RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA
Henrique Francisco de Souza e Souza - FSBCP
Idblan Carvalho de Albuquerque - ASBCP
Geanna Mara Lino e Silva de Resende Guerra - ASBCP
Marcus Fábio Magalhães Fonseca
Galdino José Sitonio Formiga - TSBCP
Souza hfs, albuquerque ic, guerra Gmlsr, fonseca mfm, formiga
Gjs. Angiomixoma Agressivo Perineal.
Relato de Caso e Revisão da Literatura. Rev bras
Coloproct, 2004; 24(4): 358-360.
RESUMO: O angiomixoma agressivo (AA) é um tumor mesenquimal, localizado principalmente na região pelve-perineal. Apresentamos o caso de um doente masculino, 43 anos, há um ano com nódulo perianal doloroso e de crescimento progressivo. Submetido a ressecção local com diagnóstico histopatológico de AA. Boa evolução no pós-operatório, sem sinais de recidiva no sexto mês de acompanhamento. O tratamento de escolha para o AA é a ressecção local. Alto índice de recidiva local é relatado no acompanhamento ambulatorial.
Unitermos: Angiomixoma agressivo, neoplasia, períneo
Introdução
O angiomixoma agressivo (AA) é um
tumor mesenquimal originário do tecido conjuntivo,
de crescimento lento e insidioso, mais comum no
sexo feminino e na quarta década de
vida.4 Freqüente na região pelve-perineal, porém eventualmente acomete
a região inguinal e escrotal.1
Stteper e Rosai, em 1983, descreveram-no
pela primeira vez em nove mulheres.2 Pouco mais de
130 casos de AA são descritos na literatura mundial.
O objetivo deste trabalho é relatar um caso de AA,
operado em nosso serviço, associado a revisão da literatura.
Relato do caso
L.C.A.O, 43 anos, masculino, há um ano
com tumor perianal de crescimento progressivo, associado
a dor local. Sem queixas urinárias ou proctológicas.
Ao exame, tumor em região perianal
direita com extensão para região glútea, de cerca de 8 cm
no seu maior diâmetro, indolor, de
consistência fibroelástica. Ultrassonografia perineal com
imagem nodular sólida de 6,5 x 5,4 x 4,8 cm. Tomografia
de pelve mostra imagem heterogênea de
contornos definidos com áreas de calcificação, medindo 10,5
x 9,0 x 4,5 cm, sem plano de clivagem com a raiz
do pênis (Figura-1).
Figura 1 _ CT de pelve - Tumor de limites bem definidos com áreas de calcificação (seta). |
Realizada ressecção local da lesão
cuja extensão alcançava a tuberosidade isquiática
na margem lateral externa, o músculo esfíncter
externo na margem lateral interna e a loja prostática
antero-superiormente. Os feixes musculares foram
aproximados com pontos de poligalactina 2-0 e
realizada drenagem de sucção e antibióticoterapia por sete
dias. O dreno foi retirado no 2º PO e o paciente
recebeu alta no 5º PO.
O diagnóstico anatomopatológico
evidenciou angiomixoma agressivo (Figura-2), com
estudo imunohistoquímico positivo para vimentina (V9),
CD 34 e negativo para desmina, proteína
S-100 (policlonal) e actina alfa de músculo liso (1A4).
O doente encontra-se no sexto mês de
acompanhamento ambulatorial, sem recidiva.
Figura 2 _ Microscopia óptica 100x - Extenso estroma mucinoso com hipocelularidade. |
Discussão
Em 1983, Steeper e Rosai publicaram o
relato de nove casos em mulheres com angiomixoma
agressivo.2 Desde então, pouco mais de 130 casos
foram descritos na literatura.
O AA é um tumor mesenquimal que freqüentemente se origina no tecido conjuntivo da
pelve ou do períneo, porém há relato desta
neoplasia originando-se da parede
retal.3 Predomina em adultos jovens, com maior incidência na quarta década de
vida. Quanto ao sexo, a relação mulher/homem alcança
a média de 6:1. 4
O crescimento deste tumor é lento e
insidioso e os sintomas são geralmente relacionados ao
seu crescimento, porém sem sintomas obstrutivos. A
dor não é freqüente, mas pode estar presente nas
lesões perineais, devido ao trauma. Pode ocorrer
hematoquesia, caso haja crescimento intra-luminal
com ulceração da mucosa.1
O exame físico evidencia massa
volumosa, geralmente com mais de 10 cm no maior diâmetro,
de consistência fibroelástica, de contornos regulares
e indolor. À USG perineal apresenta-se como
massa hipoecóica ou com aspecto cístico. Na
tomografia computadorizada geralmente é um tumor de
margens bem definidas, com menos atenuação que a
dos músculos e com plano de clivagem com as
estruturas vizinhas.5,6
O diagnóstico diferencial deve ser feito
com doenças que se apresentam como massa perineal
ou inguinal, tais como: abscesso vulvar, lipoma, cisto
de Bartholin, cisto do ducto de Gartner, tumores
anorretais, linfadenomegalia.1
A ressecção local com margens livres é
o tratamento de escolha, porém considerando a
íntima relação do tumor com importantes estruturas
genitourinárias e pélvicas, as ressecções são incompletas
na maioria das vezes, ocasionando alto índice de
recidiva que pode variar de 36% a 80%, a depender do
tempo de seguimento.1,4,7
A histologia do AA caracteriza-se por
extenso estroma mucinoso, relativa hipocelularidade e
baixo índice mitótico. O estudo imunohistoquímico
geralmente é positivo para vimentina e desmina, e
negativo para miosina e proteína S
100.2,4,7
A predominância do sexo feminino tem
sido associada à presença de receptores de estrógeno
e progesterona nos AA, inclusive com relato de
aumento significativo da tumoração durante a
gravidez.8,9
O seguimento prolongado com exame
clínico cuidadoso é necessário para detecção precoce
de recidiva, porém a realização de exames de imagem
não deve ser de rotina, apenas em casos sintomáticos ou
de suspeita de recidiva.1
SUMMARY: The aggressive angiomyxoma (AA) is a mesenchymal tumor arising from connective tissues of the perineum or pelvis. We present a case of 43 years old man with a perineal painful mass since one year, with slow growing. The local resection was made and the histopathology showed an AA. On the follow-up of six months there are no signs of recurrence. The best treatment is the local resection, but the high rate of recurrence is related to inadequate primary excision.
Key words: aggressive angiomyxoma, perineum, neoplasia
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Endereço para correspondência:
Galdino José Sitonio Formiga
Hospital Heliópolis - Serviço de Coloproctologia
Rua Cônego Xavier, 276 - Vila Heliópolis
04.231-030 - São Paulo (SP)
Tel (11) 274-7600 (Ramal 244)
Trabalho realizado no Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis, São Paulo, SP.
Recebido em 01/06/2004
Aceito para publicação em 13/01/2005