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Exames funcionais na constipação

Artigo comentado pela Dra. Marleny Novaes Figueiredo de Araujo





The American Society of Colon and Rectal Surgeons Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Management of Constipation.
Paquette IM, Varma M, Ternent C, Melton-Meaux G, Rafferty JF, Feingold D, Steele SR.
Dis Colon Rectum. 2016 Jun;59(6):479-92. doi: 10.1097/DCR.0000000000000599


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O último guideline da ASCRS sobre avaliação e conduta na constipação intestinal é bastante recente, publicado na Diseases of the Colon & Rectum de junho de 2016.

A constipação intestinal, apesar de benigna, é uma condição que afeta uma importante parcela da população, em torno de 30%. É mais prevalente em mulheres e em pessoas acima dos 65 anos.

Este diagnóstico envolve tanto condições relacionadas à motilidade intestinal quanto ao processo de defecação. A constipação pode ser classificada em 3 subtipos: inércia colônica, constipação com trânsito normal ou disfunção do assoalho pélvico.

Os critério de Roma III são utilizados para o diagnóstico da constipação. Sua etiologia pode ser multifatorial, englobando: dieta pobre em fibras, uso de medicações, alterações metabólicas, alterações neurológicas, fatores psicossociais e fatores intrínsecos ao paciente, como mencionado nos subtipos acima.

Em relação ao papel de exames complementares no diagnóstico e manejo dos pacientes com constipação intestinal, vemos que há uma forte recomendação apesar de evidência de baixa qualidade (1C). Tais exames são indicados após uma tentativa inicial de tratamento da constipação com suplemento de fibras e após serem excluídas outras causas possíveis da constipação.

A manometria anorretal está indicada para o diagnóstico de distúrbios do assoalho pélvico. Com este exame obtemos dados sobre as pressões anais de repouso e contração/expulsão, sensibilidade retal, reflexo inibitório retoanal e  podemos realizar teste de expulsão de balão. Os principais achados relacionados ao diagnóstico de constipação por distúrbio de assoalho pélvico são hipertonia esfincteriana, baixa pressão de expulsão, sensibilidade retal alterada, relaxamento paradoxal ou não relaxamento do puborretal e incapacidade de expulsar o balão ao teste.

Apenas um exame com resultados anormais pode não ser suficiente para o diagnóstico e, também no caso de a manometria se mostrar inalterada, devemos proceder a investigação com Tempo de Trânsito Colônico (TTC). Este é um teste de fácil realização, baixo custo e pode trazer importantes informações.

Além da manometria anorretal, exames de imagem utilizando algum tipo de defecografia (cinedefecografia, defecorressonância ou ecodefecografia por USG) podem ser úteis para o diagnóstico de distúrbios do assoalho pélvico. Tais exames podem identificar retocele, enterocele, intussuscepção retoanal interna ou prolapso.

A cinedefecografia é um exame excelente por mimetizar o ato evacuatório, porém pode ser embaraçoso ao paciente e o expõe à radiação. Já a defecoRNM apresenta como vantagem fornecer também imagens dos órgãos do compartimento anterior da pelve, porém há ainda discussão sobre a interferência da posição supina em seus resultados. A ecodefecografia e um exame com alta sensibilidade e especificidade na avaliação das patologias acima mencionadas, porém seu uso ainda é limitado pela sua disponibilidade e número de operadores qualificados para realizar o exame.

 


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