ARTIGOS ORIGINAIS
STHELA MARIA MURAD REGADAS -TSBCP
FRANCISCO SÉRGIO PINHEIRO REGADAS -TSBCP
LUSMAR VERAS RODRIGUES -TSBCP
RUBENS DE WEIMAR CHAVES
CAMILA DE MELO MATOS LIMA
LIVIA ARIANE LOPES
RESUMO: O objetivo deste trabalho é demonstrar, de forma prática e objetiva, as limitações e enfatizar os detalhes técnicos do ultra-som endo-anal visando indicar adequadamente o exame e reduzir os erros no diagnóstico das afecções benignas e malignas no canal anal. O ultra-som é portanto um exame com limitações e dificuldades técnicas e sua eficácia relaciona-se com a correta indicação e experiência do examinador.
Unitermos: Ultra-som, Änus, Canal anal
INTRODUÇÃO
O ultra-som (US) bidimensional convencional com transdutor de 360°, rotatório com
comprimento focal de 2 a 5 cm e frequências de 7 a 10
mmHz desenvolvido para o exame anorretal
possibilita avaliação anatômica do canal anal, reto e
tecidos perianais e perirretais no plano axial com as
imagens projetadas radialmente ao eixo do
transdutor, visualizando as alterações em relação a
circunferência anorretal e a extensão lateral superficial dos
tecidos. Também pode localizar em relação a margem anal.
No entanto, não define o comprimento longitudinal
da lesão. Já, a ressonância nuclear mágnetica
(RNM) avalia nos três planos (axial, coronal e sagital) e
com desenvolvimento da bobina anorretal possibilita
a distinção das camadas da parede anorretal. Da
mesma forma, o ultra-som tridimensional, que a partir do
corte original axial produz a reconstituição volumétrica
em múltiplos planos (axial, sagital e coronal)
avaliando simultaneamente nas extensões transversal (radial)
e longitudinal, possibiltando até seis diferentes
e especializadas projeções, visualizando as alterações
em diferentes ângulos1,2. No entanto, as
informações obtidas a partir do ultra-som bidimensional
quando interpretadas associando aos achados clínicos
possibilitam orientar e/ou esclarecer o diagnóstico e a
escolha da terapêutica adequada.
O objetivo deste trabalho é demonstrar,
de forma prática e objetiva, as limitações e enfatizar
os detalhes técnicos do ultra-som endo-anal
visando indicar adequadamente o exame e reduzir os erros
no diagnóstico das afecções benignas e malignas no
canal anal.
Aspectos técnicos e anatômicos
do ultra-som do canal anal
O paciente é orientado realizar "fleet
enema" duas horas antes do exame pela possibilidade
de realizar-se simultaneamente o ultra-som do reto.
A posição mais freqüentemente utilizada é em
decúbito lateral esquerdo. No entanto, alguns autores
orientam a mudança de posição para o decúbito ventral
quando são visualizadas alterações na simetria da
musculatura esfincteriana, simulando lesão muscular. Esta
alteração pode ser atribuída à perda de contato acústico com
o transdutor no lado direito pela ação da gravidade
devido à posição lateral esquerda adotada. Também
possibilita melhor visualização do
períneo3,4. Durante o exame,
é possível alterar o ganho de imagem, definindo
e visualizando melhor os tecidos. É possível
intensificar o retorno do eco, fazendo aparecer mais evidente
a imagem hiperecoica (clara) no monitor, ou reduzir
o retorno do eco, tornando-se mais evidente a
imagem hipoecoica (escura). No canal anal, a camada
adjacente ao transdutor corresponde a
mucosa-submucosa (hiperecoica) que quando apresenta-se
espessada, sugere prolapso mucoso-hemorroidário nos
indivíduos sem neoplasia maligna no canal anal (Figura-1).
