ARTIGOS ORIGINAIS
DOENÇAS ANAIS CONCOMITANTES À DOENÇA HEMORROIDÁRIA: REVISÃO DE 1.122 PACIENTES
Anal Diseases Associated to Hemorrhoids: Review of 1.122 Patients
Geraldo Magela Gomes da Cruz1; Jorge Luiz Santana2; Sandra Kely Alves de Almeida Santana2; Renata Magali Ribeiro Silluzio Ferreira3; Peterson Martins Neves3; Marina Neves Zerbini de Faria4
(1) Mestre, Doutor e Professor Titular de Coloproctologia, TSBCP, TFBG, TALACP, TCBC, TISUCRS, FASCRS; (2) Pós-graduandos lato sensu em Coloproctologia; (3) Assistentes do Grupo de Coloproctologia; (4) Estagiária Voluntária do Serviço de Coloproctologia
RESUMO: Em 34.000 pacientes coloproctológicos foi feito o diagnóstico de doença hemorroidária (DH), como doença coloproctológica principal, em 9.289 pacientes (27,3%), dos quais 1.122 (12,1%) eram portadores de doenças anais concomitantes à DH (DAC). Dos 9.289 portadores de DH, 2.417 foram operados de DH (26,0%) e destes, 729 foram operados, ao mesmo tempo, de DAC (30,2%). Assim, dos 1.122 portadores de DAC, 729 foram operados delas (65,0%). Em relação aos 9.289 portadores de DH, a DAC mais comum foi a fissura anal (541 casos, 5,8%), seguida de hipertrofia de papilas anais (312 casos, 3,4%), fístulas anais (117 casos, 1,3%), hipotonia anal com incontinência parcial (112 casos, 1,2%), condilomas anais acuminados (37 casos, 0,4%) e tumores anais (3 casos, 0,03%); e a mesma ordem foi verificada em relação às 1.122 DAC: fissura anal (48,2%), hipertrofia de papilas anais (27,8%), fístulas anais (10,4%), hipotonia anal com incontinência parcial (10,0%), condilomas anais acuminados (3,3%) e tumores anais (0,3%). Em relação à cirurgia, das 1.122 DAC 729 foram operadas (65,0%) nesta ordem: fissura anal (317 casos, 28,3%), hipertrofia de papilas anais (267 casos, 23,8%), fístulas anais (89 casos, 7,9%), hipotonia anal com incontinência parcial (31 casos, 2,8%), condilomas anais acuminados (22 casos, 1,9%) e tumores anais (3 casos 0,3%); e em relação às próprias DAC as incidências de cirurgias foram: tumor anal (100,0%), hipertrofia de papilas anais (85,6%), fístulas anais (76,0%), condilomas anais acuminados (59,6%), fissuras anais (58,6%) e hipotonia com incontinência anal parcial (25,8%). A confirmação dos diagnósticos das DAC pelo exame histopatológico foi de 72,8%, em ordem decrescente: condilomas anais e fístulas anais (100,0%), hipertrofia de papilas anais (79,0%), fissuras anais (68,5%) e tumores anais (66,7%).
Descritores: Doenças anais, hemorróidas.
INTRODUÇÃO
As hemorróidas são verdadeiros coxins de
tecido conjuntivo fibroelástico, ricos em
plexos vasculares e com múltiplas
anastomoses arteriovenosas, situados na submucosa da
região anorretal, que se comportam como uma
"almofada", ajudando na continência anal, permitindo a
chamada "oclusão anal de repouso"
1, 2, 8, 9, 11, 12, 13, 26, 28, 29, 30,
33. Do ponto de vista etiopatogênico, o
reconhecimento anatômico destes coxins reforça a teoria
do "deslizamento do assoalho anal" proposta por
Haas et al. 19, que explica a evolução das hemorróidas
ao longo das várias faixas etárias, com aparecimento
dos sintomas em virtude da perda de elasticidade e
da ruptura dos elementos estruturais de sustentação,
devido aos fatores involutivos naturais que, sob a
ação dos fatores desencadeantes de esforço,
facultariam o referido deslizamento. Devem ser salientados,
além destes fatores de sustentação, os fatores
vasculares e a micro-circulação dos plexos hemorroidários,
além da elevação da pressão máxima de repouso ao
nível do canal anal associada à presença de
hemorróidas, enfatizada por Santos 30.
