OPINIÕES E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA


FISSURA ANAL

JÚLIO CÉSAR MONTEIRO DOS SANTOS JÚNIOR - TSBCP


SANTOS JÚNIOR J.C.M. - Fissura Anal. - Rev bras Coloproct, 2001; 21(2): 99-108.

RESUMO: A fissura anal é uma lesão proctológica comum e benigna que se manifesta como dor e sangramento às evacuações. Tem como fatores etiológicos o trauma e o distúrbio fisiológico do esfíncter anal interno, expresso pela hipertonia dessa musculatura.
   
Na sua forma aguda, em grande parte das vezes, pode ser curada com tratamento clínico, mas a forma crônica exige tratamento cirúrgico. Apesar da descoberta do efeito relaxador sobre o esfíncter anal interno de substâncias doadoras de óxido nítrico _ trinitroglicerina (TNG) e derivados _ e da sua aplicação tópica na terapêutica da fissura anal crônica (FAC) ter ganho o reconhecido entusiasmo de vários investigadores, os resultados de estudos prospectivos casualizados tem permitido observar que o tratamento de escolha para essa lesão benigna continua sendo a esfincterotomia anal interna (ELI).

Unitermos: fissura anal, esfincterotomia anal interna, distúrbio funcional do esfíncter anal interno.

