NOTA TÉCNICA
RENÉ CREPALDI FILHO - ASBCP
CARLOS AUGUSTO REAL MARTINEZ - TSBCP
ROGÉRIO TADEU PALMA
- TSBCP
DENISE GONÇALVES PRIOLLI - ASBCP
HERMÍNIO CABRAL REZENDE JÚNIOR - FSBCP
JAQUES WAISBERG - TSBCP
CREPALDI FILHO R, MARTINEZ CAR, PALMA RT, PRIOLLI DG, REZENDE JÚNIOR HC, WAISBERG J. Modificação do
anuscópio auxiliar (PSA 33) do PPH para facilitar a realização da sutura em bolsa na hemorroidectomia por grampeamento.
Rev bras Coloproct 2004;24(4): 365-371.
RESUMO - A hemorroidectomia por grampeamento é uma nova opção técnica para o tratamento da doença hemorroidária de 3º grau. Apresenta como principais vantagens, menor intensidade de dor pós-operatória, retorno mais rápido as atividades cotidianas e índices de complicações pós-operatórias semelhantes a outras técnicas utilizadas. Entretanto, à medida que a experiência com o método aumenta, relatos de complicações graves e potencialmente fatais, tais como perfurações da parede retal, infecções pélvicas e gangrena de Fournier, vêm sendo publicadas. A profundidade com que os pontos são aplicados na parede retal durante a realização da sutura em bolsa é apontada como uma das possíveis causas. Quando os pontos aplicados para a confecção da sutura em bolsa ultrapassam as camadas mucosa e submucosa, atingindo a camada muscular própria da parede retal, existe o risco de perfuração conseqüente à tração da camada muscular para dentro da ogiva do aparelho durante a realização do grampeamento. O objetivo da presente nota técnica é apresentar modificação introduzida no anuscópio auxiliar (PSA 33) que permite a confecção da sutura em bolsa com maior facilidade e segurança, diminuindo a chance de envolvimento inadvertido das camadas mais profundas da parede retal. Foram estudados 30 doentes portadores de doença hemorroidária de terceiro grau. Todos os passos da técnica foram realizados conforme orientação do fornecedor. A modificação introduzida foi realizada no anuscópio auxiliar (PSA 33) utilizado para a execução da sutura em bolsa. Realizou-se secção longitudinal com quatro centímetros de extensão e um centímetro de largura na porção contra lateral da chanfradura original do equipamento. Realizou-se ainda pequeno sulco de rebaixamento na superfície interna do anuscópio a dois centímetros da extremidade distal com dez milímetros de extensão, com o objetivo de servir de guia para a agulha durante a aplicação dos pontos da sutura em bolsa, bem como para assegurar que ela seja confeccionada, em toda a circunferência da parede retal, de forma eqüidistante em relação à linha pectínea. Dessa forma, ao introduzir o anuscópio acessório modificado e comprimi-lo contra a parede do reto ocorre a "herniação" das camadas mucosa e submucosa da parede retal para dentro da chanfradura confeccionada. Com isso, a aplicação dos pontos passa a ser realizada nesse local, utilizando-se o sulco de rebaixamento da superfície interna como guia, permitindo apenas o envolvimento das camadas superficiais da parede retal "herniada" para o interior da chanfradura. Os resultados iniciais até o momento são equivalentes aos da literatura, tendo ocorrido apenas dois sangramentos pós-operatórios de pequena intensidade. Constatou-se que, com a modificação introduzida, obtiveram-se anéis mais uniformes, com menor quantidade de muscultura visível macroscopicamente e redução do tempo operatório quando se comparou com o anuscópio original.
Unitermos: Hemorróidas, cirurgia, Grampeadores cirúrgicos, Técnicas de sutura.
OBJETIVOS
A hemorroidectomia por grampeamento (HG), também denominada de
anorretopexia mecânica, é nova opção técnica desenvolvida para
o tratamento cirúrgico da doença hemorroidária de 3º
e 4º grau e do prolapso da mucosa retal. A
técnica introduzida por Longo1 em 1998, apresenta
como principais vantagens a menor intensidade de dor
pós-operatória, retorno mais rápido ao trabalho e
índices de complicações precoces e tardias semelhantes
aos outros tipos de procedimentos cirúrgicos
utilizados2.
A partir da introdução desta nova
opção cirúrgica, um expressivo número de doentes
portadores de doença hemorroidária passou a ser submetido
ao procedimento, apresentando excelentes
resultados imediatos no que concerne à intensidade da dor
pós-operatória, retorno às atividades, bem como no que
se refere à cura da enfermidade3.
Apesar da HG apresentar índices de
complicações intra e pós-operatórias semelhantes às
técnicas convencionais, à medida que a experiência com
o método aumenta, relatos esporádicos de
complicações graves e potencialmente fatais dessa nova técnica
vêm sendo publicados. Dentre elas destacam-se as
infecções
pélvicas4,5, perfurações da parede
retal6,7, fistulas
reto-vaginais8, hematomas
intra-peritoniais9 e
retroperitoneais10, abscessos
retroperitoneais11 e necrose perineal (gangrena de
Fournier)12.