Quanto à localização anatômica, a DH
pode ser classificada em "internas" (submucosa
anorretal acima do ligamento de Parks
27, recobertas por epitélio mucoso), "externas" (abaixo do ligamento de
Parks, recobertas por pele modificada do canal anal) e
"mistas" (extensões internas e externas). Quanto à
disposição em torno do canal anal - uma vez que os
dos vasos hemorroidários superiores seguem uma
distribuição anatômica bem definida na grande maioria
das pessoas, formando três "coxins" ou "mamilos"
mais volumosos ou principais ou primários, situados
na submucosa anorretal _ os mamilos ou coxins
distribuem-se nas posições lateral esquerda,
ântero-lateral direita e póstero-lateral direita (duas, cinco e
nove horas, em analogia aos ponteiros do relógio
afixado no períneo do paciente em posição genupeitoral)
8, 9, 13, 26, 28, 29, 30, 33.
A região perianal, o ânus, o canal anal e o
reto podem ser sedes de um sem número de doenças,
devendo estas regiões anatômicas ser examinadas
com detalhes, mesmo tendo sido encontrada a doença
mais comum ai existente: a doença hemorroidária
3, 5, 6, 8, 9, 15, 16, 17, 18, 22, 23, 24, 27, 30, 31, 32,
34. Isto, por que várias
doenças podem sediar tais regiões além da DH, somando
seus sintomas aos desta doença.
Doenças proctológicas que convivem com
a DH podem ser de várias naturezas, constituindo as
denominadas doenças anais concomitantes (DAC) à
DH. Elas podem ser classificadas de várias formas,
sendo uma boa classificação aquela que as diferencia
pelo próprio exame proctológico. Assim, podem ser
divididas em (a) doenças estáticas encontradas pelo
exame proctológico e (b) doenças encontradas à inspecção
e por manobras de esforço e que se exteriorizam
pelo ânus 8, 9, 11, 12, 26, 30.
Dentre as primeiras, as doenças
encontradas pelo exame proctológico (inspecção, toque retal
e anuscopia) podem ser citadas as seguintes DAC:
(1) lesões cutâneas28 (câncer de pele
perianal 7, 8, 9, 10, 11, 13, 22, 27, 28,
32, condilomas 3, 5, 7, 8, 9, 22, 28,
30, úlceras 7, 8, 9, 28,
dermatopatias 20, 21, 28, prurido
anal 8, 9, 28, proctites 12, 18, 22,
30 e destruição anal e perianal
8, 9, 11); (2) lesões da mucosa do canal anal (fissura
15, 18, 22, 27, 30, hipertrofia de papilas anais
15, 18, 22, 27, 30, criptite 15, 18, 22, 27,
30, proctite 15, 18, 22, 27, 30, câncer transicional
11, 13, 27, 22, 27, 32); (3) tumores duros subcutâneos (gânglios, nódulos
fibróticos, granulomas, hematomas, massas tumorais benignas
e malignas) 11, 13, 27, 22, 27, 32; (4) tumores macios
subcutâneos (abscessos, cistos, lipomas, hematomas)
11, 13, 27, 22, 27, 32; (5) infiltrações enduradas fazendo corpo com
a pele (doença de Crohn, hidroadenite supurativa,
infiltração carcinomatosa) 6, 8, 9, 10, 24, 27,
30; (6) lesões anorretais inespecíficas (doença de CROHN,
RCUI) 6, 8, 9, 10, 24, 27, 30; (7) lesões anorretais específicas
(tuberculose 20, 21, 27, 28, esquistossomose
20, 21, 27, 31, actino e blastomicose
16, amebíase 20, 21, 27,
31); (8) estenoses anais (por fissuras, cirúrgicas, carcinomatosas)
11, 13, 22, 27, 32; (9) orifícios e trajetos fistulosos
(fístulas perianais e anorretais, específicas e inespecíficas)
15, 17, 22, 27, 30; (10) anormalidades com o tônus
anal (hipertonia, hipotonia, atonia) 8, 9, 17, 20, 21, 26, 28,
30; (11) invasão do ânus e períneo por doenças que vêm
do reto (tumores retais); (12) comprometimento anal
de doenças sistêmicas (diabete, pênfigo, linfoma)
8, 9, 17, 20, 21, 26, 28, 30; e (13) doenças dermatológicas que
podem comprometer as regiões anal e perianal e
doenças intestinais que podem apresentar lesões
cutâneas próximas dessas regiões ou à distância (psoríase
com suas lesões mais eritematosas que escamosas
quando na região perianal e o eritema nodoso,
frequentemente em localização pré-tibial, que pode
acompanhar a retocolite ulcerativa) 20, 21,
28.
