmann; colostomia, íleo-reto anastomose) |
2. Retocolectomia anterior
(retossigmoidectomia limitada ao sigmóide ou estendida para
segmentos proximais do cólon com pouca ou ampla resseção
do reto)
Iniciou-se, nos meados da década de 50, com
a retossigmoidectomia anterior com modificações
que oferecessem a maior segurança aos pacientes já
que naquela época os recursos clínicos e de técnica
cirúrgica não permitiam anastomoses colorretais abaixo
da reflexão do peritônio com índices de
deiscência inferiores a 30%.
A retossigmoidectomia era então feita em
3 tempos. O procedimento iniciava com a colostomia
no transverso, que servia também para melhor preparo
do cólon. Num 2o. tempo fazia-se a
retossigmoidectomia clássica, mantendo a colostomia que era fechada
num 3o. tempo. Esses procedimentos, evidentemente objetivavam maior segurança para uma operação
que nos dias atuais é feita em um só tempo, com
índices insignificantes de complicações.
Variante dessa técnica, usada entre nós, em
6% dos pacientes foi a operação descrita por Cardoso
que consistia em deixar o reto maior do que na retossigmoidectomia, retirar uma faixa circular de
2cm ou mais da mucosa do reto, desde o extremo
proximal preservado indo no sentido crânio-caudal, inverter
o segmento muscular correspondente, inserir o cólon
por sobre o segmento muscular invertido e fazer a anastomose do cólon com o reto tendo como limite
a linha da circunferência onde inicia a mucosa retal
(2 ou mais cm abaixo). Em seguida, desfaz-se a
inversão da parede muscular do reto, que permanece como
um tubo muscular protetor da anastomose. Esse tipo
de proteção dado para a anastomose é de fato eficiente.
O procedimento é mais elaborado por exigir a
dissecção via abdominal de um segmento circular de
mucosa retal, o mais longo possível, para depois, invertendo
o envoltório muscular sem a mucosa poder fazer
a anastomose do segmento proximal remanescente ao nível da mucosa que restou no reto distal. Ao
término a manga muscular é posta em sua posição natural
e suturada à serosa do colon. Os resultados
foram considerados bons em 66% dos pacientes e
regulares em 28%. Houve 8% de complicações com a
anastomose (3 deiscências e um estreitamento), todas com
solução clínica.
A retossigmoidectomia anterior foi, posteriormente, abandonada com base no índice
de complicação e nas idéias de que o segmento retal
tinha papel preponderante na gênese do mega. Deixá-lo
no transito seria oferecer oportunidade para
recidiva precoce do megacólon. Talvez muito mais
pelas complicações do que pela oportunidade de recidiva,
foram adotadas as técnicas de abaixamento,
que excluíam a anastomose do transito intestinal.
Primeiro foi a operação de
Cutait31, depois a de Simonsen e
col32. e a de Duhamel modificada por
Haddad33, conhecida entre nós como operação de Duhamel-Haddad.
A partir de 1977, passamos a selecionar os pacientes para a técnica cirúrgica mais
adequada, segundo a avaliação radiológica do reto quanto às
suas dimensões. Assim, a retossigmoidectomia
anterior envolvendo a excisão do reto proximal passou a ser
o procedimento de escolha para o tratamento do megacólon chagásico quando o reto "parecia"
normal. Quarenta e nove por cento dos nossos pacientes,
com retirada do reto proximal e variada extensão do
cólon indo ao sentido cranial, foram operados por causa
de megacólon. Houve 3 óbitos (0,7%) e 6 deiscências
de anastomoses (1,4%) entre outras complicações.
O resultado final foi considerado bom e regular em
83,5% e 13,7% dos pacientes, respectivamente. Se
somarmos a esse grupo os que foram submetidos apenas
a sigmoidectomia o grupo, cujo tratamento cirúrgico
não envolveu amplas dissecções e extirpações do
reto, representará 53% dos pacientes operados, com
7 deiscências de anastomoses (1,5%), 6 óbitos
(1,5%) com um resultado final bom em 83% e regular em
14% dos pacientes.
