VÍDEOlAPAROSCOPIA COLORRETAL
ENFOQUES ATUAIS & CONTROVÉRSIAS
Francisco Sérgio Pinheiro Regadas - TSBCP
Sthela Maria Murad Regadas - TSBCP
Lusmar Veras Rodrigues - TSBCP
Flávio Roberto Santos e Silva
Francisco Sérgio P. Regadas Filho
Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar o preparo pré-operatório, os princípios da técnica cirúrgica e os resultados da reconstituição do trânsito intestinal por laparoscopia. No período de dezembro de 1991 a abril de 2004, 46 pacientes foram operados no Hospital das Clinicas da Universidade Federal do Ceará e na clínica privada. Vinte e quatro (52,1%) eram do sexo feminino e 22 do masculino e a idade média foi de 48,9 anos. Dentre as diversas indicações para o procedimento de Hartmann, a mais comum foi o volvo do sigmóide. Indicou-se antibióticoprofilaxia em 37 (80,4%) pacientes. Ocorreram 3 (6,5%) complicações transoperatórias (anastomose mecânica incompleta, laceração do reto pelo grampeador mecânico circular e lesão de artéria epigástrica direita). Ocorreram três (6,5%) conversões devido à laceração do reto pelo grampeador, invasão tumoral na pelve não identificada no pré-operatório e aderências excessivas. O tempo operatório médio foi de 153,2 minutos (2,5 horas). Ocorreram complicações pós-operatórias relacionadas com a técnica cirúrgica em 10 (21,7%) pacientes sendo infecção da ferida do estoma (2) e dor no ombro direito (2) as mais comuns. O tempo médio de internação hospitalar foi de 5,7 dias. Não houve óbito.
Unitermos: Laparoscopia, Colostomia, Técnica Operatória
Introdução
As dificuldades relacionadas à
reconstituição do trânsito intestinal após a intervenção de
Hartmann manifestavam-se com maior intensidade até o final
dos anos 70, quando as anastomoses eram
obrigatoriamente realizadas com sutura manual. Com o advento da
sutura mecânica nos anos 80, essas anastomoses
tornaram-se mais facilmente executadas e com maior
segurança, principalmente ao nível do reto inferior e médio.
Nos anos 90, com a introdução do acesso
videolaparoscópico em cirurgia colorretal, a reconstituição
do trânsito intestinal tornou-se uma excelente opção
para este acesso, devido à ausência de mobilização do
cólon e/ou ligaduras vasculares
1-3. No entanto, é considerado um procedimento de risco moderado com relação
às complicações pós-operatórias, já que é indicado
em pacientes previamente submetidos a
intervenções cirúrgicas de grande porte e, muito
freqüentemente, na vigência de complicações infecciosas.
O objetivo deste trabalho é apresentar
o preparo pré-operatório, os princípios da
técnica cirúrgica e os resultados pós-operatórios.
Pacientes e Métodos
No período de dezembro de 1991 a abril
de 2004, 46 pacientes foram operados no Hospital
das Clinicas da U.F.C. e na clínica privada. Vinte e
quatro (52,1%) eram do sexo feminino e 22 do masculino
e a idade variou de 17 a 82 anos, com média de
48,9 anos. As indicações para o procedimento de
Hartmann foram as mais diversas, sendo o volvo de sigmóide
a mais comum (Tabela-1). Todos os pacientes foram submetidos a rigorosa avaliação pré-operatória
de acordo com a doença que determinou o
procedimento de Hartmann. Os pacientes operados devido
à neoplasia maligna foram submetidos a retoscopia
e colonoscopia completa e estadiamento do tumor a nível do abdome, pelve e tórax por meio de
ultrassom abdômino-pélvico e radiografia do tórax.
Aqueles operados devido a complicações de megacólon
ou doença diverticular foram também submetidos
a avaliação radiológica dos cólons. Foi realizado
exame contrastado do coto retal em todos os pacientes.
Foi instituída antibioticoterapia com intenção
profilática em 37 (80,4 %) pacientes.
Tabela 1 - Fatores determinantes da operação
de hartmann
Fatores Determinantes | No. |
Volvo de sigmoide | 17 (36,9%) |
Obstrução por neoplasia | 12 (26,0%) |
Diverticulite | 12 (26,0%) |
Trauma no sigmoide | 02 (4,3%) |
Fistula sigmoideana | 01 (2,1%) |
Necrose do sigmoide | 01 |
Perfuração sigmoide (iatrogênica) | 01 |
Técnica Operatória
Inicia-se a intervenção liberando
completamente o estoma da parede abdominal,
seguindo-se a confecção de uma sutura-em-bolsa com
fio inabsorvível e aposição de uma ogiva destacável
de um grampeador mecânico circular. O cólon
proximal com a ogiva do grampeador é introduzido na
cavidade peritoneal e a maioria das aderências com a
parede abdominal são desfeitas através de manobras
digitais. Realiza-se uma pequena incisão supra-umbilical
para introdução do primeiro trocarte (10mm) para a
ótica, suturando-se em seguida a ferida do estoma.