Dentre as doenças encontradas à inspecção
e por manobras apalpatórias e de esforço e que
se exteriorizam pelo ânus podem ser
consideradas: hemorróidas internas, prolapsos e procidências
retais, pólipos, papilas anais hipertrofiadas, tumores
vilosos prolapsados 7, 8, 9, 10, 12, 15, 17, 18, 22, 24, 27,
30.
É de fundamental importância a
identificação de tais ocorrências (doenças anais concomitantes
_ DAC), tanto por que podem ser doenças a serem
abordadas cirurgicamente antes da DH (e.g., câncer,
doença de Crohn) 7, 8, 9, 10, 12, 15, 17, 18, 22, 24, 27,
30, como doenças que devem ser abordadas clinicamente antes
da abordagem cirúrgica da DH (e.g., proctites
específicas e não específicas)
8, 9, 17, 20, 21, 26, 28, 30 e doenças
que podem ser abordadas em conjunto com a hemorroidectomia (e.g., fissuras anais, hipertrofia
de papila anal, estenose anal, fístula anal, condiloma
anal acuminado) 7, 8, 9, 10, 12, 15, 17, 18, 22, 24, 27,
30.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é estudar 1.122
pacientes que receberam diagnósticos de doenças
anais concomitantes (DAC) à doença hemorroidária
(DH), analisando dados epidemiológicos (idade e sexo),
e operadas em concomitância com a DH.
CASUÍSTICA: PACIENTES & MÉTODOS
Em 34.000 pacientes coloproctológicos foi
feito o diagnóstico de DH como doença
coloproctológica principal em 9.289 pacientes (27,3%) e destes,
1.122 apresentavam várias doenças anais
concomitantes (DAC) à DH (12,1%). Dos 9.289 pacientes
portadores de DH, 2.417 (26,0%) foram submetidos
à hemorroidectomia, dentre os quais, 729 eram
portadores de DAC. O material é constituído pelos 1.122
portadores e os 729 operados de DAC.
RESULTADOS
Incidência absoluta e relativa de
doenças anais concomitantes à doença
hemorroidária, diagnosticadas e operadas simultaneamente:
dos 34.000 pacientes atendidos 9.289 eram portadores
de DH (27,3%), 1.122 dos quais (12,1%) receberam
também diagnóstico de DAC; dos 9.289 portadores de
DH, 2.417 foram operados da DH (26,0%), entre os
quais 729 portadores de DAC (30,2%). Em relação aos
1.122 portadores de DAC à DH, os 729 operados
representam 65,0% (Tabela 1 e Figura 1).