Os esfincteres anal interno (EAI) e externo (EAE) distribuem-se de forma circular no canal anal. Por
sua vez, o EAI é evidenciado no canal anal superior e
médio e o EAE no médio e inferior sendo dividido em
três partes (profunda, superficial e subcutânea). Já
o músculo pubo-retal (PR), no canal anal
superior, apresenta-se com a forma em "U", com suas
fibras contornando posteriormente o reto e
dirigindo-se lateralmente no sentido superior do monitor.
Dessa forma, o quadrante anterior apresenta-se
desprovido de fibras musculares. A presença de diferença
na espessura dos ramos do pubo-retal (assimetria)
pode ser devido a posição do transdutor, do paciente
(lateral esquerdo) ou variação anatômica. No entanto,
o examinador deve estar apto para reconhecer
lesão muscular, demonstrada através da mudança
na ecogenicidade do músculo no local lesado
(Figura-2a,b). É freqüentemente possível identificar-se
o músculo longitudinal que é visualizado como
delgada imagem hipoecoica localizada no espaço
inter-esfinctérico. Entre o EAI e o músculo
longitudinal, pode observar-se uma imagem
hiperecoica correspondente a tecido conjuntivo
(Figura-3). Também pode ser visualizado o músculo
transverso do períneo (TP) que corresponde a imagem
hipoecoica cruzando as fibras do EAE, na porção anterior,
e projetando-se na posição de 11 e 1 h (Figura-3).
Essa imagem interpondo-se entre as fibras do EAE
pode eventualmente dificultar a identificação da sua
borda lateral5 . O US quantifica com precisão a espessura
do EAI (varia de 1,5 a 4mm) pois este músculo
apresenta-se com contornos bem definidos. Por sua vez,
a espessura eleva-se com a idade, devido o aumento
do volume do músculo pela substituição de
fibras musculares funcionais por tecido fibroso,
tornando mais ecogênico e com a textura
não-homogênea6,7. No entanto, quando ultrapassa 3,5mm, principalmente
em pacientes jovens, pode ser considerado como hipertrofia. Ocorre em doenças raras como a
miopatia familiar e a displasia intestinal neuronal. Marshall
e cols associaram os achados de úlcera solitária
e hipertrofia do EAI com intussuscepção interna
alta8. Já a redução na sua espessura pode ser
evidenciada em pacientes incontinentes, na degeneração
primária do EAI e após anastomose
íleo-anal3,9 . Quanto ao EAE e PR, apresentam contornos
indefinidos, impossibilitando a identificação precisa dos
seus limites externos com relação ao tecido
adjacente (gordura perianal e ísquio-retal) pois ambos
emitem intensidade de ecos semelhante. Além disso, as
medidas do EAE pode estar incluindo o músculo
longitudinal, nos casos de dificuldade em identificá-lo
claramente. Há estudos comparando a precisão do US e da
RNM com bobina endo-retal em medir as espessuras musculares, constatando-se precisão nas medidas
de ambos os esfincteres anais com a
RNM10.
O exame também possibilita avaliar superficialmente o tecido peri-anorretal
(isquio-retal e supra-elevador) e o corpo perineal.
Figura 1 - Prolapso mucoso-hemorroidário-Espessamento da mucosa-submucosa ântero-lateral esquerdo (Imagem hiperecoica) AEI- Hipoecoico/ EAE-Ecogenicidade mista |
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Figura 2a - Assimetria do pubo-retal. Ramo lateral esquerdo com menor espessura. b - Lesão do pubo-retal lateral direito entre 6 e 9h. Mudança na ecogenicidade no local da lesão (setas) |
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Figura 3 - Músculo longitudinal (ML) no espaço inter-esfinctérico (Imagem hipoecoica) - Tecido conjuntivo (TC) entre o EAI e músculo longitudinal (imagem hiperecoica) - Transverso do períneo (TP) na projeção de 11 e 1 h e cruzando o EAE (hipoecoica). |
Incontinência Fecal
O US demonstra a extensão da lesão
em relação à circunferência anal, identifica o(s)
músculo(s) lesado(s) e diferencia a lesão parcial da
completa. Também avalia os resultados pós-operatórios.