A profundidade com que os pontos
são aplicados na parede do reto, durante a realização
da sutura em bolsa necessária para a realização
do procedimento, foi apontada como uma das
possíveis causas dessas graves
complicações11. Quando a profundidade dos pontos durante a realização
da sutura em bolsa ultrapassa as camadas mucosa e
submucosa, atingindo a camada muscular própria
da parede retal, existe o risco de perfuração da
parede retal conseqüente à tração da camada muscular
para dentro do aparelho durante a realização
do grampeamento6.
O objetivo da presente nota técnica
é apresentar pequena modificação introduzida
no anuscópio auxiliar (PSA 33) do PPH que permite
a realização da sutura em bolsa com
melhor exeqüibilidade, uniformidade e segurança,
diminuindo a possibilidade de envolvimento inadvertido
das camadas mais profundas da parede retal.
RELATO DA NOTA TÉCNICA
O presente estudo recebeu aprovação
da Comissão de Ética da Chyrus Médica de Santo
André, tendo os pacientes assinado termo de
consentimento após esclarecimentos dos propósitos do estudo.
Foram estudados 30 doentes portadores de doença hemorroidária classificada como de
terceiro grau. Excluíram-se doentes portadores de
outras afecções concomitantes (fissura anal, fistulas,
plicomas) A confecção de todos os passos da técnica
foi realizada conforme as orientações do
fornecedor obtidas no manual que acompanha o equipamento.
Descrição da Modificação no Equipamento
A modificação introduzida foi realizada
no anuscópio auxiliar do PPH1 utilizado para facilitar
a execução da sutura em bolsa (PSA 33).
Realizou-se secção longitudinal com quatro centímetros de
extensão e um centímetro de largura na porção contra-lateral
da chanfradura original do equipamento (Figura-1).
Figura 1 - A - Anuscópio PSA 33 convencional. B - Anuscópio com a modificação introduzida (seta).Visão interna da modificação. |
Dessa forma, ao se introduzir o
anuscópio acessório para a confecção da sutura em bolsa,
e realizando discreta compressão do anuscópio
auxiliar PSA 33 modificado contra a parede retal, ocorre
o prolapso isolado das camadas superficiais, mucosa
e submucosa, da parede retal para o interior da chanfradura confeccionada (Figura-2).
Figura 2 - Anuscópio modificado introduzido no reto mostrando o prolapso da mucosa retal para o interior da chanfradura confeccionada (seta). |
Realizou-se, ainda, pequeno sulco de rebaixamento na superfície interna do
anuscópio modificado com 10 milímetros de extensão,
sendo cinco milímetros em cada haste (Figura-3). O
sulco foi realizado a dois centímetros da extremidade
distal, alargando a chanfradura confeccionada em
três milímetros neste ponto. Este sulco tinha como
objetivo servir de guia à agulha, facilitando a aplicação
dos pontos da sutura em bolsa. Visava ainda servir
como reparo para assegurar que a sutura em bolsa
estaria sendo confeccionada em toda a circunferência
da parede do reto em distância equivalente. Cabe
destacar que as margens da chanfradura foram desbastadas
e arredondadas com o intuito de não provocar
qualquer tipo de traumatismo à parede retal.
Figura 3-_ Sulco de rebaixamento confeccionado a dois centímetros da extremidade distal do anuscópio modificado com 5 mm de extensão em cada haste (seta). |
Assim, a aplicação dos pontos na parede
retal passa a ser realizada, neste local, utilizando-se o
sulco de rebaixamento da parede interna do
anuscópio modificado como guia, a fim de garantir que a
sutura em bolsa seja realizada em toda a circunferência
numa distância uniforme da linha pectínea. A
chanfradura principal idealizada, em virtude do acomodamento
da mucosa para o seu interior, garante a
profundidade adequada dos pontos, evitando-se, com isso,
o envolvimento mais profundo da parede retal
(Figura 4).
Figura 4 - Aplicação da sutura em bolsa com fio de polipropileno 00 confeccionado no interior do anuscópio PSA 33 (modificado) utilizando-se o sulco interno de rebaixamento que orienta a distância da sutura em bolsa. |
DISCUSSÃO
A hemorroidectomia realizada por meio das técnicas convencionais vem sendo utilizada há
várias décadas no tratamento cirúrgico da
doença hemorroidária de 3º e 4º grau com resultados
pós-operatórios satisfatórios no que concerne aos
índices de recidivas e complicações cirúrgicas. Todavia,
a intensidade dolorosa após a operação faz com
que muitos enfermos evitem submeter-se ao
tratamento cirúrgico pelas técnicas convencionais temerosos
de curso pós-operatório marcado pela dor intensa e
por considerável período de afastamento das
atividades profissionais e sociais. Tais temores fazem com
que número expressivo de enfermos postergue a
operação por período prolongado, prejudicando
consideravelmente sua qualidade de vida.
A HG introduzida em 1998 por Longo1, conseguiu rápida aceitação entre médicos
e, principalmente, entre pacientes, pois, além de
diminuir consideravelmente o quadro doloroso
pós-operatório, possibilita retorno mais rápido à atividade cotidiana.