Figura 1 - Figura ilustrativa de pacientes portadores de doença hemorroidária, de doenças anais concomitantes e de pacientes operados. |
Incidência das várias DAC
concomitantes à DH em relação à mesma e em relação às
DAC: dos 1.122 pacientes portadores de DAC à DH,
541 tinham fissura anal (5,8%), 312 tinham hipertrofia
de papilas anais (3,4%), 117 tinham fístula anal
(1,3%), 112 tinham hipotonia anal com incontinência fecal
parcial (1,2%), 37 tinham condilomas anais
acuminados (0,4%) e 3 tinham tumores perianais (0,03%)
(colunas A e B da Tabela 2 e Figura 2). Os
percentuais das várias DAC à DH em relação a elas próprias
foram 48,2% de fissuras anais, 27,8% de hipertrofia
de papilas anais, 10,4% de fístulas anais, 10,0% de
hipotonia com incontinência fecal parcial, 3,3% de
condilomas anais acuminados e 0,3% de tumores perianais)
(coluna C da Tabela 2 e Figura 2).
Figura 2 - Incidências de DAC diagnosticadas ao exame proctológico (1.122 casos) - fissura anal posterior (FAP), hipertrofia de papila anal (HPA), fístula perianal (FtPA), hipotonia esfincteriana (Hpo), condiloma anal acuminado (CAA) e tumor perianal (TPA) - , em relação aos pacientes portadores de doença hemorroidária, em números absolutos e percentuais e em relação às próprias doenças anais concomitantes. |
Incidência de dac à DH
diagnosticadas e operadas em relação a elas próprias e a
cada uma delas: 317 dos 541 casos de fissura anal
foram operados (58,6%), o que corresponde a 28,3% das
1.122 DAC diagnosticadas; 267 dos 312 casos de
hipertrofia de papilas anais foram operados (85,6%), o
que corresponde a 23,8% das 1.122 DAC
diagnosticadas; 89 dos 117 casos de fístulas anais foram
operados (76,0%), o que corresponde a 7,9% das 1.122
DAC diagnosticadas; 31 dos 112 casos de hipotonia anal
com incontinência fecal parcial foram operados (25,8%),
o que corresponde a 2,8% das 1.122 DAC diagnosticadas; 22 dos 37 casos de condilomas
anais acuminados foram operados (59,5%), o que corresponde a 1,9% das 1.122 DAC
diagnosticadas; os 3 casos de tumor perianal foram operados
(100,0%), o que corresponde a 0,3% das 1.122 DAC diagnosticadas
(Tabela 3 e Figura 3).
Figura 3 - Incidências de doenças anais concomitantes (DAC) diagnosticadas (1.122 casos) e incidência de DAC operadas (729 casos) - fissura anal posterior (FAP), hipertrofia de papila anal (HPA), fístula perianal (FtPA), hipotonia esfincteriana (Hpo), condiloma anal acuminado (CAA) e tumor perianal (TPA) . |
Incidência de DAC à DH
diagnosticadas e operadas em relação a elas próprias e a
cada uma delas: Dos 1.122 portadores de DAC, 729
foram operados, tendo o exame histopatológico
corroborado os diagnósticos proctológicos em 510 espécimes
cirúrgicos (72,8%), excluindo-se os 31 casos de
hipotonia anal, não passíveis de diagnóstico histopatológico:
dos 541 casos de fissura anal, 317 foram operadas e o
exame histopatológico corroborou o diagnóstico em
217 espécimes cirúrgicos (68,5%); dos 312 casos
de hipertrofia de papilas anais, 267 foram operadas e
o exame histopatológico corroborou o diagnóstico em
211 espécimes cirúrgicos (79,0%); dos 117 casos de
fístulas anais, 89 foram operados e em todos os casos o
exame histopatológico corroborou o diagnóstico (100,0%);
os 31 casos operados dos 112 casos de hipotonia esfincteriana com incontinência anal parcial não
são passíveis de diagnóstico histopatológico; dos 37
casos de condiloma acuminado, 22 foram operados e o
exame histopatológico corroborou o diagnóstico em
todos os 22 espécimes cirúrgicos (100,0%); os 3 casos
de tumor anal foram operados e o exame
histopatológico corroborou o diagnóstico em 2 espécimes
cirúrgicos (66,7%) (Tabela 4 e Figura
4).