As diferenças morfológicas entre os esfincteres anais
podem produzir interpretações
ultra-sonográficas diferentes entre examinadores ou até o diagnóstico
de falso positivo. Dentre essas, o comprimento do EAE
é menor no quadrante anterior, no sexo feminino.
Na porção profunda do EAE, suas fibras estão ausentes
anteriormente, sendo evidenciada circularmente na porção superficial e subcutânea do
músculo51,3,6,7,11,12. Essa assimetria observada pelo ultra-som
bidimensional, com imagem axial (circular), evidencia-se
pela ausência anatômica de fibras do EAE no
quadrante anterior na transição com o PB e na sua
porção profunda. Há sinais para diferenciar
ausência anatômica do EAE de lesão adquirida. Quando a
lesão muscular é adquirida, as bordas lesadas são
irregulares, visualizando-se imagem de ecogenicidade mista
entre elas, podendo encontrar-se em posição acima
e/ou abaixo de 1,5 cm da margem anal e estar associada
à lesão do EAI13,14 (Figura-4a,b). As
alterações anatômicas ocorridas após partos por via vaginal
e traduzidas pela presença de fibrose próximo à local
da episiotomia ou laceração perineal, podem
também dificultar a identificação da borda lateral do EAE e
a presença de lesão
parcial15. Já Frudinger e cols demonstraram redução na espessura do EAE
no quadrante anterior e espessamento nos
quadrantes laterais evidenciado no canal anal inferior
devido alterações no alinhamento da porção superficial
e subcutânea do EAE, associado ao espessamento
do músculo longitudinal possivelmente resultante
do estiramento durante o parto16 . Zetterström e
cols sugerem a medida do corpo perineal determinada
pela distância entre o dedo do examinador posicionado
na parede posterior da vagina e a superfície interna
do EAI e demonstraram que medidas abaixo de 10mm associam-se à lesão muscular (Figura-4b).
Relatam ainda que a presença do dedo na parede posterior
da vagina pode melhorar a visualização da porção
anterior do canal anal pois produz diferença na
impedância acústica dos tecidos, modificando o eco e tornando
a imagem correspondente à lesão mais hipoecoica, o
que possibilita identificar melhor a extremidade
dos músculos lesados
(hiperecoica)17. Já
Sudol-Szopinska preconiza que a pressão do dedo na vagina
também retifica o canal anal, modificando a posição do
raio obliquamente inclinado para a posição
perpendicular, resultando em ecos mais curtos e imagens
bem definidas18. Portanto, nas pacientes submetidas
a perineoplastia, essa avaliação pode ser
inconclusiva demonstrando medida do corpo perineal normal
mesmo na presença de lesão muscular já que
nesse procedimento é corrigido o septo ano-vaginal sem
o devido reparo de eventual lesão muscular
esfincteriana. Em relação ao quadrante posterior, o ligamento
ano-coccígeo pode produzir imagem hipoecoica no EAE
e simular lesão muscular3,19.20 (Figura-5). Rieger e
cols. demonstraram melhor visualização da
lesão esfincteriana durante a contração muscular em
62% dos casos21 embora Frindger e cols. mencionem
que não observaram qualquer
diferença4. Vários
estudos têm demonstrado elevada prevalência de
lesões musculares identificadas pelo ultra-som em
pacientes continentes ou com sintomas de incontinência
após parto vaginal. Por isso, o exame apresenta
elevada sensibilidade e especificidade para diagnosticar
lesão esfincteriana e baixa especificidade para
incontinência fecal22-24. Dessa forma, os pacientes com sintomas
de incontinência e diagnóstico de lesão muscular
devem ser adequadamente avaliados com relação ao tipo
do dano responsável pelos sintomas. O US pode
ser também utilizado no diagnóstico de lesão
muscular oculta em pacientes submetidas a parto
vaginal traumático e/ou procedimentos
cirúrgicos proctológicos com indicação para submeterem-se
a nova intervenção cirúrgica na região
ano-reto-perineal visando evitar dano
cumulativo25-29.
