RELATO DE CASO
FERNANDO ANTONIO FIGUEIREDO
DANILO AUGUSTO BARROS
LOTÁRIO HARRI ROESCH
RESUMO: Introdução - O linfoma primário de apêndice é uma patologia incomum. Sua apresentação, assim como em outros tumores deste órgão, geralmente simula quadro de apendicite aguda, sendo difícil seu diagnóstico clinico. Objetivo _ Relato de caso de paciente submetido a apendicectomia, cujo diagnóstico patológico foi de linfoma primário de apêndice cecal. Material e Método _ Paciente masculino, 41 anos com sintomas de abdome agudo inflamatório. Submetido à investigação clinica e exames complementares, sendo encaminhado à cirurgia com suspeita de apendicite aguda. Resultados _ O exame patológico diagnosticou linfoma de apêndice cecal. Após a alta hospitalar o paciente foi encaminhado para tratamento oncológico complementar. Conclusão _ Sendo um tumor de localização rara neste local, sua descrição na literatura é infreqüente, com os índices de sobrevida pouco discutidos. Porém, quando o tumor é restrito ao apêndice, sem comprometimento ganglionar e com tratamento complementar adequado, o prognóstico parece ser promissor.
Unitermos: linfoma de apêndice, apendicite aguda, tumor de apêndice, apêndice cecal.
INTRODUÇÃO
O achado operatório de tumor de apêndice
pode provocar dúvidas quanto à conduta a ser
adotada. Cirurgiões devem conhecer os tumores que
acometem o apêndice e a conduta frente a estes casos,
principalmente porque a maioria dos doentes apresenta
quadro clínico de apendicite aguda e é encaminhado a
cirurgia sem a suspeita de neoplasia 6
.
Entre os tumores malignos do apêndice
cecal, o linfoma é o mais raro 3 4 5.
Sua apresentação clinica, assim como
outros tumores do apêndice, sugere quadro de apendicite
aguda 4 5. Menos freqüentemente apresenta-se como
massa palpável em fossa ilíaca direita . A peritonite,
quando presente, é resultado da perfuração do órgão.
O diagnóstico clinico é extremamente difícil,
mesmo com o emprego de métodos de imagem
3.
Relatamos a seguir um caso de linfoma de apêndice cecal diagnosticado por exame
anatomopatológico de peça de apendicectomia.
RELATO DE CASO
Paciente masculino, 41 anos, foi atendido devido a dor abdominal em fossa ilíaca direita e
mal-estar com evolução de cinco dias. Negava diarréia
e/ou sintomas urinários. Sem emagrecimento.
Iniciou com quadro gripal havia duas
semanas e encontrava-se em uso de amoxacilina há quatro dias.
Portador crônico de hepatite B.
Ao exame: abdome normotenso, com
ruídos hidroaéreos (+), dolorido à palpação
profunda, plastrão palpável em fossa ilíaca direita e sinais
de irritação peritoneal. Sem evidencias de
adenomegalias. Exames laboratoriais sem alterações. Ecografia
com imagem tubular, hipoecogênica, fixa, medindo 7,0
x 3,2 X 3,1 cm relacionada ao apêndice cecal
aumentado de volume em quadrante inferior direito. Ausência
de liquido livre na cavidade. Sem outras alterações.
Com diagnóstico inicial de apendicite aguda
foi indicada a cirurgia. Recebeu profilaxia antibiótica
com cefazolina na indução anestésica que foi
mantida durante 24h. A abordagem à cavidade foi através
de incisão de Davis. O apêndice mostrava-se
endurecido, volumoso e necrosado. O exame
macroscópico revelou um apêndice cecal pardo-variegado,
apresentando depósitos de fibrina na serosa, medindo 8,0
cm de comprimento e 3,0 cm de diâmetro. O
exame anatomopatológico diagnosticou Linfoma maligno
não-Hodgkin `B' difuso de grandes células
(Real Classification), confirmado por estudo
imuno-histoquimico com os marcadores CD20 e Bcl-2 positivos.
O pós-operatório transcorreu sem
complicações e o paciente recebeu alta hospitalar no 4°dia.