O intestino grosso _ segmento final do tubo digestivo _ cumpre, entre várias funções fisiológicas, uma de caráter destacável desempenhada pela sua capacidade de preparar e reservar o resíduo da alimentação e produto do metabolismo bacteriano, para eliminação de acordo com as conveniências e convenções sócio-culturais do homem. No cumprimento dessa função de reservatório, que permite à espécie uma liberdade diferente das de outros animais, há a participação relevante do segmento ano-retal, mormente do primeiro, por meio de um sistema muscular sob o comando de receptores nervosos cutâneo-mucosos e musculares adjacentes, altamente refinados e de precisa sensibilidade.
    Por meio da integração desses receptores, ora localizados no revestimento mucoso do reto, na sua parede muscular ou cutânea do ânus e da participação do aparelho esfincteriano representado pelos esfíncteres anal externo (EAE) e anal interno (EAI) _ aquele de controle somático e este, autonômico _ há duas funções finais _ uma de desenvolvimento imediato (função defecatória) e outra, dependente do aprendizado (função de continência), cuja harmoniosa integração determina, em parte, o hábito intestinal em pessoa.
    Nesse conjunto de elementos _ reservatório retal, canal anal e complexo esfincteriano _ as partes desempenham funções que podem ser exclusiva de defecação, exclusiva de continência ou ambas. O funcionamento desarmônico das partes pode ser fator concorrente para o aparecimento de doenças anais, retais ou cólicas.
    O aumento de complacência retal pelo hábito obstinado de retenção fecal e o conseqüente aumento do limiar de sensibilidade para o reflexo da defecação são determinantes da constipação idiopática da criança e do megarreto denominado de psicogênico.
    No adulto, a inibição persistente do estímulo fisiológico da defecação pode contribuir para o aparecimento da constipação intestinal simples e suas mais comuns conseqüências. Esses dois exemplos da interferência voluntária sobre uma função fisiológica.
    As persistentes hipertomia ou contrações paradoxais do EAE, tanto nos adultos1-3 como em crianças4, quiçá do EAI, podem ser fatores que contribuem, também, de forma relevante para a constipação intestinal, cujas características clínicas fazem lembrar a doença de Hirschsprung5.
    A hipertomia do EAI, cuja causa é desconhecida, acompanhada de um reflexo anorretal anormal, encontrado em pacientes com fissura anal, tem sido considerada como fator etiológico e perpetuador dessa lesão6, com dados que, evidentemente, são controversos7,8. Desse modo, a dor, como conseqüência da fissura, não é a causadora do aumento de pressão do ânus dependente do EAI, cujo desarranjo funcional, provavelmente, poderia estar participando com o agente etiológico da lesão e a lesão como causa da dor.
    O reflexo paradoxal que pode ser registrado no canal anal das crianças com doença de Hischsprung é outro exemplo da participação do segmento ano-retal nos distúrbios funcionais do cólon. A constipação, nesses casos, é involuntária e está na dependência de um defeito congênito da inervação do segmento distal do intestino grosso, onde a sensibilidade está preservada e a motricidade prejudicada pela ausência dos neurônios do sistema nervoso parassimpático. Nessa doença, o EAI, ao contrário de relaxar, contrai quando o reto sofre distensão mecânica. O maior ou menor segmento desnervado impede a progressão do bolo fecal e a conseqüência imediata é a obstrução funcional com a posterior dilatação do cólon, logo acima da porção doente.
    As alterações observadas na doença de Hirschsprung e relacionadas às alterações morfológicas do sistema nervoso autonômico (predomínio da função simpática, inibindo a atividade motora do cólon e excitando o EAI) motivaram a invenção de técnicas cirúrgicas como foi a simpatectomia lombar com excisão de gânglios e ramos comunicantes, procedimento baseado fisiologicamente no conceito de Gaskell9, segundo o qual os impulsos eferentes do sistema simpático lombar são inibitórios para a musculatura do intestino grosso e motor para o esfíncter anal interno do ânus9.
    Os estudos experimentais decorrentes desse conceito ampliaram os conhecimentos a respeito da fisiologia ano-retal e o papel desse segmento na defecação e, sobretudo, na preservação da continência10.
    Os estudos sobre a fisiologia ano-retal perpetrados por Eugene Gaston11, em 1948, permitiram registros independentes de componentes somáticos e autonômicos do aparelho esfincteriano do ânus, com atividades motoras relacionadas a estímulos cólicos e retais. As conclusões sobre os resultados do elegante estudo de Gaston foram que "em pessoas normais, a continência anal é o resultado de uma fina coordenação entre o reto e o EAE, mediada por reflexos que envolvem tanto o sistema nervoso autônomo como o somático, provavelmente originado por receptores da mucosa (abolidos como o uso tópico de cocaína) e por outros mais profundos, da parede retal, formando um arco reflexo que não depende de centros cerebrais porque não são abolidos pela transeção da medula". A participação do EAI, nesse reflexo, é, invariavelmente, relaxamento ou dilatação ativa do canal anal preparando-o para a defecação. Em condições normais e de repouso, na ausência de estímulos retais, o EAI, participa na manutenção do fechamento anal contribuindo com maior gradiente de pressão do que os outros componentes do aparelho esfincteriano. Contudo, sob estímulos retais ou, sobretudo, anais que não necessitam do conhecimento da pessoa, o EAI dilata e persiste dilatado não contribuindo em nada para que o contrário ocorra, mesmo que uma ação voluntária de forte contração do EAE seja iniciada.
    O tono persistente do EAI está sob controle nervoso de alta complexidade, envolvendo vias motoras colinérgicas e a-adrenérgicas e vias inibitórias ß-adrenérgicas; vias não colinérgicas e não-adrenérgicas que também participam ou influenciam o reflexo desencadeado pela distensão da ampola retal.
    A inervação simpática do EAI, proveniente do 5º. segmento lombar, pelo nervo hipogástico, é, ao lado de um componente miogênico, responsável pelo tono persistente dessa musculatura lisa do EAI do homem, com campo elétrico, provoca seu relaxamento; efeito semelhante ao obtido pela estimulação extrínseca do nervo em tiras isoladas do músculo. Esse relaxamento pode ser abolido por neurotoxinas, mas não é abolido por antagonistas da aceticolina evidenciando a participação de neurotransmissores não adrenérgicos e não colinérgicos. Essa transmissão não adrenérgica e não colinérgica parece ser mediada pelo óxido nítrico. Essa resposta pode ser bloqueada quando se inibe a enzima que sintetiza o óxido nítrico. Além disso, tem-se demonstrado, por meio de estudo histoquímico, a consistencia da hipótese de que o óxido nítrico é, de fato, o neurotransmissor intermediário do reflexo anorretal.
    Estudando pacientes incontinentes, Alva e col. procuraram verificar a participação dos esfincteres anais para ver qual dos dois componentes musculares poderia ser responsabilizado pelo distúrbio dessa função. Concluíram que a pressão do canal anal dependente da atividade tônica do EAI esteve sempre presente, inclusive participando com resposta normal no reflexo da distenção do reto. Assim, foram claros ao concluírem que o EAI não podia ser responsabilizado pela incontinência independente de sua etiologia muscular ou neurológica.
    Estudos, dando ênfase à atividade reflexa de relaxamento do EAI quando se distende a ampola retal, foram feitos em crianças a termo e prematuras, desde 4 horas até 20 dias imediatos ao nascimento, com resultados semelhantes ao que se observa em crianças maiores e nos adultos normais, mas diferente do que já tinha observado com técnicas semelhantes aplicadas em crianças com doença de Hirschsprung que, aliás, sofrem da ausência de neurônios produtores de óxido nítrico.
    O assoalho muscular da pelve, o conjunto dos músculos retais que compõe o aparelho esfincteriano (musculatura lisa e estriada), o reto e o canal anal são estruturas integradas entre si e de atividade dinâmica. A musculatura do assoalho pélvico apresenta um tono continente mas de aspecto flutuante, de acordo com diferentes situações de postura do corpo.
    O EAI mantém atividade tônica durante o repouso e é responsável pela maior parte da pressão registrada no canal anal. Foi demonstrada, em estudos feitos em gatos anestesiados com nembutal, a atividade rítmica característica do EAI (12 contrações por min) que cessou com a distensão da ampola retal(1/3 médio do reto), mantendo um relaxamento persistente, em geral, precedido de um aumento transitório do tono. A retirada do estímulo do reto foi acompanhada do pronto restabelecimento da atividade contrátil do EAI. O reflexo é idêntico, do homem, mesmo em pessoas com anomalias neurológicas ou musculares da continência.
    A função da região ano-retal tem sido estimulada não só para maior entendimento da fisiologia da defecção e melhor conhecimento dos distúrbios da continência como para verificar sua associação com doenças ano-retais ou cólicas.
    Os aspectos funcionais que integram o reto, o ânus e o aparelho esfincteriano têm sido investigados, também, do ponto de vista da anatomia de suas musculaturas, realçando os papéis dos EAI e do EAE na defecção e do EAE na continência. Apesar da importância dada à continuidade desses elementos anatômicos (reto, canal anal, epitélio ano-retal e musculatura circunjacente) é importante salientar que a função dos esfíncteres se faz presente nos pacientes nos quais o reto foi cirurgicamente extirpado e o cólon anastomosado ao canal anal _ a adaptação ocorre e esses pacientes recuperam a função da continência que era dependente da presença do reto.
    A capacidade de adaptação do cólon abaixado à função de reservatório como o reto talvez possa ser explicada pela presença de receptores nos músculos circunjacentes e o reflexo, agora cólon-esfincteriano, persiste, por isso, preservado.
    No que diz respeito aos esfíncteres (EAI e EAE) e suas funções valem as seguintes conclusões:
a. O esfincter anal interno é responsável pelo maior contigente de pressão do canal anal (50 a 75% do valor da pressão registrada ao longo do canal anal é dependente do estado de contração do EAI)
b. O EAI tem participação ativa no reflexo reto-esfincteriano e relaxa imediatamente após a distenção do segmento colo-retal do intestino grosso, na dependência da presença de neurônios produtores de óxido nítrico, e assim permanece por período de tempo varável (de 10 a 40 segundos, de acordo com a intensidade do estímulo) voltando ao seu estado tônico, mesmo que o estímulo persista ou, ocasionalmente, permanecendo completamente relaxado, acompanhando o estímulo; ou pelo contato do conteúdo intestinal, sólido, líquido ou gasoso com a parte alta do epitélio do canal anal que é ricamente inervado e com sensibilidade altamente discriminativa
c. O EAI tem exclusiva participação na continência do tipo passiva ou seja nas situações em que o conteúdo retal vaza sem estimular mecanicamente a parede retal ou quando não há a percepção de contato com o epitélio do canal anal. Nesses casos, se houver defeito estrutural no esfincter anal interno a função de continência passiva fica prejudicada. Isso pode ocorrer nas lesões iatrogênicas do EAI (esfincterotomias amplas)
d. O EAI não tem nenhuma participação na continência ativa já que reflexamente ele relaxa ante qualquer estímulo de distensão colorretal. Além disso, pouca ou nenhuma alteração da função é notada quando se faz dilatação anal ou esfincterotomia anal interna limitadas.
e. O EAI tem importante participação no mecanismo da defecação como facilitador do ato de defecar.
f. O EAE é o maior responsável pela continência ativa, principalmente se considerarmos o músculo pubo-retal como um de seus componentes.
    Finalmente,
g. Qualquer alteração funcional dos esfíncteres anais (EAE e EAI) pode contribuir para aparecimento de doenças anorretais e/ou cólicas, tais como distúrbios da defecação e da continência, fissura anal, megarreto, constipação intestinal, etc.

