ARTIGOS ORIGINAIS
Resumo: A procidência de colostomia é complicação comum, muitas vezes levando a necrose da alça exteriorizada. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência do Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis com o uso de técnica de ressecção da alça prolapsada com abordagem local do cólon, preservando seu mesentério e sem atuar na pele. Foram estudados, retrospectivamente, três pacientes com colostomia em alça, operados no período de abril de 2001 a dezembro de 2003, todos com necrose da alça procidente. É descrita a técnica e os resultados.
Unitermos: procidência, colostomia.
Introdução
A procidência de colostomia é
complicação comum em colostomizados
1-3, sendo a necrose distal da alça prolapsada uma de suas complicações.
Várias técnicas foram descritas para sua correção
4,5, todavia há situações em que o cirurgião necessita ressecar
a alça prolapsada, usando técnica que cause
menor trauma ao paciente. Isto ocorre nos pacientes
em condições clínicas deterioradas que não permitem
um procedimento cirúrgico maior.
O objetivo deste trabalho é descrever a
técnica de ressecção da alça prolapsada com abordagem
local sem atuar na parede abdominal, com preservação
de seu mesentério, e apresentar os resultados.
Pacientes e Métodos
Foram estudados, de forma retrospectiva,
três pacientes com procidência de colostomia corrigidas
pela técnica de abordagem local com preservação
do mesocólon e sem atuar na parede abdominal, quanto
ao sexo, idade, causa da indicação da colostomia, tipo
de colostomia, condições locais da alça, risco
cirúrgico anestésico e evolução pós operatória (Tabela-1).
Tabela 1 - Perfil dos pacientes.
Paciente
Sexo Idade |
1
M 39 |
2 M 85 |
3
F 67 |
Indicação da colostomia e estado clínico | CEC de canal anal avançado, invadindo reto, região inguinal e glúteo, tratado com RT e QT, HIV +, CD4 de 178, infecção por citomegalovirus e toxoplasmose | Câncer de reto avançado, irressecável obstrutivo, com múltiplas metástases hepáticas e desnutrição | Fístula reto-vaginal decorrente de câncer de colo uterino avançado, tratado com RT e QT, desnutrida, metástases hepáticas, hidronefrose esquerda e TVP em MIE tomando anticoagulante |
Tipo e local da colostomia | Em alça em cólon transverso | Em alça em cólon transverso | Em alça em cólon transverso |
Condições locais | Necrose distal com 8 cm de extensão | Necrose distal com 6 cm de extensão | Necrose distal com 5 cm de extensão |
Risco cirúrgico anestésico | Alto risco | Alto risco | Alto risco |
Tempo de procidência | 3 meses | 3 meses | 4 meses |
Evolução pós-operatória | Sexto mês de PO da correção da procidência sem complicações ou recidiva da mesma, mas com piora do tumor anal | Idem quanto a procidência, mas faleceu após três anos por carcinomatose originada do câncer de reto | Idem quanto a procidência, faleceu após trinta dias da cirurgia por trombo- embolismo pulmonar por TVP de MIE |
TVP= trombose venosa profunda. CEC=carcinoma espino-celular. RT= radioterapia. QT=quimioterapia. MIE=membro inferior esquerdo. HIV= vírus da AIDS. |
A técnica utilizada consiste no corte
longitudinal, com tesoura, da ponta do cone da alça
procidente, após a sua exteriorização máxima, e exposição
da serosa da alça interna e externa. (Figura-1)
Figura 1 - Corte longitudinal da ponta do cone da alça procidente com exposição da serosa das alças. |
Secciona-se longitudinalmente a parede externa preservando o mesocólon, até
aproximadamente 1,5 cm antes de sua inserção na pele, seguido
da ligadura escalonada do mesocólon rente à parede
da alça externa. (Figura-2)
Figura 2 - Incisão longitudinal da alça externa e ligadura do mesocólon. |
Realiza-se secção transversal da
parede externa, mantendo a distância de 1,5 cm da pele
em toda a circunferência. Após a secção transversal
total e liberação de todo o mesocólon da alça externa,
everte-se a alça com visibilização do mesocólon da
alça interna. (Figura-3)
Figura 3 - Secção transversal e eversão da alça externa. |
Tracionada a alça interna até seu ponto
fixo, liga-se o mesocólon da alça interna junto à parede
da mesma, até a altura da borda da alça externa que
foi seccionada anteriormente. (Figura-4)
Figura 4 - Ligado o mesocólon da alça interna. |
Segue-se com incisão longitudinal da
alça interna e posterior secção transversal de
pequenos segmentos, alternados com sutura da alça externa
e interna com pontos totais, seguindo toda a circunferência. Deve-se ter o cuidado de ligar antes
o mesocólon rente às paredes a serem ressecadas
e colocando-o para dentro da cavidade pelo espaço
entre as duas serosas. (Figura-5)
Figura 5 - Secção transversal da alça interna e anastomose. |
Ao final, com a sutura término-terminal
com pontos simples totais completada em toda a
circunferência e o mesocólon posto dentro da
cavidade, coloca-se a área de sutura para dentro do intróito
da colostomia. (Figura-6)
Figura 6 - Aspecto final da anastomose. |
Resultados
Dos três pacientes operados, dois eram do
sexo masculino. A média de idade foi de 63,6 anos
(39-85 anos). Todos eram portadores de transversostomia
em alça com procidência e necrose da boca distal.