3. Retocolectomia anterior com abaixamento
colon-anal
a. Operação de Cutait34
Idealizada pelo Prof. Daher Cutait para
resolver dois grandes problemas relacionados à operação
do megacólon. O primeiro diz respeito à idéia
esposada pelo autor de que os procedimentos
cirúrgicos executados somente por via abdominal, mesmo
aqueles que envolviam a retirada do reto intraperitoneal
estarem sujeitos à maior recidiva por causa da permanência
do reto discinético. O autor estava entre os que, como
já mencionamos, acreditavam ser o reto, na doença
de Chagas, o mais importante segmento causador do
mega. Cutait adotou a idéia baseada em suas
observações34,35 e de
Raia36, quando descreveram o reto como
segmento agangliônico, em todos os casos de
megacólon adquirido, numa época em que pouco ou nada se
sabia a respeito da fisiopatologia do megacólon
chagásico, exceto o que se transportava de estudos feitos com
a doença de Hirschsprung, para raciocinar com
o megacólon adquirido.
Os primeiros estudos sobre a fisiopatologia do megacólon surgiram em 1961, mas publicados
em 19647-9 com pesquisas sobre a motilidade do
cólon dilatado sob a ação de agentes colinérgicos.
Esses estudos trouxeram evidentemente subsídio
para conclusões a respeito do aspecto farmacológico
da estrutura denervada mas não concluíram a respeito
da participação do reto e do canal anal na gênese
dos "megas". Por outro lado, estudos posteriores
não confirmaram os achados de
Cutait34, no que diz respeito ao aspecto da fisiopatologia do reto e sua gênese
no aparecimento dos megas34,36.
A denervação existe, é variável, é
importante, ocorre em todos os segmentos do tubo digestivo,
mas aganglionose não tem sido descrito.
Koberle1,4,6 após estudos exaustivos e contagem de neurônios ao
longo do tubo digestivo demonstrou que, do reto ao ceco,
o intestino grosso do chagásico tem
diminuição substancial de neurônios (o restante corresponde
em média 5% do normal) sem predomínio, nessa
perda, de um segmento sobre o outro. Por esse aspecto,
a retirada do reto não pode ser justificada. e não o
é, nem na prática, quando se observa a incidência
de recidiva ocorrendo, independente da técnica
cirúrgica empregada.
O segundo problema aliviado pela
idealização de
Cutait34,35 foi contornar os riscos da deiscência.
O grande mérito da técnica é permitir anastomoses
mais baixas sem os riscos de deiscência e a necessidade
de colostomia transversa protetora, mas com a desvantagem de exigir extensa dissecção do
reto, principalmente o descolamento muscular da parte
alta do canal para proporcionar uma inversão completa.
A incontinência fecal e os distúrbios da esfera
genito-urinária são complicações possíveis e
relevantes quando se usa essa técnica. Foi usada, por nós,
em número relativamente pequeno de pacientes
com megacólon chagásico (29 pacientes) e os
resultados foram considerados bons em 41% deles e regulares
em 55%. Dezoito por cento dos pacientes referiram incontinência duradoura e houve 27% de
estenose (Tabela-2).
Tabela 2 - Relação das mais freqüentes complicações observadas no pós-operatório em 856 pacientes com megacólon chagásico operado.
