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Robótica colorretal: para quem e como iniciar o treinamento?

Artigo comentado pelo Dr. Pedro Basílio





Comentários sobre o artigo: Expert consensus on a train-the-trainer curriculum for robotic colorectal surgery. Gomez Ruiz, S. Alfieri, T. Becker, M. Bergmann, U. Boggi, J. Collins, N. Figueiredo, I. Go€genur, K. Matzel, D. Miskovic, A. Parvaiz, J. Pratschke, J. Rivera Castellano, T. Qureshi, L. B. Svendsen, P. Tekkis and C. Vaz. Colorectal Disease 2019.  21,903-909
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Escolhi este artigo pois recentemente temos poucas publicações acerca de estabelecimento de programa de cirurgia robótica e para quem deve ser oferecido. As pesquisas nos sites das revistas mais importantes de nossa especialidade mostravam uma escassez de resultados recentes, de forma que este artigo me chamou atenção pois trata de como devem ser preparados os treinadores, os que vão treinar e certificar os cirurgiões que desejarem avançar pelo campo da cirurgia robótica colorretal.

Este é um estudo europeu publicado em março do ano passado (2019), reunindo 14 experts em ensino de cirurgia robótica, de diversos centros internacionais, onde foram distribuídos questionários e avaliadas as respostas que mostravam consenso em determinadas questões.

Os autores destacaram alguns pontos onde as respostas apresentavam um maior grau de consenso. Estes pontos se referem a quais características o cirurgião que vai treinar os demais colegas deve ter, e o que o ajuda mais a desempenhar esse papel.

São eles, experiência em tutoria com duplo console, treinamento da equipe de sala, treinamento para compreender o funcionamento do robô, segurança do paciente, interface usuário máquina e conhecimento de teletutoria.

Portanto o objetivo deste estudo é determinar quais seriam os fatores importantes numa normatização de treinamento para mentores de cirurgia robótica.A certificação na técnica cirúrgica robótica, infelizmente a meu ver, ficou sob a responsabilidade da empresa produtora da tecnologia e esta determinava o treinamento e a maneira de certificar os cirurgiões, com a exceção da European Academy of Robotic Colorectal Surgery (EARCS), the European Association of Urology/Robotic Urology Section (EAU/ERUS) que emitiam a certificação.Para que as sociedades médicas possam tomar pra si esta prerrogativa, é necessário que se estruturem neste quesito TTT, ou seja, “train the trainer” treinar o treinador. Para isso os protocolos de interface entre cirurgião e equipamento robótico deve ser muito bem explorados e entendidos pelos responsáveis, dentro de cada sociedade cirúrgica, em ensinar e treinar os cirurgiões em cirurgia robótica.

Portanto para identificar os pontos mais importantes para se elaborar esses protocolos de TTT, foram enviados questionários a experts europeus em cirurgia robótica para que cada um apontasse o que achava de importante.

Os questionários foram criados após vasta revisão de literatura, seguida de debate com os mentores que participariam do estudo como respondedores. Depois de atingido o consenso de quais perguntas seriam incluídas, os questionários foram enviados por três vezes, permitindo que o respondedor possa mudar de ideia baseado na resposta dos outros ou mesmo numa reflexão posterior. Sempre respeitando quais questões já teriam alcançado o consenso, avaliado por escore previamente escolhido.

Os itens onde o consenso ocorreu na primeira rodada do questionário foram: A necessidade de um curso para treinador (100%), todos devem cursá-lo (100%), deve haver uma prova após este curso (80% na segunda rodada). Os treinadores devem estar familiarizados com as evidencias para treinamento,  habilidades não técnicas (teoria), segurança do paciente, benefícios e desvantagens dos métodos e técnicas de treinamento ( treino em peça anatômica fixa e à fresco, modelo animal e cadáver, realidade virtual, treinamento on-line, módulos de treinamento e treino em sala operatória) 80 a 100% entre a primeira e terceira rodadas.

Concluíram também que as cirurgias devem ser dividas em diferentes tempos para facilitar o treinamento, obedecendo a conteúdo previsto em guidelines (93% primeira rodada), formalizar um contrato de treinamento com o aluno (100% primeira rodada). O treinador deve dar feedback do treino e adaptar a velocidade e características do treinamento ao desempenho e habilidade de cada aluno. (86%primeira rodada).

Também foi avaliado todo o conteúdo prático e teórico que deveria ser passado a todos os alunos e o que todos teriam que estar aptos a fazer após os cursos.

Este foi o primeiro estudo se adereçando a normatizar um curso para cirurgiões colorretais em cirurgia robótica e com isso homogeneizar o treinamento em todos os cursos da modalidade. Sendo assim todos aprenderiam da mesma forma obedecendo a protocolos criados e modelados pelos principais experts em cirurgia robótica colorretal na Europa.

Foi chamada atenção para que se maximizasse o treinamento em console duplo, assim que as outras etapas fossem concluídas, o que julgaram que permitiria uma formação mais completa e segura para os cirurgiões em treinamento, assim como preserva a segurança do paciente.

Com este protocolo definido, será ainda mais importante o treinamento dado por instrutores certificados por estes cursos de TTT, numa segunda onda de certificação que anteriormente era dada pela indústria.

Uma vez que as ressecções de reto caminham para uma indicação cada vez maior da abordagem robótica, faz todo o sentido que os experts assumam a responsabilidade do treinamento e certificação dos cirurgiões. Inclusive normatizando as técnicas cirúrgicas e as formas de treinamento.




 

 

 


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