Fissura Anal _ Diagnóstico, Etiopatogenia e Tratamento
Diagnóstico
A fissura anal é uma afecção distinguida por uma úlcera linear, muito dolorosa, situada no canal anal, indo desde imediatamente abaixo da linha pectínea até a borda do ânus, em geral, na linha média posterior42,43, embora possa, em 10% das vezes, quando se trata de mulheres, aparecer na linha média anterior42. Incide mais nos adultos jovens e tem distribuição semelhante entre os sexos.
    Pelas características das fibras sensitivas que inervam o epitélio do ânus, a dor, que é a principal manifestação dessa lesão, é do tipo afetiva.
    Apesar de comum, a fissura anal é muitas vezes negligenciada e os pacientes são indevidamente submetidos à instrumentação anal para o exame, o que lhes impõe desnecessário sofrimento, sem que seja feito o diagnóstico correto45.
    O diagnóstico inicial é uma suposição baseada na história clínica de dor que, em geral, surge no momento da defecação, acompanha o ato, e pode desaparecer logo depois, como costuma ocorrer quando a fissura é aguda, ou surge depois de alguns minutos ou horas após a passagem de fezes endurecidas e persiste por várias horas, como tem sido observado quando a fissura é crônica.
    A confirmação do diagnóstico é feita pelo exame físico que consiste do afastamento das nádegas e inspeção anal, estática e dinâmica, sem o toque ou a protoscopia, impossíveis por causa da dor.
    A fissura aguda é uma rágade superficial no anoderma, com bordas bem definidas.
    A fissura crônica, em geral associada com o plicoma sentinela, no limite externo do ânus, e com a papila anal hipertrofiada, no limite interno; tem as bordas endurecidas, são mais largas, sem tecido de granulação e com o fundo onde pode se ver fibrose ou as fibras do EAI.
    A diferenciação entre fissura aguda e crônica é interessante por causa do tratamento. Em geral, a fissura aguda cicatriza rapidamente (2 a 3 semanaas) com medidas conservadoras, como veremos adiante, ao contrário da fissura anal crônica que exige tratamento mais agressivo e demora mais para cicatrizar.

Diagnóstico Diferencial
Todas as doenças anais que se expressam por meio da dor devem ser consideradas no diagnóstico diferencial da fissura anal. Entre elas estão a criptite ou a papilite aguda, os abscessos perianais, a trombose hemorroidária, o hematoma perianal, as doenças de pele, em geral pruriginosas e provocadoras de rágades dolorosas, mas que, na maioria das vezes, não comprometem o anoderma e as fissuras secundárias às doenças anorretais inflamatórias específicas e inespecíficas.
    O exame proctológico executado sob efeito da sedação anestésica certamente permitirá o diagnóstico correto, lembrando que no caso das dermatoses é importante considerar que, em muitos casos, sua presença se deve à fissura. As alterações dermatológicas surgem como conseqüência do prurido anal decorrente da secreção produzida pela lesão do anoderma. Outros aspectos consideráveis são as lesões genuinamente dermatológicas, lignificadas, com rágades que se dispõem radialmente em relação ao ânus e que podem ser interpretadas como fissuras anais. A primeira pode ser erroneamente interpretada com dermatite e a fissura passa despercebida; a segunda, uma dermatose a ser tratada como fissura.
    Dentre as fissuras anais decorrentes de outras afecções coloproctológicas são destacáveis pelo seu significado mórbido as que se associam às doenças inflamatórias inespecíficas tais como a retocolite ulcerativa (RCU) e a doença de Crohn (DC).
    As fissuras anais que acompanham a RCU é dolorosa e têm como características o fato de, na maioria das vezes, situarem-se fora da linha média e de serem múltiplas. Além disso, são lesões secretoras, largas e rodeadas de tecido inflamado.
    Na DC, as fissuras são verdadeiras úlceras, bizarras, mais comuns na lateral, mas a metade delas é dolorosa e pode ocorrer na linha média posterior46,47. Não é incomum que a pele perianal tenha coloração avermelhada.
    As fissuras associadas às doenças inflamatórias específicas estão entre a sífilis e a tuberculose. Na sífilis a fissura é o cancro, na sua fase inicial e lembra, no aspecto, a fissura ordinária exceto pela excessiva rigidez das bordas, da associação com linfonodos aumentados, na região inguinal, e pela presença da lesão simétrica.
    A úlcera do ânus, na tuberculose, é lesão pouco comum, difícil de ser diferenciada da lesão vista na doença de Crohn. Ocupa posições incomuns para a fissura ordinária, é alargada e de bordas imprecisas.

Etiopatogenia
A base para o tratamento de uma doença está no conhecimento do agente etiológico e no mecanismo do seu desenvolvimento. Quando não se tem noção clara dos aspectos etiológicos e nem dos mecanismos pelos quais eles determinam a doença, o tratamento fica prejudicado. Isso ocorre, em parte, com a fissura anal crônica (FAC).
    Várias idéias têm sido elaboradas para explicar o aparecimento da fissura do anoderma, doença que tem a "extraordinária característica de ser única, com uma constante situação que é quase sempre a de ser localizada na linha média posterior do canal anal ou bem perto, de um lado ou do outro"42. A grande maioria das concepções concernentes à sua etiologia são, de fato, especulativas42, mas em todas elas o trauma tem sido citado como fator desencadeante, provavelmente baseado no que o paciente relata. A maioria deles relaciona o ferimento do canal anal à evacuação difícil de fezes endurecidas e anormalmente calibrosas. Estudo controlado feito por Jensen48 favorece, pelo menos em parte, a idéia de que a fissura anal pode ser decorrente de uma dieta inapropriada e que a adequação do hábito alimentar poderia contribuir para a diminuição de sua incidência. Por outro lado, aspecto de interesse que influencia as idéias a respeito da etiologia da fissura anal é o conhecimento de que muitas fissuras agudas podem ter cura espontânea, em um período curto de tempo, ou ter sua cicatrização acelerada por modificações no hábito alimentar capaz de produzir fezes macias e de fácil exoneração, mas muitas outras não se modificam espontaneamente e nem cicatrizam com as medidas que visam a apropriada modificação da consistência das fezes; elas tornam-se crônicas. Assim, dentro das especulações possíveis, caberia considerar que os fatores precipitantes da fissura podem ser muitos, mas o que a perpetua é a disfunção do esfíncter anal interno.
    O espasmo do esfíncter anal interno, notável em quase todos os pacientes com fissura anal crônica (FAC) e considerado como decorrente da dor, tem sido, dentro de uma idéia antiga49, apontado como o responsável pela persistência da lesão. De fato, a miosite desencadeada pela lesão inicial, o EAI dos pacientes com FAC tem sido considerado com degeneração fibróide e mais espáastico do que os dos pacientes sem a lesão50. Em alguns estudos, no entanto, não tem sido possível demonstrar diferença na intensidade de pressão registrada no canal anal de pessoas com FAC em comparação com os normais 38,51-53. Todavia, isso não é a observação da maioria que, ao contrário, tem demonstrado uma pressão anal de repouso significativamente mais elevada entre os pacientes com fissura do que nos controles normais55-64.
    Dentro desse conceito, na mesma direção, mas em sentido contrário, o que tem sido proposto é que o espasmo viria antes da lesão e não como conseqüência dela6,7, já que a aplicação de anestésico local não modificou a pressão de repouso do canal anal62 e, além disso, nos pacientes tratados conservadoramente há tendência, após a cura, da pressão do canal retornar aos valores observados antes do tratamento, com os pacientes permanecendo assintomáticos, mas mais susceptíveis à recidiva65.
    Outro aspecto importante implicando o EAI na gênese da FAC é sua anômala participação no reflexo anorretal, representado por espasmo persistente após um breve relaxamento6,65, fato não confirmado por Keck, em 195564. No entanto, atividades de pressão, em ondas ultralentas, têm sido registradas como ocorrência comum no canal anal de pessoas com FAC. Essas ondas de pressão são abolidas pela esfincterotomia64,66.
    Paralela à hipertrofia anal em razão da persistente atividade do EAI há, para explicar o aparecimento da fissura anal, a teoria da natureza isquêmica55.