RA | Cutait | DH | DU | Card | Outras | |
Deiscência | 42 (9,9%) | - | 3(1,2%) | 10(29,4%) | 4(8%) | 3(8,8%) |
Estenose | 3 (0,7%) | 2(6,8%) | 23(9,2%) | - | 1(2%) | 1(2,9%) |
Incont trans | - | 2(6,8%) | 10(4%) | 1(2,9%) | - | 1(2,9%) |
Incont pers | 4(1,6%) | - | - | - | ||
Diarréia | 3 (0,7%) | - | - | - | - | 2(4,8%) |
Fecaloma | - | - | 3(1,2%) | - | - | - |
Necrose cólon abaixado | - | 4(13,8%) | 4(1,6%) | - | - | - |
Óbito | 3 (0,7%) | - | 3(1,2%) | 1 | 2(4%) | 7(20,6%) |
RA=retocolectomia anterior; DH=Duhamel-Haddad; DU=Duhamel; Card=Cardoso;Outras = (abaixamento com íleo, Hartmann; colostomia, íleo-reto anastomose); Incont trans= incontinência transitória; Incont pers= incontinência persistente. |
b. Operação de Duhamel
Técnica elegante para o tratamento da
doença de Hirschsprung foi descrita por
Duhamel29, em 1960. Mais fácil de ser feita, teoricamente, foi criada
para obter a restauração da função motora do reto.
Com a técnica de Duhamel29,37 que consiste
do abaixamento do cólon pelo espaço retro-retal, com
a preservação do reto e de todo o tecido perirretal, e
com as modificações introduzidas por Martin e
Alteimeir38, em 1962, visa-se usar as propriedades
sensitivas preservadas do reto denervado, acrescentando-lhe
a atividade motora ausente, pela justaposição do
cólon normal, numa anastomose lado a lado,
confeccionando um tubo cuja metade anterior é formado pelo reto e
a metade posterior pelo cólon.
Várias e importantes modificações
foram introduzidas no procedimento ideado por Duhamel e
o resultado foi mais uma técnica, hoje adotada em
todos os centros de operações pediátricas, principalmente
no Brasil, onde começou, também, a ser usada para
o megacólon chagásico. Para esse intento, foi
mais difundida entre nós depois da modificação
proposta por Haddad e col.33.
A variação introduzida pelo cirurgião
paulista consiste numa anastomose de maturação tardia,
não exposta ao trânsito intestinal, numa forma de evitar
as deiscências, que são complicações de
graves conseqüências e de alta incidência, nas
operações colorretais com anastomoses baixas.
Na análise crítica da operação de
Duhamel, Grospel e col.39 recomendaram o procedimento
como de escolha no tratamento da doença de
Hirschsprung e, entre nós, por analogia, ela também foi
recomendada para o megacólon chagásico.
As complicações mais comuns da operação
de Duhamel foram citadas
anteriormente40.
A operação de Duhamel, do ponto de
vista técnico, como dissemos, é de fácil execução, segura
e não exige as amplas dissecções do reto. Nela, todo
o segmento extraperitoneal do reto é preservado.
A mobilização do reto interessa apenas sua face
posterior que é descolada, por meio de dissecção romba, do sacro.
Os passos técnicos principais exigem o descolamento delicado do reto, de sua aderência
com o sacro, preservação da artéria retal superior e
a mobilização do cólon sigmóide, que em geral
está alongado e dilatado. Essas alterações, às vezes
se prolongam em sentido cranial, envolvendo o descendente e o cólon transverso. Tal como ocorre
na doença de Hirschsprung, procuramos,
também, identificar uma "zona de transição" em geral
indicada pelo estreitamento da tênia, muito alargada
no segmento dilatado. E'claro que, no caso do
megacólon chagásico, de forma alguma esse aspecto
avalia corretamente a extensão do segmento denervado;
de forma alguma significa que a parte escolhida
como limite para a secção é divisor entre o segmento
distal denervado e o segmento proximal normal. A víscera
é universalmente denervada e escolhemos apenas
o segmento mais dilatado para a remoção. O reto
é seccionado imediatamente acima da reflexão
do peritônio e fechado com sutura mecânica ou
manual. Os passos seguintes seguem os mesmos descritos
para o tratamento da doença de Hirschsprung até a
confecção da anastomose término-lateral que depois
é transformada em uma anastomose latero-lateral,
por esmagamento, entre pinças do septo reto-cólico.