Segue-se o pneumoperitônio infundindo-se
CO2 pelo trocarte. A partir daí, o procedimento passa a
ser laparoscópico, inspecionando-se toda a cavidade
peritoneal, procurando avaliar especialmente a pelve
no sentido de constatar a viabilidade de se prosseguir
o procedimento por laparoscopia, como também
para posicionar os demais trocartes sob visão direta.
O segundo trocarte (5mm) é introduzido no
flanco direito e o terceiro (10mm) na fossa ilíaca
direita. Realiza-se a lise das aderências com tesoura
com eletrocautério, prosseguindo a dissecção até
a completa liberação do coto retal dos demais
orgãos pélvicos. A identificação do reto é facilitada
pela introdução do próprio grampeador mecânico no
inicio da intervenção cirúrgica. Após a identificação
e completa liberação do reto, perfura-se sua
parede anterior com o eixo do grampeador
mecânico, articulando-o à ogiva com o cólon proximal
e disparando o grampeador. A anastomose pode ser testada através de inspeção endoscópica,
pela manobra do "borracheiro" ou introduzindo azul
de metileno pelo ânus após o prévio clampeamento
do colo proximal à anastomose.
Resultados
Ocorreram 3 (6,5%) complicações
transoperatórias: uma (2,1%) anastomose
mecânica incompleta (concluída com endossutura manual),
uma laceração do reto provocada pelo
grampeador mecânico circular e uma lesão de artéria
epigástrica direita durante a punção com trocarte. Ocorreram
três (6,5%) conversões devido à laceração do reto
pelo grampeador, invasão tumoral na pelve
não identificada no pré-operatório e aderências
excessivas impossibilitando a identificação do côto retal
(Tabela-2). O tempo operatório variou de 30 a 315
minutos, com média de 153,2 minutos (2,5 horas).
Ocorreram complicações pós-operatórias relacionadas com
a técnica cirúrgica em 10 (21,7%) pacientes, sendo
dois (4,2%) casos de infecção da ferida do estoma, dor
no ombro direito pelo período de 48 horas em outros
dois, uma (2,1%) deiscência de anastomose no
quarto d.p.o., uma peritonite inespecífica no quinto dia
d.p.o., uma pequena coleção líquida na pelve que
foi espontaneamente absorvida, uma hérnia incisional
na ferida suturada do estoma, um sangramento em
anastomose e uma fístula anastomótica. O sangramento
e a fístula anastomótica foram tratados
clinicamente (Tabela-3). O tempo médio de internação
hospitalar foi de 5,7 dias. Não houve óbito.
Tabela 2 - Causas de conversão operatória.
Conversões | No. |
Perfuração do reto (Grampeador) | 01 (2,1 % ) |
Aderências excessivas | 01 |
Invasão neoplásica da pelve | 01 |
Tabela 3 - Causas de conversão para laparotomia.
Complicações pós operatórias | No. |
Infecção de ferida | 02 (4,3%) |
Dor no ombro direito | 02 |
Hérnia incisional (ferida do estoma) | 01 (2,1%) |
Sangramento de ferida | 01 |
Insuficiência renal aguda | 01 |
Peritonite primária | 01 |
Deiscência anastomótica | 01 |
Fistula anastomótica | 01 |
Coleção líquida pélvica | 01 |
Sangramento da anastomose | 01 |
Discussão
Como o acesso laparoscópico priva o
cirurgião da sensação táctil, é necessário realizar-se
rigorosa avaliação pré-operatória no sentido de afastar
a presença de afecções associadas no reto e cólons.
Nos pacientes submetidos à técnica de Hartmann devido
às complicações de neoplasias malignas, preconiza-se
o fechamento da colostomia após o período mínimo
de seis meses, época em que pode ocorrer recidiva
loco-regional com maior freqüência. Quando se trata
de afecções benignas, a reconstituição do trânsito
poderá ser realizada com segurança após os primeiros
três meses 4, 5.
Além da avaliação laboratorial
pré-operatória de rotina, realiza-se retoscopia e colonoscopia em
todos os pacientes procurando identificar pólipos,
neoplasias sincrönicas ou afecções inflamatórias associadas.