Ambos foram operados na urgência e com alto risco
cirúrgico, sendo submetidos a ressecção da alça procidente
pela técnica de abordagem local, preservando o
mesocólon e sem atuar na parede abdominal.
A anestesia utilizada foi a raquidiana,
sem intercorrências.
O tempo médio de internação
pós-operatória foi de quatro dias, sem complicações cirúrgicas
e clínicas até a alta hospitalar. Todos os pacientes
fizeram seguimento ambulatorial, não se
observando complicações decorrentes da operação ou recidiva
da procidência. Dois pacientes foram a óbito, um após
três anos da correção da procidência, devido
a carcinomatose pelo câncer do reto avançado,
outro devido a tromboembolismo pulmonar no
30o pós-operatório da correção da procidência, decorrente
de trombose venosa profunda em membro inferior esquerdo, tendo como doença de base um câncer
de colo uterino avançado, e fístula reto-vaginal.
Um paciente encontra-se em acompanhamento
ambulatorial no sexto mês após correção cirúrgica da
procidência, sem recidiva, mas evolui com doença progressiva
do carcinoma epidermóide de canal anal, irressecável
e não responsivo a radioterapia e quimioterapia.
Discussão
A procidência de colostomia é
complicação comum em colostomizados, principalmente
nas colostomias em alça, variando de 2 a 22% na
literatura (1-3). Em alguns casos, a alça prolapsada evolui
com necrose distal, havendo então a necessidade de
ressecção cirúrgica.
6,7 Várias técnicas de correção de
procidência de colostomia foram descritas
4,5, devendo o cirurgião utilizar aquela mais adequada para cada
caso.
A técnica descrita neste trabalho propicia
um baixo trauma cirúrgico, devido a abordagem local,
sem necessidade de incisões na parede abdominal
ou rematuração do ostoma. Este procedimento
propicia também um baixo trauma anestésico, já que o sítio
de atuação é um local de pouca sensibilidade.
O grupo de pacientes estudados não
apresentou complicações imediatas e tardias decorrentes
da correção da procidência, sendo a técnica
utilizada eficiente e de baixa morbi-mortalidade.
A técnica por abordagem local com preservação do mesocólon sem atuar na
parede abdominal, tem ampla indicação para correção
de procidência de colostomia, sendo procedimento
de escolha para pacientes com alto risco clínico e
necrose distal da alça procidente.
Conclusão
A técnica de ressecção apenas com abordagem local para correção de procidência de colostomia, mostrou-se eficiente e de baixa morbi-mortalidade. Pode ser indicada nas correções das procidências de colostomia, sendo procedimento de escolha em pacientes de alto risco clínico e necrose distal da alça procidente.
SUMMARY: The colostomy prolapse is a common complication in patients with colostomy. In some cases we can find even necrosis of the loop stoma. The aim of this study is to describe the experience of the Departmment of Coloproctology at Heliópolis Hospital with the correction of prolapsed colostomy with a new local technique without accessing the abdominal wall. Three patients with prolapsed loop colostomy with limb ischemia who underwent surgical correction were studied, retrospectively, in the period between april 2001 and december 2003. We described the technical details and the results.
Key words: colostomy, prolapse, procidenti
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Endereço para Correspondência:
João Carlos Magi
Rua Paraíba, 717 - Centro
09521-070 - São Caetano do Sul (SP)
E-mail: jcmagi@hotmail.com
Trabalho realizado no Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis - São Paulo - SP.