A retirada do septo confere ao procedimento a
imagem de um tubo cuja metade posterior é formada pelo
cólon abaixado e a metade anterior pelo reto preservado.
A diferença, quando se trata do megacólon chagásico
é que a metade posterior, nessa anastomose,
representada pelo cólon abaixado, é tão denervada quanto a
metade anterior, representada pelo reto. A despeito disso,
fica criada uma ampla "ampola retal" cuja calha anterior
é formada pelo reto, e a posterior pelo cólon abaixado.
O inconveniente dessa operação, como já
foi mencionado, deve-se às eventuais imperfeições
na retirada do septo entre o reto e cólon, o que pode
manter uma parte do reto como um coto cego
isolado, favorecendo a formação de fecaloma no seu interior.
A operação de Duhamel, tal como foi
preconizada para a doença de Hirschsprung foi usada, numa série
de dados de que dispomos, em 34 pacientes com
megacólon chagásico. Foi com essa técnica que se pôde observar
o maior índice de complicações no pós-operatório
imediato. Doze pacientes (35,3%) apresentaram complicações
e entre elas as mais comuns foram deiscência do coto
de reto (17,6%), deiscência da anastomose (11,7%),
além de incontinência fecal. Em 5 pacientes (41%) dos
que tiveram complicações, foi necessário um
procedimento cirúrgico suplementar. Os resultados finais, no
entanto, foram considerados bons em 82,4% dos pacientes
e regulares em 17,6%. Dois pacientes referiram
disfunção sexual, após o tratamento
cirúrgico.
Essa operação foi abandonada em favor
do mesmo procedimento com a modificação proposta
por Haddad e col.33.
c. Operação de
Duhamel-Haddad33
Os passos técnicos são os mesmos descritos
para a técnica de Duhamel, exceção feita para a
anastomose colorretal, principal modificação sugerida por
Haddad, que é do tipo retardado. Isto é, o cólon é
exteriorizado pelo ânus e a anastomose colorretal fica para ser
feita 10 a 15 dias depois, quando, então é seccionado o
septo formado pela parede posterior do reto e a anterior
do cólon abaixado.
Esse procedimento, desde 1966 até 1994,
foi feito em 253 pacientes com megacólon chagásico e
os resultados foram considerados bons em 78% dos
casos e regulares em 17%. As complicações mais
freqüentes foram estenose da anastomose (9,2%),
incontinência transitória (4%) e destes, alguns pacientes
permaneceram incontinentes (1,6%). Necrose do coto de
cólon abaixado (1,6%) e 3 óbitos operatórios (1,2%)
foram as outras complicações (Tabela-2).
Em suma, várias são as alternativas
possíveis para o tratamento cirúrgico do megacólon
chagásico, todas com os objetivos de aliviar os sintomas
de constipação intestinal, evitar o volvo e a formação
de fecaloma. Embora a maioria delas contemple
esses objetivos, algumas estão associadas a altos índices
de morbi-mortalidade e poucas foram criadas com
base nos conhecimentos da fisiopatologia da doença.
Assim, operações que incluem amplas dissecções do reto e
que naturalmente se associam a número maior
de complicações, devem ser evitadas, principalmente
nos casos em que o reto tem dimensões normais.
Nesses casos, a retirada do segmento proximal do reto e
de todo o cólon dilatado com anastomose acima
da reflexão peritoneal devolve ao paciente o que
poderia ser esperado em termos funcionais, sem os
riscos observados com as outras técnicas.
Summary: Chagas' megacolon is a common complication of south-American tripanosomiasis that results in severely chronic constipation. The disease is due to acquired universal lesions of myoenteric ganglions with partial or complete degenerative changes of the ganglion cells (Auerbach & Meissner's plexus). Unlikely Hirschsprung's disease the surgical management of Chagas' megacolon is not at all curative. So, its surgical treatment must involve the removal of dilated intestinal segment, therefore the main procedure should be the anterior rectocolectomy including only the proximal part of rectum.