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Figura 4a - Ausência de EAE no quadrante anterior do canal anal médio (variação anatômica normal) b - Lesão completa do EAE no quadrante anterior, entre10 e 3h. associada a lesão do EAI entre 12 e3h (Bordas irregulares - setas). |
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Figura 5 - Ligamento ano-coccígeo- Imagem hipoecoica no quadrante posterior simulando lesão muscular (setas) |
Abscessos ano-retais
Quando a introdução do transdutor não
é tolerado pelo paciente mas o exame é importante para
a confirmação diagnóstica e planejamento do
tratamento, o US pode ser realizado sob sedação anestésica
ou durante o procedimento cirúrgico já que o aparelho
é facilmente transportável. Possibilita demonstrar
com clareza o tamanho e relação da cavidade do
abscesso com os músculos esfincterianos. Também
evidencia abscesso ainda em formação com diagnóstico
duvidoso ao exame proctológico. Nos casos de dor
ano-retal persistente com suspeita clínica de
abscessos submucosos, intermuscular alto e pelve-retal,
faz-se necessário avaliação ultra-sonográfica do reto e
tecido perirretal. A técnica desse exame consiste
no posicionamento de um balão ou outro dispositivo
em torno do transdutor, insuflando-o com água
destilada, possibilitando desta maneira o contato do transdutor
com as paredes do reto. Dessa forma, os abscessos submucosos ou intermuscular alto são identificados
em 100% dos casos (Figura-6). Possibilita ainda a
realização da drenagem com agulha orientada pelo US e
seguimento após o tratamento instituído, seja clínico ou
cirúrgico30,31. Já no abscesso pelve-retal, a
tomografia computadorizada (TC) constitui-se no exame de
escolha para avaliação de sua extensão na
pelve32,33. No entanto, o US pode ser útil na identificação de sua relação com
a parede do reto (Figura-7).
Pode não ser possível a visualização do
limite lateral do abscesso isquio-retal ou toda sua
extensão através do US quando localizado profundamente,
além da penetração do transdutor. O exame pode
ser inconclusivo na síndrome de Fournier devido
à destruição excessiva dos músculos com formação
de tecido fibrótico.
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Figura 6 - Abscesso submucoso (imagem hipoecoica entre a muscular da mucosa e submucosa do quadrante lateral direito). |
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Figura 7 - Abscesso pélvico (Imagem hipoecoica anterior sem envolvimento da parede do reto). Não é possivel visualizar os limites superior e laterais |
Fístulas ano-retais
É importante a identificação de coleção
adjacente, orifício interno, trajeto primário e/ou
secundário(s), e avaliação da integridade anatômica
dos músculos, sobretudo nas fístulas
complexas, possibilitando orientar o tratamento cirúrgico
no sentido de reduzir os riscos de recidiva e
incontinência fecal. Os estudos demonstram que 20 a 30%
das recidivas ocorrem devido a não identificação
do(s) trajeto(s) secundário(s) e
32 a 53 % do orifício
interno34-36. O trajeto fistuloso é
ecograficamente representado por imagem hipoecoica. Essa
imagem localiza-se ao lado do EAI na fístula inter-esfinctérica
ou cruzando o EAE na fístula
trans-esfinctérica (Figura-8a,b). Em geral, não é possível diferenciar
o trajeto primário de um
secundário37. É importante
o ultra-sonografista estar atento em diferenciar o
músculo longitudinal de um trajeto fistuloso
inter-esfinctérico (Figura-9a,b). Já na identificação do orifício
fistuloso interno foram propostos critérios, tais como
imagem hipoecoica na mucosa-submucosa, correspondendo
a sua completa rotura; imagem hipoecoica inter-esfinctérica (entre um trajeto fistuloso
inter-esfinctérico e o EAI) e defeito no esfíncter anal interno (na
ausência de esfincterotomia prévia) (Figura-8b).