Figura 4 - Incidência de doenças anais concomitantes à doença hemorroidária (DAC-DH) diagnosticadas (DAC-diagn) (colunas quadriculadas); incidência de DAC operadas e de peças enviadas para exame histopatológico (DAC-op) (colunas em xadrez); e incidência, em números absolutos e percentuais, de resultados positivos do EHP para a DAC de suspeita clínica (colunas lisas) (DAC c/EHP+ e %DAC c/EHP+); englobando, respectivamente cada uma das DAC - fissura anal posterior (FAP), hipertrofia de papila anal (HPA), fístula perianal (FtPA), hipotonia esfincteriana (Hpo), condiloma anal acuminado (CAA) e tumor perianal (TPA). |
DISCUSSÃO
Incidência absoluta e relativa de
doenças anais concomitantes à doença
hemorroidária, diagnosticadas e operadas
simultaneamente: há muita controvérsia sobre a epidemiologia da DH, e
trabalhos, os mais diversos, têm sido publicados com
referência ao estudo da incidência de DH na
população, e os dados têm sido conflitantes, com autores
estabelecendo incidências médias que vão de próximos a
4,4%, como Johanson et al 23 a 86% da humanidade,
conforme afirmado por Hass et al 19; e passando por
incidências em torno de 10%, como admitem Ganchrow et
al. 14 e Iwagaki et al. 22. Isto faz concluir existência
de metodologias completamente diversas, e que pode
eivar de erros conclusões precipitadas, pois vão desde a
denominação para a DH sintomática até achados
de necrópsias. Em estudo comparativo entre grupos
sintomáticos e assintomáticos, Hass et al. 19 relatam uma incidência bastante semelhante, com identificação
de hemorróidas em 88% no grupo sintomático (DH),
e 82% no grupo assintomático (submetido a
exame proctológico de rotina para rastreamento de
câncer colorretal ou por solicitação de outras clínicas).
No decurso de 38 anos de profissão com
prática totalmente centrada em Coloproctologia,
tivemos a oportunidade de formar um fichário constituído
de 34.000 pacientes, tendo feito diagnóstico de DH
como doença de fundo e motivo da consulta, portanto
sintomáticas, em 9.289 pacientes (27,32%) e operado
2.417 deles (Tabela 1 e Figura 1). Fica, destarte,
comprometida pelos variados parâmetros utilizados,
qualquer tentativa de comparação de nossos achados com
os achados dos autores relatados 16, 19, 22,
23.
Doenças anais concomitantes à DH
e abordagens cirúrgicas das mesmas: é comum
a associação de DH com outras doenças anais,
merecendo destaques as fissuras, além de outras
menos incidentes, como as papilites, as criptites, as
fístulas, os prolapsos, os condilomas e os pólipos.
Diagnósticos concomitantes ao diagnóstico da DH, por
ocasião do exame proctológico, como doenças
paralelas ou secundárias, foram feitos em 1.122
pacientes (12,1%) (Tabela 2, 3 e 4 e Figura 2, 3, e
4), destacando-se 541 (5,8%) casos de fissuras anais,
seguindo-se 312 (3,4%) casos de hipertrofia de papilas
anais, 117 (1,3%) casos de fístula anal, 112 (1,2%) casos
de hipotonia anal com incontinência parcial, 37
(0,4%) casos de condilomas anais acuminados e 3
(0,03%) de tumores perianais.
Na série de Ganchrow et al.17,
dos 2.038 pacientes operados de DH foi a seguinte a
incidência de DAC à DH: 26,9% (548 casos), dentre os
quais fissuras anais (344 casos, 16,9%), hipertrofia de
papilas anais (69 casos, 4,0%), fístulas anais (63 casos,
3,2%), prurido anal (26 casos, 1,3%), estenoses anais (22
casos, 1,1%), abscessos anais (13 casos, 0,6%), condilomas anais (6 casos, 0,3%) e doença pilonidal
(5 casos, 0,2%).