Key words: Chagas' megacolon, complications, surgical management
Referências bibliográficas
1. Koberle F. Enteromegaly and cardiomegaly in Chaga's
disease. Gut;4:399405,1963.
2. OMH- Weekly Epidemiological Record. Chagas
Disease;75:153-160, 2000.
3. Santos JCM _ Dados pessoais.
4. Koberle F Enteromegalie. Zentralbl Allg
Path;96:244-46,1957.
5. Adad SJ. Contribuição ao estudo da anatomia patológica e
da patogênese do megacólon chagásico.
Rev Soc Bras Med Trop;30:79-81, 1997.
6. Koberle F. Patogenia da moléstia de Chagas.
Rev Goiana Med;3:155,1957.
7. Vieira CB, Godoy RA, Carril CF. Hypersentivity of the
large intestine to cholinergic agents in patients with
Chagas'disease and megacólon. Rev Bras
Gastroent;16:41-48, 1964.
8. Vieira CB, Godoy RA, Meneghelli UG, Carril CF.
Resposta do cólon sigmóide não ectasiado à metacolina na forma
crônica da moléstia de Chagas. Arq
Gastroent;3:21-26, 1966.
9. Habr-Gama A. Motilidade do cólon sigmóide e do
reto. Contribuição ao estudo da fisiopatologia do
megacólon Chagásico. Tese
FMUSP, 1966.
10. Santos JCM Estudo comparativo da sensibilidade retal e
do reflexo reto-esfincteriano entre pacientes chagásicos
com megacólon e reto não dilatado, com megacólon e
megarreto. Tese FMRPUSP, 1977.
11. Meneghelli UG, Godoy Ra, Oliveira RB, Santos JCM,
Dantas RO. Effect of pentagastrin on the motor activity of the
dilated and nodilated sigmoid and rectum in
Chagas'disease. Digestion; 27:152-58, 1983.
12. Ferreira-Santos R, Carril CF, Santos JCM, et al.
Complicações do megacólon adquirido.
Rev Ass Med Bras; 23:427-28,1977.
13. Haddad J, Simonsen O, Raia. A, e Corrêa-Netto A.: Volvo
do sigmóideo: etiologia e tratamento: considerações sabre
98 casos. Rev Paul Med; 60: 411-12, 1962.
14. Oliveira MR, Cutait DE, Branco PD, et al. Obstrução
intestinal: Volvo do Sigmóide. Estudo de 107 casos.
Rev Hosp Clin Fac Med São Paulo;18: 469-70, 1963.
15. Rezende MS, Oliveira, CAP, Matinelli JG, et al. Volvo
do sigmóide: tratamento pela intubação descompressiva.
Rev Goiana Med; 16: 41-2, 1970.
16. Reis-Neto JA. Intubacão retossigmoidiana
descompressiva. Tratamento do volvo sigmóideo.
Rev Ass Med Bras;17: 201-3, 1971.
17. Habr Gama A, Simonsen O, Haddad J et al. Volvo do
sigmóide: considerações gerais e resultados do
tratamento conservador pelo esvaziamento endoscópico.
Rev Ass Med. Bras; 14: 287-88, 1968.
18. Gama HA, Haddad J, Simonsen O, et al. Volvulus of
the sigmoid colon in Brazil: a report of 280 cases.
Dis. Colon Rectum;19: 314-20,1976.
19. Habr-Gama A, Teixeira MG, Vieira MJF, et al. Operação
de Hartmann e suas conseqüências. Rev Bras
Coloproctol;17:5-10,1997.
20. Reis LDO, Lombard AO, Reis ADO, et al. Cirurgia
de Hartmann _ Análise de 41 casos em Hospital de referência
do norte do Paraná. Rev Bras
Coloproctol;21:19-22,2001.