Baseando-se nestes critérios, a identificação tem sido eficaz
em 80,0% dos casos37,38. Nas fístulas
extra-esfinctéricas, a identificação do orificio interno no reto só é
possível utilizando-se a técnica do US endo-retal. O
orificio interno é identificado com maior precisão
utilizando-se a freqüência de 10 MHz pois proporciona
menor distância focal (penetração superficial)
33. Na tentativa de identificar melhor os trajetos fistulosos,
orifício interno e cavidades adjacentes, são
utilizados contrastes. A solução é injetada através de um
cateter fino de polietileno introduzido pelo orificio
externo. O exame deve ser realizado antes e após a injeção
do contraste quando normalmente o trajeto e/ou
cavidade são melhor visualizados, confirmando os
achados anteriores e/ou demonstrando outras alterações
(Figura-9a, b). Cheon e cols utilizaram água oxigenada
e observaram que as imagens anteriormente
hipoecoicas passam a ser hiperecoicas devido ao aumento
da ecogenicidade provocada pelas bolhas de ar, melhorando a eficácia do
exame39. Navarro-Luna e cols sugeriram a introdução de água oxigenada em
duas etapas; injeção inicial pequena de um ml, seguida
de injeção sob pressão, demonstrando
excelentes resultados na identificação de trajetos
fistulosos primário e secundário, orifício fistuloso interno
e cavidades crônicas40. Di Nardo e cols.
injetaram solução salina pelo orifício fistuloso e realizaram
US com doppler colorido, demonstrando semelhança
nos achados operatórios em todos os
casos41. Chew e cols. propuseram o uso do contraste
LevovistÒ que consiste de microparticulas de galactose e ácido
palmítico. Demonstraram melhores resultados ao comparar
com o exame clínico e o US sem
contraste42.
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Figura 8 a - Desenho esquemático da fístula trans-esfinctérica. Linha tracejada-corresponde ao local do corte transversal no US. b - Fístula trans-esfinctérica ântero-lateral direita. Imagem hipoecoica-cavidade lateral ao EAE.Trajeto Trans-esfinctérico (imagem hipoecoica cruzando o EAE e EAI). Orifício fistuloso às 12h. |
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Figura 9 - Fístula inter-esfinctérica. a - Imagem hipoecoica entre o EAE e EAI (sem H2O2). b - Imagem hiperecoica após injeção de H2O2 confirmando os achados (a), diferenciando do m. longitudinal. |
Existe maior dificuldade nas fístulas supra
e extra-esfinctéricas. Também na interpretação
de imagens em portadores de sepse prévia ou,
reoperações devido ampla destruição anatômica
requerendo experiência do ultra-sonografista. Quando o US
for inconclusivo, a RNM (bobina endo-retal) é o
exame de escolha. Quando comparados o US e RNM com
os achados operatórios, os resultados demonstraram
que a RNM foi superior na identificação de
fistulas complicadas como a extra-esfinctérica e em
trajeto secundário. Já os resultados foram semelhantes
na identificação de trajeto primário em 86%,
orifício fistuloso interno em 80%, fístula em ferradura
em 94%43.
Na fístula ano-reto-vaginal, a avaliação
ultra-sonográfica pode evidenciar o trajeto fistuloso
mas principalmente avaliar a integridade anatômica
dos músculos esfincterianos visando melhor
planejamento do tratamento cirúrgico para reduzir os riscos
de recidiva e incontinência
fecal44,45. O trajeto fistuloso
é evidenciado por imagem hipoecoica cruzando o
canal anal e/ou reto em direção a vagina
Neoplasia maligna do canal anal
O US é importante no estadiamento
dos tumores malignos no canal anal no que concerne
à invasão da musculatura esfincteriana e
tecidos adjacentes, tornando-se parâmetro para
seguimento após o tratamento com quimio e
radioterapia46,47. Estudo multicêntrico demonstrou o elevado valor
prognóstico do estadiamento ultra-sonógrafico dos tumores no
canal anal quando comparado com sistema de estadiamento
clínico baseado no tamanho da
lesão48. A
avaliação ultra-sonográfica do resultado do tratamento com
radio e quimioterapaia deve ser realizada entre 8 a
16 semanas, podendo estender-se até 20 semanas,
período em que está ocorrendo a regressão do edema e
fibrose decorrentes da radioterapia47. Os exames devem
ser realizados rotineiramente no seguimento
pós-tratamento pois não é isoladamente eficaz no diagnóstico
diferencial entre tumor residual e fibrose pós-radioterapia.