Entre os 2.417 pacientes operados de DH, 729 (30,1%) foram operados de outras doenças anais,
destacando-se 13,1% (317 pacientes) de fissura anal,
11,0% (267 pacientes) de hipertrofia de papilas anais,
3,7% (89 pacientes) de fístula anal, 1,3% (31 pacientes)
de hipotonia anal com incontinência anal parcial, 0,9%
(22 pacientes) de condilomas anais acuminados e 0,1%
(3 pacientes) de tumores anais malignos (Tabela 2, 3 e
4 e Figura 2, 3, e 4).
Na série de Ganchrow et al.17,
dos 2.038 pacientes operados de DH, 955 foram também
operados de DAC à DH (46,8%), assim distribuídas: fissura
anal (433 casos, 21,3%), fistulectomia (120 casos,
5,9%), papilectomia (50 casos, 2,4%), drenagem de
abscesso (21 casos, 1,0%), ressecção de doença pilonidal
(20 casos, 0,9%) e anoplastia (22 casos, 1,0%). Foram
feitas, ainda 244 anoplastias (12,0%), não visando
DAC, fato que diminui a incidência global de abordagens
cirúrgicas de DAC de 46,8% para 34,9%.
Comparando nossos achados (Tabela 2, 3 e 4 e Figura 2, 3, e
4) com os de Ganchrow et al. 17, no tocante às cirurgias de DAC à DH, subtraindo-se
as 244 anoplastias, verificamos o seguinte: 2.417
pacientes operados contra 2.038; operados de DAC 30,1%
contra 34,9%; operados de fissura anal 11,0% contra
21,3%); operados de hipertrofia de papilas anais 3,7%
contra 2,4%; operados de fístula anal 1,3% contra 5,9%;
não houve, na série de Ganchrow et al
17 casos de cirurgias em portadores de hipotonia anal com incontinência
anal parcial, de condilomas anais acuminados e de
tumores anais malignos; em contrapartida não houve em
nossa série pacientes operados de doença pilonidal,
estenoses anais e abscessos perianais. Verificamos, portanto,
apesar de semelhanças globais (30,1% contra 34,9%),
grande discrepância de incidência de cirurgias específicas
em DAC e DH entre nossas séries.
CONCLUSÕES
1. 12,1% dos portadores de DH tinham DAC (1.122).
2. 65,0% das DAC foram operadas (729).
3. 26,0% das DH foram operadas (2.417 em 9.289).
4. 30,2% dos operados de DH (2.417) foram
operados de DAC (729).
5. As DAC mais comuns foram a fissura anal
(541 casos, 5,8%) e a hipertrofia de papilas anais (312
casos, 3,4%).
6. 48,2% das DAC eram fissuras anais e 27,8%
eram hipertrofia de papilas anais.
7. As DAC mais operadas foram a fissura anal
(317 casos, 28,3%) e a hipertrofia de papilas anais (267
casos, 23,8%).
8. 100% dos tumores anais, 85,6% das hipertrofias
de papilas anais e 76,0% das fístulas anais foram
operadas.
9. A confirmação dos diagnósticos das DAC pelo
exame histopatológico foi de 72,8%, mais dos
condilomas anais e fístulas anais (100,0%) e das hipertrofias
de papilas anais (79,0%).
Key words: Hemorrhoids, Anal diseases.
Referências
1. Andrade Filho, J.S. Biópsias do ponto de vista do
patologista. In: Fonseca F.P., Savassi, PR. Cirurgia ambulatorial. 2a.
ed., Editora Guanabara Koogan, 196-200, 1987.
2. Bogliolo L. Patologia. 5ª ed. Rio de Janeiro: Ed.
Guanabara Koogan; 1994.
3. Brown DR, Bryan JT, Cramer H, Katz BP, Handy V,
Fife KH. Detection of multiple human
Papillomavirus types in condylomata acuminata from immunosuppressed patients.
J Infect Dis, 1994; 170(4):759-65.