Tratamento Clínico
Aceita-se, em geral, que o trauma é o fator precipitante da fissura anal. Portanto, a primeira medida, em se tratando de paciente com constipação intestinal, é recorrer às modificações alimentares que melhorem o funcionamento intestinal, isto é, que possibilitem evacuações suaves de fezes macias. Jensen48 verificando os fatores de risco para o desenvolvimento de fissura observou que a fissura anal, pelo menos parcialmente, resulta da dieta imprópria e que manipulação dos hábitos alimentares poderia reduzir a incidência da fissura. A dieta rica em fibras vegetais ou o uso de cereais integrais e o banho de assento com água quente foi mais efetivo no alívio da doença aguda e na subseqüente cicatrização da ferida do que o uso de pomadas ou cremes cujos princípios ativos foram anestésicos e antiinflamatórios68. Paralelamente, a ingestão de uma dieta rica em fibras foi capaz de prevenir a recidiva da fissura69.
    O tratamento conservador usando dieta modificada parece estar reservado para a fissura aguda com a ressalva de que, mesmo assim, é relativamente alta a percentagem de pacientes que necessitam ser posteriormente operados, como ocorre com os que têm fissura crônica65,70,71.
    A definição do papel do óxido nítrico na neurotransmissão não-adrenérgica e não colinérgica e sua participação no reflexo anorretal, provocando significativo relaxamento do EAI17-19,72-73, ensejaram a oportunidade de estudos do tratamento farmacológico da fissura anal, com nitratos exógenos que liberam, via metabolismo celular, o referido neurotransmissor74.
    A oportunidade desses estudos baseou-se no bloqueio farmacológico que o óxido nítrico exerce sofre a função do EAI, inibindo sua atividade, normal ou anormal, mantendo seu relaxamento para a necessária queda de pressão do canal anal, o desaparecimento da dor, o subseqüente restabelecimento do fluxo sangüíneo na área da fissura e, finalmente, a cicatrização da rágade. O uso sublingual de nitroglicerina, com indesejáveis efeitos colaterais, mostrou-se eficiente no relaxamento do EAI75.
    Dessa forma, iniciou-se uma nova era no tratamento clínico das doenças colo-anais devidas ao funcionamento anômalo do EAI, incluindo a fissura anal, com uso de doadores de óxido nítrico.
    Esses medicamentos _ principalmente a trinitroglicerina (TNG) e seus derivados e, menos comumente, os colinominéticos76 e os bloqueadores dos canais de cálcio76,77 _ são capazes de reduzir significativamente a pressão do canal anal, e, portanto, podem ser usados no tratamento alternativo da fissura anal crônica.
    O principal motivo para o tratamento da fissura anal crônica com doadores de óxido nítrico ou com os bloqueadores de canal de cálcio é, evitando a esfincterotomia cirúrgica, poupar o paciente de um inconveniente associado à secção de EAI, ocorrência raramente permanente, que é a incontinência anal. Essa iatrogenia tem sido referida com incidência de variação ampla, na literatura _ indo de zero78-80 ou desde incontinência dita temporária, com freqüência de 1,5% num estudo com 2108 pacientes submetidos a esfincterotomia lateral interna (ELI)81 , até a valores superiores a 30%82. Tão notável discrepância de resultados tem sido interpretada como sendo relatos de séries de pacientes não selecionados onde não se menciona em que extensão o esfincter foi seccionado _ fato relevante porque a maior ou menor incontinência após a esfincterotomia tem sido relacionada a menor ou maior extensão do esfincter seccionado83,84. Por outro lado, o grupo de pacientes com fissura anal crônica que não se beneficiaram com a ELI, quando submetidos à exame ultra-sonográfico endoanal, mostraram não ter efeito no EAI, mas possuíam seqüela no local do procedimento cirúrgico, sugestiva de secção inadvertida do EAE85.
    A despeito dessas considerações, o entusiasmo com a "esfincterotomia farmacológica" dá como produto uma quantidade grande de publicações referentes ao método, suficiente para se observar que se trata apenas de uma nova modalidade terapêutica, fácil de ser aplicada, porém de resultados demorados, com alto índice de efeitos colaterais e de sucesso variável.
    O tratamento da fissura anal crônica com TNG parece ser menos eficaz do que tem sido relatado86-88. A resolução da lesão foi completa em apenas 56% dos pacientes, no final de 6 semanas de tratamento, os efeitos colaterais foram de 78% e a recidiva 27%, embora em outros estudos a taxa de cura pôde atingir valores maiores (média de 70%)89. Contudo, na maioria deles os valores permanecem ao redor de 50%90-92, acrescentando-se o fato de que a diminuição do tono do esfíncter anal interno só é observada durante o período em que a medicação é topicamente aplicada e a perda desse efeito, ao término do tratamento, é, provavelmente, a grande razão para a recidiva da fissura87. O período de tratamento é longo. Iniciado em 19 pacientes, numa primeira fase com duração de 3 semanas, aplicou-se a pomada duas vezes ao dia (200mg/dose). No final da 3ª semana apenas 15 pacientes (79%) estavam participando. Um abandonou, outro sentiu dor de cabeça e o terceiro foi operado (esfincterotomia). Entre os 15, apenas 6 (40%) apresentaram cicatrização da fissura. Dentre os 9 com fissura persistente, 6 foram submetidos à esfincterotomia e os outros tiveram que prolongar o tratamento até 6 semanas para a cicatrização da fissura90.
    A duração do tratamento varia de 4 a 6 semanas e a dor, sintoma que mais incomoda o paciente, tem melhora considerada significativa somente a partir da 3ª semana de tratamento. A recidiva é, também, significativa. Lund e col.93 observaram recidiva em 5/33 pacientes (15%) tratados durante 6 semanas, logo após o término da terapêutica. A complicação, associada ao tratamento, mais comumente relatada é a cefaléia que chega a ser, em 10% dos pacientes, suficientemente intensa para provocar a interrupção do uso da TNG85.