Nos pacientes operados por megacólon ou doença
diverticular, indica-se também o clister opaco
buscando identificar diverticulos residuais ou segmentos
dilatados de reto e/ou cólon, pois tais achados
resultariam em modificação do planejamento cirúrgico,
sendo necessário associar-se a ressecções complementares
do reto e/ou cólons. O reto foi também avaliado
radiologicamente pela introdução de contraste pelo ânus
para determinar o comprimento, facilitando o
planejamento cirúrgico.
Ao contrário de outros procedimentos
cirúrgico-laparoscópicos, a reconstituição do trânsito
intestinal nem sempre é favorável ao planejamento
pré-operatório, já que consiste principalmente da lise
de aderências. No entanto, face à experiência
acumulada nestes últimos 13 anos realizando este
procedimento, foi possível se estabelecer os princípios técnicos
que facilitam e, em algumas situações, viabilizam
o procedimento. Durante a etapa laparotômica,
procura-se desfazer as aderências ao longo da cicatriz
da laparotomia anterior e pelve através da ferida
do estoma, por meio de delicadas manobras digitais.
Dessa maneira, consegue-se liberar o local da primeira
punção (10-11mm) que deve ser realizada sob visão
direta através da ferida do estoma que é suturada
somente após a introdução de todos os trocartes. Nos casos
em que não existem aderências intraperitoneais,
realiza-se a primeira punção ao nível da fossa ilíaca direita
e uma segunda entre esta e a cicatriz umbilical, pois
nesta situação o procedimento pode ser
completamente realizado utilizando somente estas duas punções.
Ocorreram três (6,5%) complicações
trans-operatórias e a mais grave foi uma lesão
inadvertida do reto com o grampeador mecânico que resultou
em conversão. Ocorreu no início da experiência e
pode ser normalmente evitada manuseando-se
delicadamente o grampeador. Esta complicação tem sido
relatada também por Roe et al. 6 em dois casos
(5,8%) executando procedimentos pela via laparotômica.
As duas outras complicações foram uma lesão
inadvertida da artéria epigástrica direita durante a introdução
do trocarte, que pode ser evitada desde que se
introduza somente após sua identificação; a outra ocorreu após
o grampeamento, permanecendo uma anastomose incompleta. Foi identificada na ocasião e
suturada manualmente por via laparoscópica.
As aderências intra-peritoniais só
foram responsáveis por um caso de conversão,
embora normalmente se constituam na principal causa
5 . Durante o tempo laparoscópico, as aderências devem
ser desfeitas de forma lenta e cuidadosa, com tesoura
e eletrocautério, procurando evitar lesões
inadvertidas de vísceras. No início da dissecção pélvica, a
introdução do grampeador pelo ânus facilita bastante
a identificação da cúpula retal. Ocorreram três
(6,5%) conversões sendo uma devido à laceração do reto
pelo grampeador, outra por invasão tumoral na pelve
não identificada no pré-operatório e uma terceira
pela presença de aderências excessivas impossibilitando
a identificação do coto retal.
A literatura tem apresentado incidência bastante variada dependendo da experiência
das equipes cirúrgicas. Pernegger et al.
7 não relataram conversão enquanto Kohler et
al.8 referiram 11%, Vacher et al.5
15%, Pandini e Gonçalves 9 18,1%
e Hermansen et al. 10 relataram 23% . Por outro
lado, Habr-Gama et al. 11 e Cutait et al.
12 mencionaram índices mais elevados, em torno de 50%. O
tempo operatório variou de 30 a 315 minutos, com média
de 153,2 minutos (2,5 horas). Kohler et al.
8 relataram a média de 114 minutos e Bussotti et al.
13 obtiveram tempo de 192 minutos.
Ocorreram complicações
pós-operatórias relacionadas com a técnica cirúrgica em 10
(21,7%) pacientes. A mais freqüente foi infecção da ferida
do estoma em dois (4,2%) pacientes. Os
procedimentos laparoscópicos têm demonstrado redução na
incidência de infecção de ferida cirúrgica, sendo apresentada
na literatura na média de 6,0% 3, 7, 8,
14 . Ocorreu ainda dor no ombro direito pelo período de 48 horas em
outros dois pacientes operados no início da experiência,
com tempo cirúrgico excessivamente prolongado e
sem adequado esvaziamento do pneumoperitônio após
a intervenção cirúrgica. As complicações mais
graves foram uma (2,1%) deiscência de anastomose no
quarto d.p.o. e um caso de peritonite inespecífica no
quinto dia p.o., que necessitaram reintervenção
cirúrgica. Houve ainda uma hérnia incisional na ferida
suturada do estoma após complicação infecciosa e formação
de pequena coleção líquida na pelve, que
foi espontaneamente absorvida, um caso de
sangramento em anastomose e uma fístula anastomótica,
ambos tratados clinicamente (Tabela-3). O tempo médio
de internação hospitalar foi de 5,7 dias, semelhante ao
que tem sido relatado na literatura 8, 9, 10, 14,
15. Já com o acesso laparotômico, tem sido relatado tempo médio bem
mais elevado, de 18,2 dias 6, 16, 17,
18 . Não houve óbito.