A tomografia computadorizada de
tórax, abdome e pelve realizada após a alta, para
controle oncológico, foi normal.
Recebeu quimioterapia complementar de 4 ciclos (vincristina, ciclofosfamida, adriamicina
e prednisona) e radioterapia com 3600 cGy em 20 frações, abrangendo o leito cirúrgico no
quadrante inferior direito, via campos anterior, posterior e
lateral direito.
O paciente foi revisado 18 meses após
a cirurgia, apresentando-se assintomático e sem
sinais de recorrência tumoral.
DISCUSSÃO
A classificação histológica para
tumores malignos primários do apêndice cecal é
controversa. Os tipos histológicos mais comumente encontrados
são o carcinóide, o adenocarcinoma e o adenocarcinóide
6 . Os linfomas primários deste órgão são
extremamente raros 3 4 5.
Embora o envolvimento primário do
intestino ocorra em cerca de 4% de todos os casos de
linfoma, apenas 3% destes pacientes têm o
apêndice comprometido 4.
Schmutzer relatou 101 neoplasias em uma série de 8699 apendicectomias, sendo que 17%
foram classificadas como malignas e entre estas o
linfoma foi o segundo tipo histológico mais freqüente
4 . Collins descreveu 11 casos de linfoma primário em revisão
de 71000 apendicectomias, com incidência de 0,015%
4.
A grande maioria destes tumores é do tipo
não Hodgkin, podendo ocorrer em qualquer idade
e comprometendo mais o sexo masculino ².
A clinica freqüentemente é de dor em
fossa ilíaca direita, geralmente acompanhada de
irritação peritoneal. Menor número de pacientes apresentam
dor crônica ou massa palpável.
Devido à semelhança clinica com
apendicite aguda, o diagnóstico na grande maioria das vezes,
é realizado somente durante ou após a cirurgia.
Estudos de imagens pré-operatórios
incluem o enema opaco, ultra-sonografia e
tomografia computadorizada, porém nenhum é conclusivo para
o diagnóstico de linfoma ¹.
A cirurgia consiste da apendicectomia
em tumores restritos ao apêndice ou colectomia
direita quando há comprometimento ganglionar ou de
outros órgãos ³.
O tratamento complementar pode ser com quimioterapia, radioterapia, ou a combinação
de ambos, dependendo do tipo histológico e estagio
do tumor ².
Se o diagnóstico não for conclusivo com
a imuno-histoquimica, a analise molecular deve ser empregada
5.
Escassos relatos relativos à sobrevida
de pacientes com linfoma primário de apêndice
são discutidos na literatura ².
Porém, quando o tumor é restrito ao
apêndice, como neste paciente, e com tratamento
complementar adequado, o resultado deverá ser promissor.
SUMMARY: A case of primary B-cell lymphoma of the appendix in a 41-year-old male is being reported. Appendicectomy was performed as a result of the clinical diagnosis of acute appendicitis, due to the rebound tenderness of McBurney's point and thickness of the appendix wall as determined from echo sonograph. The pathological diagnosis of difuse large cell lymphoma was confirmed by immunohistochemistry.
Key words: Appendiceal lymphoma, Appendiceal neoplasms, Acute appendicitis, Vermiform appendix, Surgery
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Carpenter BW _ Lymphoma of the appendix.
Gastrointest Radiol,1991:16,256-58
2. Kitamura Y, Ohta T, Terada T _ Primary T-cell non
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Roentgenol. 1996 167: 1. 286
4. Mori M, Kusunoki T, Kikuchi M et al. _ Primary
malignant lymphma of the appendix. Jpn J
Surg 1985; 15:3. 230-3
5. Stewart RJ, Mirakhur M _ Primary malignant lymphoma
of the appendix. Ulster Med J 1986; 55:2. 186-7
6. Lopes Jr AG, Saqueti EE, Cardoso LT - Tumor do
Apêndice Vermiforme. Rev Col Bras Cir, 2001, 28: 228-9.
Endereço para Correspondência:
Fernando Antonio Figueiredo
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