Cirúrgico
O tratamento cirúrgico moderno da fissura anal foi reintroduzido no início da década de 50 por Eisennhammer94, mas notabilizado por Notaras95, a partir de 1971, que, com uma pequena modificação de técnica, tornou-o num dos mais elegantes procedimentos cirúrgicos orificiais.
    A técnica foi desenvolvida com base na crença de que um distúrbio funcional do EAI seria o fator de origem da fissura anal.
    Embora a quase totalidade dos autores americanos e europeus esteja de acordo que a fissura anal possa ser decorrente do trauma provocado no anoderma pela colisão de fezes endurecidas, todos concordam que a solução definitiva do problema, mais do que retirar o agente contundente, está em cortar o EAI (cirúrgica ou "farmacologicamente"), principalmente quando se trata de fissura crônica, no seu segmento que corresponde aos 2/3 mais inferiores do adenoderma, numa demonstração inequívoca de que o problema maior, na etiologia e manutenção da fissura, está no EAI39,40,42-44, 49,50,54-59, 61,63,72-77,83-96. No entanto, raros são os autores que não iniciam seus relatos a respeito da fissura anal com frases pessoais que expressam a idéia de que a causa da fissura anal crônica permanece desconhecida, mas poucos são os que discordam7,8,53 que o EAI, no ânus fendido, não seja hipertônico.
    A terapêutica cirúrgica da fissura anal, por meio da técnica de esfincterotomia lateral interna (ELI) traz, como resultado imediato, o alívio da dor; é, nesse aspecto, de tal modo efetiva que a fissura, em si, deixa de receber a devida atenção. A maior questão envolvendo a ELI está, não na sua capacidade de cura, mas na associação da eventual complicação que é a incontinência persistente.
    Os números que expressam a incidência da incontinência são muito variáveis _ em algumas publicações ascendem a valores próximos ou superiores a 30% _ quando são referidos à incapacidade para controlar os gases. Milito e col96, citados como uns dos autores que referem alta incidência de complicação pós-esfincterotomia, relatam de suas experiências com 117 pacientes com fissura anal crônica que foram operados, o seguinte: "imediato alívio da dor em todos 24 a 28 horas após a operação" (apesar do trauma cirúrgico). Incontinência temporária para a passagem de gases, em 38 pacientes (32,5%)". Não foram registradas outras complicações. Igualmente transitórias foram os 20% de incontinência para gases, mencionados por Boulos e col97.
    Numa investigação feita por meio de respostas a um questionário, Khubchandani e col.82 relatam que seus pacientes (829 de 1102 responderam o questionário) referiram distúrbios da continência, variando "de às vezes a freqüentemente", para gases (35%) ou com mancha na cueca ou calcinha (20%) ou passagem acidental de fezes (5,3%). A operação foi feita em 1335 pacientes entre os anos de 1980 e 1985 e o trabalho publicado em 1989. Não foi mencionado quando o questionário foi feito.
    É difícil simplesmente mencionar os dados referidos por Khubchandani e col.82,como, às vezes, de outros, não porque não sejam verdadeiros _ são, com certeza _ mas por carecerem de valor, pela forma como foram obtidos.
    Não temos conhecimento de um estudo em que os dados referentes à continência sejam devidamente explorados antes do tratamento. Perda acidental de fezes, em determinada circunstância, pode não expressar distúrbio da continência, assim como mancha na roupa íntima pode ser por uma questão de higiene.
    Temos o hábito, no consultório, de submeter os pacientes com doenças orificiais às seguintes perguntas: "Você tem dificuldade para reter os gases; em que circunstância e com que freqüência isso acontece? Sua cueca ou calcinha fica manchada; em que circunstância e com que freqüência isso acontece?". As respostas são variadas, evidentemente, de acordo com a característica do problema, mas o que é surpreendente é o número de pessoas que negam todas as questões acima e ao exame proctológico, principalmente quando feito nos que não vieram preparados para isso, podemos verificar que a pele perianal está suja de fezes. É pouco provável, mesmo acreditando na veracidade das respostas, que nessas pessoas, ao longo do dia, o suor da região não manche a cueca ou a calcinha. A meu ver, não é incomum que os que têm o hábito de fazer a higiene anal com papel, possam estar com a roupa íntima suja depois de algum tempo, principalmente no verão.
    Argov e col.81, representam o extremo oposto dessa questão. Analisando os resultados de 2.108 operações (esfincterotomia lateral interna, aberta) feitas no ambulatório, com anestesia local, os autores relatam o seguinte: 96% dos pacientes graduaram a operação como "de boa a excelente"; complicações temporárias, como incontinência para líquido ou gases, que desaparecem, no máximo em 3 meses, ocorreu em 1,5% dos pacientes; hematoma ou infecção da ferida (1%) e retenção urinária (0,5%) foram outras insignificantes complicações relatadas. O questionário foi feito por telefone para verificar os dados referidos por cada paciente e seu estado médico atual.
    Nahas e col.98, num estudo retrospectivo, fizeram análise de resultados de 220 pacientes operados por causa de fissura anal crônica. Oitenta e quatro por cento dos pacientes foram submetidos a EAI posterior, associada à fissurectomia. Os autores assinalaram uma incidência de 2,3% de complicações entre as quais não houve nenhum caso de incontinência. Trata-se de resultado expressivo mesmo considerando a possibilidade de eventual falha no canal anal, que comumente se associa a esfincterotomia posterior, contribuindo para maior índice de incontinência99.
    A incontinência como causa do tratamento da fissura anal está associada à técnica terapêutica aplicada e no caso da esfincterotomia anal interna relaciona-se ao maior ou menor segmento de esfincter seccionado84, opinião referendada pelos dados que foram obtidos de um estudo multicêntrico recente, onde os autores concluíram que a ELI é superior ao uso tópico de NTG, por ser um procedimento seguro, com alta taxa de sucesso, poucos efeitos colaterais e baixo risco de incontinência transitória, já que nesse estudo não houve nenhum caso de incontinência pós-esfincterotomia.
    Assim, eles elegeram a ELI, não só como sendo superior ao tratamento clínico com a NTG, mas, também, como o tratamento de escolha para a FAC100.
    A ELI, operação padrão nos USA para o tratamento da FAC, é um procedimento cirúrgico do menor porte que, em mãos hábeis, pode ser feito, com segurança, no ambulatório, propiciando imediata satisfação ao paciente com cura relatada entre 90 e 99%, dos casos101-106.

Conclusão
A fissura crônica é uma lesão anal comum em torno da qual há inúmeras controvérsias, sejam relacionadas à sua etiologia, sejam referentes à melhor forma de tratamento. Apesar disso, quanto à etiologia, os dados disponíveis na literatura médica reforçam a idéia de que a fissura anal crônica que segue a forma aguda, refratária ao tratamento conservador, é perpetuada por uma disfunção do esfincter anal interno e quanto ao tratamento, qualquer que seja ele, todos visam inibir a permanente contratura do esfincter anal interno, mantendo-o mais relaxado, por pouco tempo (TNG) ou por tempo prolongado (esfincterotomia). Quando os resultados dos dois métodos _ clínico e cirúrgico _ são comparados entre si, há nítidas vantagens para o cirúrgico, atualmente considerado o procedimento de escolha para a terapêutica definitiva da fissura anal crônica.