4. Carneiro; LLR, Zerbini JC, Cruz GMG, Costa LMP, Silva
IG, Miranda SML, Teixeira RG, Minarrini J, Lanna D,
Júnior HNV, Lima MJR, Luz MMP, Pereira FSA, Silva GM,
Khouri RM, Oliveira KA e Marques ET). Exame histopatológico
de peças cirúrgicas de
hemorroidectomia. Rev Bras de Colo-proctologia, 19 - Suplemento 1, página 43, (1999).
5. Chu QD, Vezeridis MP, Libbey NP, Wanebo HJ.
Giant Condyloma Acuminatum (Buschke-Löwenstein Tumor) of
the Anorectal and Perianal Regions. Dis Colon Rectum,
1994; 37:950-7.
6. Congilosi SM, Madoff RD. Current Therapy for recurrent
and Extensive Anal Warts. Dis Colon Rectum, 1995; 38:1101-7.
7. Coper, P.H., Mills S.E. Allen, M.S. Malignant melanoma
of the anus: Report of 12 patients and analysis of 255
adicional cases. Dis. Colon Rectum, 25: 693, 1982.
8. Cruz gmg, Oliveira AT et Rodrigues JVL. Estudo
retrospectivo de 870 exames proctológicos em pacientes de área
metropolitana. Rev Bras de Coloproctologia, 16 (4), 200-205, 1996.
9. Cruz GMA, Oliveira AT, Rodrigues JVL.
Manifestações coloproctológicas em 42 pacientes portadores de síndrome
de imunodeficiência adquirida (AIDS). Rev Bras
de Coloproctologia, 17 (2), 105-116, 1997.
10. Cruz GMG, Silva IG, Teixeira RG, Andrade Filho JS,
Pena GPM. Melanoma retal: apresentação de três casos e revisão
da literatura. Rev Bras de Coloproctologia, 18 (3), 202-207, 1998.
11. Cruz GMG. Tumores Malignos do Anus e Canal Anal.
In: Castro LP, Rocha PRS, Carvalho DGT. Tópicos
em Gastroenterologia 3. Ed. MEDSI, Rio de Janeiro, 1992.
12. Cruz GMG. Papilites e Cripitites Anais. In: Cruz GMG.
Livro Texto "Coloproctologia", Volume II _ "Coloproctologia
_ Propedêutica Nosológica", Editora Revinter, Rio de
Janeiro, RJ, 1999. Vol II, parte VII, cap. 80, 1183 - 1186.
13. Cruz GMG. Tumores malignsos do Ânus e Canal Anal.
In: Cruz GMG. Livro Texto "Coloproctologia", Volume II
_ "Coloproctologia _ Propedêutica Nosológica",
Editora Revinter, Rio de Janeiro, RJ, 1999. Vol II, parte VII, cap.
81, 1187 - 1200.
14. Cunha AS. Parasitoses Intestinais. In: Dani R & Paula
Castro L, Gastroenterologia Clínica. Ed. Guanabara 3ª edição,
Ed. Guanabara, Rio de Janeiro, 1995.
15. Fillmann EEP, Fillmann LS. Fístulas Anorretoperineais.
In: Cruz GMG. Livro Texto "Coloproctologia", Volume II
_ "Coloproctologia _ Propedêutica Nosológica",
Editora Revinter, Rio de Janeiro, RJ, 1999. Vol II, parte VII, cap.
78, 1171 - 1176.
16. Fry, G.A. Martin, W.J., Dearing, W.H. Culp, C.E.
Primary actinomycosis of the rectum with multiple perianal and
perineal fistulae. Mayo Clinic Proc., 40: 296-259, 1985.
17. Ganchrow MI, Mazier WP, Friend WG et
a.l. Hemorrhoidectomy revisited _ a computer analysis of
2.038 cases. Dis Colon Rectum 1971; 14: 128-133.
18. Habr-Gama A & Bocchini SF. Criptites e Papilites. In:
Pinotti HW. Tratado de Clínica Cirúrgica do Aparelho
Digestivo. ATHENEU, São Paulo, 1994; cap.133:1102-03.