A reconstituição do trânsito intestinal
por videolaparoscopia apresenta-se como
procedimento seguro, eficaz, com reduzidos índices de
morbi-mortalidade e tempo de internação hospitalar.
Summary: The aim of the present paper is to present pre-operative preparation, surgical technique and the results of laparoscopic Hartmann´s colostomy reversal. Between December 1991 and April 2004, 46 patients were operated on at the Hospital das Clínicas of the Federal University of Ceara and at the private clinic. Twenty-four (52,1 per cent) were females and 22 were males and the mean age was 48,9 years. There were many indications for Hartmann´s procedure and the commonest was sigmoid volvulus. Prophylatic antibiotic therapy was indicated in 37 (80,4 percent) patients. There were 3 (6,5 percent) transoperative complications (uncompleted mechanical anastomosis, rectum injury with the mechanical stapler and right epigastric artery injury). There were three (6,5 percent) conversions due to rectum injury with the mechanical stapler, pelvic tumor invasion and excessive adhesions. The mean operative time was 153,2 minutes (2,5 hours). There were 10 (21,7 percent) postoperative complications related to the surgical technique and colostomy wound infection (2) and right shoulder pain (2) were the commonest. The mean hospital stay was 5,7 days. There was no death.
Key words: Laparoscopy, Colostomy, Operative technique
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Endereço para correspondência:
Francisco Sérgio P. Regadas
Av Edilson Brasil Soares, 1892 - Edson Queiroz
60834-220 - Fortaleza (CE)
E-mail: sregadas@baydenet.com.br
Trabalho realizado no Hospital das Clínicas da U.F.C. e no Centro
de Coloproctologia do Ceará do Hospital São Carlos (Fortaleza-CE)
Nota do responsável pela seção
A despeito de muitas considerações na literatura, a restauração do trânsito intestinal
vídeolaparoscópica após operação de Hartmann tem sido considerada procedimento de grande porte
1 associado a numerosos
benefícios, mas que também envolve riscos não desprezíveis
2 .
Muitos centros têm utilizado técnicas minimamente invasivas, seja por meio de acesso laparoscópico
com pneumoperitônio, minilaparotomia com acesso manual
3, laparoscopia sem gás
1, robótica 4 e outros.
De maneira geral, os trabalhos comparativos mostram baixos índices de conversão, morbidade similar
à laparotomia, recuperação pós-operatória mais rápida e redução do tempo de internação
5, 6.
Entretanto, há que se considerar um maior risco de complicações e dificuldades técnicas em
pacientes obesos, naqueles com coto retal curto e quando se constatar grande número de aderências na cavidade. Tendo
em vista que a correta previsão da situação a ser encontrada na cavidade peritonial é impossível de ser feita até
que tenha acesso a ela, o adequado preparo pré-operatório e a indicação seletiva desta via de acesso tornam-se
as grandes armas na prevenção de complicações
7.
Nesse contexto, esperam-se maiores dificuldades nos pacientes com múltiplas operações prévias e naqueles
em que a indicação da operação inicial se deu por peritonite causada por perfuração ou complicações anastomóticas.
Apesar disso, a utilização do acesso laparoscópico como alternativa inicial deve ser sempre
considerada por equipes experientes 8, conforme foi brilhantemente demonstrado na casuística aqui apresentada.
1. Bossotti M, Bona A, Borroni R, Mattio R, Coda A, Ferri F, Martino F, Dellepiane M. Gasless
laparoscopic-assisted ileostomy or colostomy closure using an abdominal wall-lifting device. Surg Endosc 2001;
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Nesta seção temos o grande prazer de contar com a colaboração do grupo coordenado pelo Dr. Francisco Sérgio Pinheiro Regadas, que foi o pioneiro em operações laparoscópicas colo-retais no Brasil. Neste artigo, os leitores da RBCP poderão aproveitar a grande experiência dos autores para agregar conceitos importantes e dicas sobre a reconstrução do trânsito intestinal por vídeolaparoscopia.
Fábio Guilherme Campos - TSBCP