SUMMARY: Anal fissure is the most common benign anorectal lesion in which the chief symptoms are pain as sharp cutting sensation and minor bleeding with defecation. It is thought that it has as initiating risk factors the trauma and an inappropriate diet, but if the fissure proceed to and persist in a chronic state we might include as etiologic factors an abnormality in the internal anal sphincter (hypertonicity) that may contribute to the ischemia of the anoderma. Acute fissure may heal spontaneously, especially if the motion is soft and constipation is avoided. However, chronic anal fissure will require operation. Substances like nitroglycerin or other donator of nitric oxide acts as an inhibitory neurotransmitter causing relaxation of internal anal sphincter and it has been used to treat chronic anal fissure. Results of several controlled studies together with the high incidence of side-effects have discouraged the topical use of nitroglycerin as a substitute for surgery in chronic anal fissure. Lateral internal sphincterotomy is a minor procedure that in skill hands can be performed on outpatient department treating patients with fissure-in-ano. It seems that this operation will remain the gold standard treatment against every new method of treatment will be compared and judged81.

Key words: anal fissure, lateral internal sphincterotomy, internal anal sphinter hypertonicity.

Referências bibliográficas
1. Preston DM, Lennard-Jones. Anismus in chronic constipation. Dig Dis Sci; 30:413-18, 1985.
2. Read NW, Timms JM, Barfield LJ, et al. Impairment of defecation in Young women woth severe constipation. Gastroenterology; 90:53-60, 1986.
3. Shouler P. Keighley MRB. Changes in colorectal function in severe idiopathic chronic constipation. Gastroenterology; 90:414-20, 1986.
4. Loening-Baucke VA, Cruikshank BM. Abnormal defection dynamics in chronically constipated children with encopresis. J Pediatr; 108:562-66, 1986.
5. Lane RH. Clinical application of anorectal physiology. proc Roy Soc Med; 68:9-10, 1975.
6. Nothmann BJ, Shuster MM. Internal anal sphincter deragement with anal fissure. Gastroenteroly; 67:216-20, 1974.
7. Braun J, Raguse T. Zur athophysiologischen Rolle des inneren Analsphinkters bei der chronischen Analfissur. /
Pathophysiologic role of the internal anal sphincter in chronic anal fissure. Z Gastroenterol; 23:565-72, 1985.
8. Abacarian H, Lakshmanan S, Read DR, Roccaforte P. The role of internal sphincter in chro fissures. Dis Colon Rectum; 25:525-28, 1982.
9. Gaskell WH. The involuntary nervous system. (London), Longmans Green and Co., 178pp, 1920. Citado em Learmonth JR, Markowitz J. Studies on the function of the lumbar sympathetic outflow. Am J Phisiol(London); 89:686-691, 1929.
10. Learmonth JR, Markowitz J. Studies on the function of the lumbar sympathetic outflow. The relation of the lumbar sympathetic outflow to the sphincter ani internus. AMJ Physiol; 189:686-98, 1929.
11. Gaston EA. The physiology of fecal incontinence. Surg Gynecol Obst; 87:280-91, 1948.
12. Burleigh DE. Non-cholinergic, non-adrenergic inhibitory neurons in human internal anal sphincter. J Pharmacol; 35:258-60, 1983.
13. Garret JR, Howard ER. Effects of rectal distation on the internal anal sphincter of cats. Proc Physiol Soc (London); 85p, 1971.
14. Burleigh DE, D`Mello A, Parks AG. Response of isolated human internal anal esphincter to drugs and electrical field simulation. Gastroenterology; 77:484-90, 1979.
15. Paskins JR Clayden GS, Lawson JON. Some pharmacological responses of isolated internal esphicter strips from chronically constipated children. scand J Gastroenterol Suppl; 71:155-56, 1982.
16. Frenckner B, Ihre T. Influence of autonomic nerves in the internal anal sphincter in man Gut; 17:306-12, 1976.
17. Rattan S, Chakder S. Role of nitric oxide as a mediator of internal anal sphincter relaxation Am J Physiol; 262:G107-12, 1992.
18. Chakder S, Rattan S. Release of nitric oxide by activation of nonadrenergic noncholinergic neurons of internal anal sphincter. Am J Physiol; 264:G7-12, 1983.
19. O`Kelly TJ, Davies JR, Brading AF, Mortesen NJ. Distribution of nitric oxide synthase containing neurons is the rectal myenterec plexus and anal canal. Morphology evidence that nitric oxide mediates the recto-anal inhibitory reflex. Dis Colon Rectum; 37: 350-57, 1994.
20. Alva J? Medenloff AI, Hendrix TR et al. Studies of fecal incontinence by combined manometric electromyography techniques. Gastroenterology; 8:863- 1965
21. Alva J, Mendeloff A, Schuster :rv1M. Ref1ex and el~romyQgra-phy abnorma1ities associated with fecal incontinence. Gastroenterology;5 7: 101-106,1967 .
22. Verder H, Krasi1nikoff P A, Sheibel E. Anal tonometry in Jhe neonatal-period in mature and premature children. Acta Paed Scand;64:592-96, 1975.
23. Verder H, Johansen SK, Engbaek K. Anal tonometry -a diagnostic help in Hirschsprung's disease. Acta Paed Scand; 62:59-65, 1973.
24. F1oyd WF and Walls EW- Electromyography of the sphincter ani externum in man. J Physiol; 122:599-605,1953.
25. Parks AG, Porter NH, Melzak J. Experimental study of the ref1ex mechanism controlling the muscles ofthe pelvic f1oor. Dis Colon Rectum; 5:407-10~1962.
26. Loering:.Baucke V A. Anorectal manometry -experience with strain gauge pressure transducers for the diagnosis ofHirschsprung's disease. J Paed Surg; 18:595-600,1983.
27. Whitehead WE, Schuster :rv1M. Anorectal physiology and pathophysiology Am J Gastroenterol; 82: 487 -97-..l987 .
28. Shafik A. A new concept of the anatomy of the anal sphincter mechanism and physiolop;y fo defecation. The External Anal Sphincter~ A Triple-Loop System. Invest Urol; 12:412-19, 1975.
29. Shafik A A new concept of the anatomy of the anal sphincter mechanism and the physiology of defecation. II. Anatomy of the levator ani musc]e with special reference to puborectalis. Invest UroI; 13: 175-82, 1975.