21. Santos JCM, Guimarães AS. Colite isquêmica. Diagnóstico
e conduta terapêutica. In Paula-Castro U e Savassi Rocha
PR, Eds. Tópicos em Gastrenterologia
I. 1ª. Edição. Medsi, RJ, 1990: 195-208.
22. Santos JCM, Guimarães AS. Colite isquêmica. In Savassi
Rocha PR, Andrade JI e Souza C. Eds. Medsi _ 2ª. Edição.
Abdômen Agudo _ Diagnóstico e
tratamento. 1993: 509-5 13.
23. Santos JCM. Colite Isquêmica. Rev Bras
Coloproctol;18:109-115,1998.
24. Ginani FF, Rezende MS, Magalhães AV, et al. Dilatação
tóxica no megacólon chagásico.
Rev Assoc Med Bras;22:32-33,1976.
25. Kobyasi S, Mendes EF, Rodrigues MAM, et al. Toxic
dilatation of the colon in Chagas'disease. Br J
Surg; 79: 1202-203,1992.
26. Koberle F. Pathologische Befunde na den
muskullären Hohlorganen bei der experimentellen
Chagaskrankheit. Zentbl Allg Path;95:321-22,1956.
27. Koberle F, Nador E. Etiologia e patogênese do
megaesôfago no Brasil. Rev Paulista
Med 47:643-45, 1955.
28. Costa RB, Lima Filho EC. Plexos submucoso e
mioentérico do cólon humano na moléstia de Chagas.
Rev Inst Med Tropical. São Paulo;6:211-18,1964.
29. Duhamel B. A new operation for the treatment
of Hirschsprung's disease. Arch Dis Child;35:38-39,1960.
30. Cutait DE. Megacólon chagásico. Rumos Modernos
da Operação. Ed. Eurico da Silva
Bastos, 1969.
31. Cutait DE, Figliolini FJ. A new method of colorectal
anastomosis in abdominoperineal resection. Dis Colon
Rectum 4;335-7,1961.
32. Simonsen O, Habr AK, Gazal P. Retossigmoidectomia
endo-anal com ressecção da mucosa retal.
Rev Paulista Med; 57:116-17, 1960.
33. Haddad J, Raia A. Correa-Neto A. Abaixamento
retro-retal do colon com colostomia perineal no tratamento do
megacólon adquirido. Operação de Duhamel modificada.
Rev Ass Med Bras;11:83085, 1965.
34. Cutait DE. Tratamento do Megassigma pela
retossigmoidectomia. Tese de
Livre-docência. Ed. Saraiva, São Paulo,1953.
35. Cutait DE, Cutait R. Surgery of chagasic megacólon.
World J Surg;15:189-197,1991
36. Raia A. Pathogenesis and treatment of acquired
megacolon. Surg Gynecol Obstet;101:69-72, 1955.
37. Duhamel B. Retrorectal transanal pull-through procedure
for treatment of Hirschsprung's disease. Dis Colon
Rectum;7:455-58,1964.
38. Maritn LW and Alteimeir WA. Clinical experience with a
new operation (modified Duhamel procedure) for
Hirschsprung's disease. Ann Surg;156:678-79, 1962.
39. Grospel JL, Ballantine TVN and Csicsko N. A critical
evaluation of Duhamel operation for Hirschsprung's
disease. Arch Surg;113:454-60,1978.
40. Santos JCM. MEGACÓLON _ Parte I: Doença
de Hirschsprung. Rev Bras Coloproctol;22(3), 2002, no prelo.
Endereço para correspondência:
Júlio César M Santos Júnior
Instituto de Medicina
Av Min Urbano Marcondes, 516
12515-230 - Guaratinguetá - SP
Tel. 012 525-5059
E-mail: jcmsjr@provale.com.br