19. Haas P. A. and cols. - The pathogenesis of Hemorrhoids.
Diseases of the Colon and Rectum, 1984 July; vol 27 (7): 442-50.
20. Iglésias, JDF. Aspectos Médicos das Parasitoses Humanas.
1a ed. Rio de Janeiro: Ed. MEDSI, 1996.
21. Iglésias JDF. Exames Laboratoriais das
Doenças Infectocontagiosas e Parasiárias Anorretais. In: Cruz
GMG. Livro Texto "Coloproctologia", Volume I _
"Coloproctologia _ Propedêutica Geral", Editora Revinter, Rio de Janeiro,
RJ, 1998. Vol I, parte III, cap. 23, 258-274.
22. Iwagaki H, Higuchi Y, Fuchimoto S & Orita K. The
laser treatment of hemorrhoids: results of a study on 1816
patients. Jpn J Surg 1989; 19: 658-61.
23. Johanson JF, Rimm A. Optimal nonsurgical treatment
of hemorrhoids: a comparative analysis of Infrared
coagulation, Rubber Band ligation and Injection sclerotherapy. Am
J Gastroenterol, 1992; 87: 1600-1606.
24. Nahas P, Teixeira MG. Doença de Crohn Perineal. In:
Cruz GMG. Livro Texto "Coloproctologia", Volume II
_ "Coloproctologia _ Propedêutica Nosológica",
Editora Revinter, Rio de Janeiro, RJ, 1999. Vol II, parte VII, cap.
84, 1214 - 1216.
25. Neves DP. Parasitologia humana. 9ª ed. Rio de Janeiro:
Ed. Atheneu; 1995.
26. Nunes A. Exame anatomo-patológico das afecções do ânus
e canal anal. In: Cruz GMG. Livro Texto
"Coloproctologia", Volume I _ "Coloproctologia _ Propedêutica Geral",
Editora Revinter, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Vol, parte III, cap. 22,
255-257.
27. Parks AG. The surgical treatment of haemorrhoids. Br J
Surg 1956; 43: 337-351.
28. Pinto JM, Silva AP. In: Cruz GMG. Livro
Texto "Coloproctologia", Volume I _ "Coloproctologia
_ Propedêutica Geral", Editora Revinter, Rio de Janeiro,
RJ, 1998. Vol I, parte VI, cap. 43, 602 _ 611.
29. Rosai, J. Ackerman's Surgical Pathology.
8th Ed. Mosby, Cap. 11. 800-814 ,1995.
30. Santos HA. Doença Hemorroidária. In: Cruz GMG.
Livro Texto "Coloproctologia", Volume II _ "Coloproctologia
_ Propedêutica Nosológica", Editora Revinter, Rio de
Janeiro, RJ, 1999. Vol II, parte VIII, cap. 75, 1139 - 1156.
31. Shidham VB. A rapid, economical, and simple method
for concentration of Schistosoma
mansoni ova in feces. Am J Clin Pathol, 1991; 95:91-5.
32. Singh,R. Nime, R. Mittelman, A. Malignant epithelial
tumors of the anal canal. Cancer, 48: 411,1981.
33. Stevens, A. & Lowe, J. Patologia. 1a. ed. Editora
Manole, 513-519, 1996.
34. Wexner SD. Sexually transmitted diseases of the colon,
rectum and anus. Dis Colon Retum, 1990;1048-62.
Endereço para correspondência:
GERALDO MAGELA GOMES DA CRUZ
Rua Rio de Janeiro, 2017 / 1401
30160-042 - Belo Horizonte - Minas Gerais
Tel.: (31) 3222-8289
Recebido em 26/06/2006
Aceito para publicação em 14/08/2006
Trabalho realizado pelo Grupo de Coloproctologia da Santa Casa de Belo Horizonte & Disciplina de Coloproctologia da Faculdade de
Ciências Médicas de Minas Gerais.