30. Shafik A. A new concept of the anatomy of the anal sphincter mechanism and physiology of defecation. m. The longitudinal anal muscle: Anatomy and role in anal sphincter mechanism. Invest Urol; 13:271-77~ 1976. 
31. Shafik A A new concept of the anatomy of the anal sphincter mechanism and physiology fo defecation. IV Anatomy of the-perianal spaces- Invest Urol; 13:424-28. 1976.
32. Shafik A. A new concept of the anatomy of the anal sphincter mechanism and the physiolo%y of defecation v. The rectal neck Anatomy and function. Chir Gastroent~ 3 :319-336, 1977
33. Shafik A A new concept of the anatomy of the anal sphincter mechanism and the physiolo,BY of defecation. VI New clinic-patholoj!)cal entity in the genesis of anorectal suppuration. Med J Cairo University; 46: 105-13, 1978.
34. Shafik A A new concept of the anatomy of the anal s-phincter mechanism and the physiology of efecation. Am J Proctol Gastroentrol & Colon Rectal Surg; 30:25-35, 1979
35. Shafik A A new concept of the anatomy of the anal sphincter mechanism and tpe physiolo-EY of defecation. vm Levator hiatus an tunnel; anatomy and function. Dis Colon Rectum; 22:539-49, 1979.
36. Cherry DA, Rothenberger DA. Pelvic floor physiology. Surg Clin North Amer~68: 1217-230~ 1988.
37. Lane RH, Parks AG. Function of the anal sphincters folJowing colo-anal anastomosis Br J Surg;64:596-99. 1977
38. Bennett RC, Duthie HL. The functional importance of the intemal anal sphincter. Br J Surg;51:355-357,.1964.
39. Duthie HL, Watts JM. Contribution of esternal anal sphincter to the pressure zone in anal canal. Gut; 6: 179-82, 1965.
40. Schuster MM, Hendrix TR, Mendenoff AI. The internal anal sphincter response: manometric studies on its normal physiolo..gy, neura1 -pathways and a1teration in bowel disorders. J Clin Invest; 42: 195-208, 1963 .
41. Duthie HL, Bennett RC. The re1ation of sensation in the anal canal to the functional anal sphincter: a possible factor in anal continence. Gut;4: 179-182, 1963.
42. Goligher J. Anal fissure. In John Goligher ( ed) Surgery of the Anus Rectum and Co1on 5th Edtion Balliere Tindall (London);r50-166. 1984.
43. Gordon PH. Fissure-in-ano. In Philip H Gordon and Santhat Nivatvongs. PrincipIes and PractjceofSurgeryw 1he Colon, ~-1J.nd-Ân1lS. l!tEditOD QMP~199-219, 1992.
44. Bennett RC, Goligher JC. Results of internal sphincterotoy for anal fissure. BMJ; 2:1500-3,1962.
45. Pager E. Common Ailments of the Anorectal Region -Fissure-in-ano. In George E B1och anQ~ Mossa (.eds} OperariveCo1orectalBmgery- l!t Rnltlnn W—R S~]mner.s Co.; 397-401.1994-
46. Sweeney JL, Ritchie JK, Nichols RJ. Anal fissure in Crohn's disease. Br J Surg; 75:56- 57, 1988-
47. Fleshner PR, Schoetz DJ, Roberts PL, et al. Anal fissure in Crohn's disease: a plea for aggressive management. Dis Colon Rectum; 38: 1137-43, 1995-
48. Jensen SL. Diet and other risk factors for fissure-in-ano. Prospective case control study. Dis ColonRectum;31:770-73.., 1988.
49. Brodie BC. Lectures on diseases ofthe rectum: lecture m -pretematura1 contraction of the sphincter ani. London Medica1 Gazette; 16:26-31, 1835.
50. Brown AC—, Sumfest JM, Rozwadowski JV .Histophatology of intema1 anal sphincter in chronic ana1 fissure. Dis Colon Rectum;32:680-83, 1989.
51. Graham-Stewart CW-, Greenwood ~ Lloyd-Davies RW. A review of50 patients with fissure in ano. Surg Gynecol Obstet; 113:445-48, 1961.
52. Duthie, HL—, Bennett RC. Ana1 ~hincter pressure in fissure-in-ano. Surg Gynecol Obstet;I 19: 19-21, 1964.
53. Braun J, Raguse TH, Dohrenbush J. Pathogenetic aspects of chronic ana1 fissure. ColoproctoloN; 8:33-39,1986.
54. Hiltunen KM ; Matikainen M. Ana1 manometric eva1uation in ana1 fissure. Effect of anal dilatjon and lateral subcutaneous sphincterotomy. Acta Chir Scand, 152{-HD-):65- 68, r986.
55. Jostamdt L, Nitsche D, Lohnert M, et a1. Functiona1 pathomechanisrns of ana1 fissure. Lan?enbecks Arch Chir;368:97-103, 1986.
56. Chowcar NL, Araujo JGC, Boulos P. Intemal sphincterotomy for chronic anal fissure: LonF-term effects on ana1 pressure. Br J Surg ;73:915-16, 1986.
57. Shafik A A new concept of the anatomy of the anal cana1 sphincter mechanism and the physiolQgy of defecation. XXXI. `Strainodynia': an etio-patholo.gic study. J C1in Gastroenterol; 10: 179-84, 1988.
58. Lin JK. Anal manometric studies in hemorrhoids and anal fissures. Dis Colon Rectum; 32: 839-42, 1989.
59. McNamara MJ, Percy JP', Fíeldíng IR. A manometric study of ana1 fissure treated by subcutaneous latera1 intema1 sphincterotomy. Ann Sug; 211: 235-8, 1990.
60. Minguez M, Tomas-Ridocci M, Garcia A, Bena.F;es A. Pressure of the anal canal in patients with hemorrhoids or with anal fissure: Effect of the topical application of an anesthetic gel. Rev Esp Enfer Dig; 81: 103-7,,1992.
61. Farouk R, Duthie GS, MacGregor AB, Bartolo DC. Sustained internal sphincter hypertonia in patients with chronic anal fissure. Dis Colon Rectum; 37: 424-9 ,1994 .
62. Keck JO, Staniunas RJ, Coller JA,.et al. Computer-generated profiles ofthe anal cana1 
63. Gibbons CP, Read NW .Anal hypertonia in fissures: cause or effect? Br J Su~; 73 : 443-35, 1986.
64. Hiltunen KM, Matikainen M. Anal manometric evaluation in anal fissure. Effect ofanal in patients with anal fissure. Dis Colou Rectum;38:72-9, 1995.
65. Frezza EE, Sandei F, Leoni G, Biral M. Conservative and surgical treatment in acute and chronic anal fissure. A study on 308 patients. Int J Colorectal Dis; 7: 188-91. 1992.
66. Hancock BD. The intemal anal sphincter. Br J Surg;64:92-95, 1977.
67. Shouten WR, Briel JW , Auwerda JJA and De Graaf EFR Ischaemic nature of anal fissure. Br J Surg ;83:63-65, 1996.
68. Jensen SL. Treatment of first episodes of acute anal fissure: prospective randomize study of ljgnocaine ointment versus hydrocortisone ointment or warm baths plus bran. BMJ; 292: 1167-69.