No entanto, a seqüência de exames pode
orientar adequadamente. As imagens evidenciadas nos
exames de seguimento assemelham-se a lesão tumoral
pré-tratamento mas os exames successivos demonstrarão
a redução e desaparecimento destas imagens,
traduzidas pela regressão do processo inflamatório/fibrótico
e diferindo de lesão tumoral residual pois, nesta
situação, as imagens permaneceriam com o mesmo tamanho
ou ainda maiores. (Figura-10a,b,c). Os exames
periódicos de controle possiblitarão o diagnóstico precoce
de recidiva tumoral antes de identificadas pelo
exame clínico, evitando biopsias excisionais
desnecessárias49,50. Quando da suspeita de lesão residual
ou recidiva pode orientar o local da biópsia ou
realizá-la durante o exame.
|
Figura 10 - Seguimento de neoplasia na canal anal superior (PB) após radioterapia-Avaliação do resultado do tratamento. a - Neoplasia maligna no canal anal-pré-tratamento. b - Oito semanas pós-radioterapia (imagem hipoecoica no local da lesão). c - Doze semanas pós-radioterapia ( redução quase completa da imagem sugerindo edema e fibrose, afastando lesão residual. |
Endometriose-
Perianal- É visualizada como imagem hipoecoica ou de ecogenicidade mista. O US
demonstra a extensão radial da lesão endometrial, as
estruturas musculares e perineais infiltradas auxiliando na
escolha da terapêutica (Figura-11). Pode não ser
possível evidenciar o limite lateral da lesão quando
infiltra tecidos adjacentes profundamente
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Figura 11 - Endometriose perianal extensa-Imagem hipoecoica infiltrando o EAE na hemicircunferência direita e se extendendo antero-lateral direito em direção ao períneo sem visualização do limite lateral nessa localização(setas). |
Retal- É necessário exame
ultra-sonográfico do reto. Pode ser evidenciada imagem
hipoecoica, extra-retal aderida ou infiltrando a parede do reto
no septo reto-vaginal, orientando o planejamento
cirúrgico (Figura-12).
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Figura12 - Endometriose infiltrando a muscular própria da parede retal (Imagem hipoecoica extra-retal) (setas) |
Cisto Pré-sacral _ O US ano-retal
possibilita avaliar a relação da lesão com a parede retal
e musculatura do assoalho pélvico. Também pode
definir o tamanho e natureza da lesão.
Ecograficamente, corresponde a imagem hipoecoica (na lesão
cística) ou de ecogenicidade mista (na lesão sólida e
mista), geralmente com contorno regular e sem aderência
à parede do reto (Figura-13). Quando a neoplasia
é volumosa pode não ser possível visualizar o
limite lateral, sendo a TC ou RNM os exames de escolha
para complementação diagnóstica.
O US é portanto um exame de imagem
que apresenta limitações e dificuldades técnicas e o
índice de acerto está diretamente relacionado com
a experiência do examinador e as condições em que
são realizados.
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Figura 13 - Cisto pré-sacral sem envolvimento da parede do reto (setas) (Imagem hipoecoica na região pré-sacral) |
SUMMARY: The aim of the present paper is to objectively demonstrate the technical details of the anal ultrasound to dicrease the failure´s rate of diagnosis of the benign and malignant anal canal diseases. So, ultrasound is an exam with limitations and technical difficulties and it's efficacy is related to the correct indication and experience of the ultrasonographer.
Key words: Ultrasound, Anus, Anal canal
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Endereço para correspondência:
Sthela Maria Murad Regadas
Av. Edílson Brasil Soares, 1892
Edson Queiroz
60834-220 - Fortaleza - CE
Trabalho realizado no Centro de Coloproctologia e Gastroendoscopia do Ceará (Hospital São Carlos).