69. Jensen SL. Maintenance therapy with unprocessed bran in prevention of acute anal fissure recurrence J R Soc Med; 80:296-98. 1987.
70. Lock MR, Thomson JP .Fissure-in-ano: the initial management and prognosis. Br J Surg; 64:355-58, 1977
71. McDonald P, Driscoll M, Nicholls RJ .The anal dilator in conservative management of acute anal fissures. Br J Surg; 70:25-6, 1983.
72. Hechtman HB-, Barlow C. Moderation of anal tone with nitric oxide agonists and antagonista. Arch Surg; 131:775-78,1996,
73. O'Kel!Y TJ. Nerves that ~y NO: a new perspective. on the human rectoanal inhibitory reflex. Arn R Coll Surg Engl; 78:31-8, 1996.
74. Fun,.8 HL. Clinical-pharmacolo~ oforganic nitrates. Arn J C~diol; 72:9-15C, 1993.
75. L `Hospital F, Michelland O, Launaud B, Bommelaere G. Constipation et hypertonia du spnhincter interne de l'annus: response sphincterienne a l'adrninistration sub'lin.guale de 0,40 mg de Natispray. Gastroenterol Clin BioI14:208, 1990.
76. Carapeti EA., Kamm MA., Evans BK, Phillips RK. Topical di1tiazem and bethanechol decrease anal sphincter pressure without side effects. Gut; 45:719-22, 1999
77. Bhard~ill R;,., Vaizey CJ—, Boulos PB—, Hoyle CH. Neuromyo~enic properties of the intemal anal sphincter: therapeutic rationale for anal fissures. Gut; 46:861-68,2000
78. Hawley PR. The treatment of chronic fissure-in-ano. A trial of methods. Br J Sur~; 56:915-18, 1969.
79. Rudd WWH. Lateral subcutaneous intemal sphincterotomy for chronic anal fissure, an outpatientprocedure. Dis Colon Rectum; 18:319-23,1975.
80. Viso Pons L, Beatobe MJ. Intemallateral sphincterotomy. Results. Rev Esp Enferm Dig;75:589-92. 198
81. Argov S, Levandovsky 0. Open lateral sphincterotomy is still the best treatment of chronic anal fissure. Arn J Sur~; 179:201-2-, 2000.
82. Khubchandani IT, Reed JF .Sequelae of intemal sphincterotomy for chronic fissure in ano. BrJ Surz76:431-34—, 1989.
83. David RG, Littlejohn MB, Newstead GL. Tailored lateral sphincterotomy for anal fissure. Dis Colon Rectum; 40:1439-42,1997
84. Garcia-Aguilar J, Belmonte Montes C. Perez JJ, et al. Incontinence after lateral intemal sphincterotomy: anatornic and functional evaluation. Dis Colon Rectum; 41:423- 7, 1998.
85. Farouk R, Duthie GS. `Failed' lateral intemal anal sphincterotomy for chronic anal fissure: a study using endoanal ultrasound. Gut; 36(su-ppll):A18, 1995.
86. Dorfman G, Levitt M, Platell C. Treatment of chronic anal fissure with topical glyceryl trinitrate. Dis ColonRectum; 42~1007-10~ 1999
87. Bacher H, Mischinger IU, Werkgartner G, et al. Local nitroglycerin for treatment of anal fissur:es: na altemative to lateral sphincterotomy? Dis Colon rectum; 40:840-45, 1997.
88. Hyman NH, Cataldo P A. Nitroglycerin ointment for anal fissures. Effective treatment or just a headache? Dis Colon rectum; 42:383-85. 1999,
89. Lund J, Scholefield J. A randomized, prospective, doubJe-blind, pJacebo-controlled trial of gJyceryl trinitrate ointment in treatment of anal fissure. Lancet;349: 11-14, 1997,
90. Watson JS, Kamm MA, Nicholls RJ, Phillips RKS. Topical gJyceryJ trinitrate in the treatment ofchronic anal fissure. Br J Surg;83: 771-75.1996,
91. Lund JN, Annitage NC, SchoJefiend rn. Use of gJyceryl trinitrate ointment in the treatment ofanal fissure. Br J Surg; 83:776-77~ 1996.
92. AJtomore DF, Rinaldi M, Milito G, et al. GJyceryl trinitrate for chronic anal fissure - healing or headache? Dis Colon Rectum;43: 174-81. 2000.
93. Lund JN, SchoJefieJd rn. GJyceryJ trinitrate is an effective treatment for anal fissure. Dis Colon Rectum; 40:468-70, 1997.
94. Eisenhammer S. The surical correction ofchronic anal (sphincteric) contracture. South Afr Med l; 25:486-89? 1951.
95. Notaras MJ. The treatment of anal fissure by lateral subcutaneous intemal sphincterotomy -A technique and results. Br J Surg; 58:96-100,1971.
96. Milito G, Arullani A, Brancaleone C, et aL Subcutaneous lateral intemal sphincterotomy in the treatment of chronic anal fissure. Ital J Surg Sci, 13:275-59, 1983.
97. Boulos PB, Araujo JG. Adequate intemal sphincterotomy for chronic anal fissure: subcutaneous or open technique? Br J Sur;g; 71:360-62. 1984
98. Nahas SC, Sobrado Jr CW, Araujo SE, et al. Chronic anal fissure: results of the surg;ical treatment of220 -patients. Rev Hos-p Clin Fac Med Sao Paulo; 52:246-9.., 1997.
99. Queidat D. A comparative study in anal fissure treatment. J Med Liban; 47: 164-8, 1999 
100. Richard CS, Gregoire R, Plewes EA. et al. Intemal s-phincterotomy is su-perior to to—pical nitroglycerin in the treatment of chronic anal fissure: results of a randornized, controlled trial by the Canadian Colbrectal Surgical Trials Grou-p. Dis ColonRectum; 43:1048-57, 2000.
101. Lewis TH, Corman ML, Prager ED, Robertson WG. Long-term results of open and closed sphincterotomy for anal fissure. Dis Colon Rectum;31:368-71, 1988,
102. Marby M, Alexander- Williams J, Buchmann P, et al. A randomized controlled trial to compare anal dilatation with lateral subcutaneous sphincterotomy. Ann Surg;212:235- 388,~990
103. Kortbeek JB, Langevin JM, Khoo 1ff, Heine JA Chronic fissure-in-ano: a randornized study comparing open and subcutaneous lateral intemal s-phincterotomy. Dis Colon Rectum;3 5: 835-3 7, 1992
104. Pemikoff BJ, Eisenstat TE, Rubin RJ, Oliver GC, Salvati EP. Reappraisal of partial lateral intemal sphincterotomy. Dis Colon Rectum;37: 1291-95, 199.
105. Oh C. Divino CM, Steinha.gen RM. Anal Fissure. 20-year experience. Dis Colon Rectum;38:378-82, 1995.
106. García-Aguilar ~, Belmonte C, Wong WD, Lowry AC, MadoffRD. Open vs. closed sphincterotomy for chronic anal fissure: lon.g-term results. Dis Colon Rectum; 39:440-43,1996

Endereço para correspondência:
Instituto de Medicina
Júlio César Monteiro dos Santos Júnior, TSBCP
Av. Presidente Vargas, 315
12515-320 _ Guaratinguetá, SP