A operação realiza a retirada de segmento da camada
mucosa e submucosa acima da linha pectínea,
não provocando, à semelhança dos procedimentos
cirúrgicos convencionais, ferida cirúrgica no canal anal,
zona sabidamente dotada de sensibilidade elevada à
dor2. No que tange a etiopatogenia da doença hemorroidária,
a HG possui atraente fundamentação técnica, uma vez
que a retirada e grampeamento do manguito mucoso e submucoso da parede retal promove a extirpação e
posterior fixação dos tecidos, impedindo seu
deslizamento caudal, evitando dessa forma o prolapso
hemorroidário. Além disso, o procedimento pode também
interromper o fluxo aos vasos sangüíneos que suprem os
plexos hemorroidários6.
Não obstante as vantagens que o
procedimento determina, à medida que a HG passou a ser
realizada em maior escala, relatos de complicações
pós-operatórias passaram a ser
publicados4-12.
Complicações tais como sangramento intra-operatório, tenesmo,
dor persistente, urgência às evacuações, falhas
no grampeamento, estenoses na linha de sutura e
trombose hemorroidária externa são descritas na maioria
das grandes séries13-15.
Complicações graves do procedimento,
tais como as infecções
pélvicas4,5, perfuração da
parede retal6,7, fístulas
reto-vaginais8, hematomas extensos
intra9 e retroperitoneais10, abscessos
retroperitoneais11 e até mesmo necrose
perineal12 (gangrena de Fournier), embora com menor incidência, foram descritas.
Herold e Kirsch16 publicaram os resultados
de inquérito, em 224 centros que utilizavam a HG
em 4.635 doentes. Três (0,06%) enfermos
apresentaram perfurações da parede retal (duas
necessitando colostomia temporária e uma definitiva), uma
obstrução completa (0,02%) do reto na linha de
grampeamento, um hematoma retrorretal de grandes
proporções (0,02%) e um caso (0,02%) de gangrena de
Fournier de evolução fatal.
Meyer et al10 descreveram doente submetido
à HG que desenvolveu quadro de anemia grave no
pós-operatório por hematoma retroperitoneal extenso,
que apresentou drenagem espontânea através da linha
de grampeamento. O enfermo não necessitou
colostomia derivativa, tendo sido, contudo, submetido a
diversos procedimentos cirúrgicos para controlar a
complicação. Esses autores destacam que as complicações
graves recentemente descritas fazem com que a HG deva
ser empreendida de forma cuidadosa e por
cirurgiões experientes com o método.
A presença de infecção pélvica e de
espaço retrorretal foi descrita em quatro oportunidades
4,5,11,17. Maw et al.11 descreveram o caso de doente com
grave infecção pélvica conduzido de maneira expectante
e que se recuperou após o emprego de
antibioticoterapia sistêmica. Nos casos descritos por Molloy et
al.4 e por Roos17 houve necessidade de intervenção
cirúrgica. Cabe destacar que em ambos doentes a linha
de grampeamento encontrava-se intacta e, não
obstante, a infecção pélvica ocorreu, necessitando
laparotomia para desbridamento cirúrgico local e desvio do
trânsito intestinal por colostomia.
Wong et al.6 publicaram o quarto caso
de perfuração da parede retal após a HG. Os
autores descrevem que após procedimento cirúrgico
realizado sem dificuldades, o doente foi re-internado com
quadro de abdome agudo inflamatório. O toque retal
encontrou defeito de aproximadamente um cm de extensão
na linha de grampeamento localizado na parede
anterior do reto. A radiografia simples do abdome
mostrou pneumoperitônio, sugerindo perfuração em
peritônio livre. A laparotomia revelou peritonite fecal
e perfuração completa da parede retal acima da
reflexão peritoneal. Esses autores realizaram a mobilização
distal com posterior secção do reto quando
exteriorizaram o segmento proximal como colostomia
terminal, mantendo aberta a luz do coto retal
remanescente. Completaram a operação com ampla drenagem
da região pélvica. O doente apresentou evolução
pós-operatória marcada por íleo prolongado recebendo
alta hospitalar, quatro semanas após a operação.
Concluem que essa técnica, apesar de promissora pelas
vantagens oferecidas, deverá ser realizada por cirurgiões
com experiência em Coloproctologia, familiarizados
com a técnica e conhecedores de suas
possíveis
complicações6.
Esser et al.18 estudaram 70 doentes
submetidos consecutivamente a HG e verificaram que no
exame histopatológico do segmento ressecado havia
a presença de fibras da camada muscular própria
da parede retal em 68 (97%) deles. Correa-Rovelo et
al.19 , estudando 100 doentes submetidos à HG,
verificaram que em 55 (55%) deles havia presença de
fibras musculares da parede retal no exame
histopatológico e que em 12 (12%) dos enfermos operados
puderam encontrar fibras da camada muscular externa da
parede retal.
Ravo et al.20 , revisando 1.107 HG
realizadas em 12 centros italianos especializados em
cirurgia colorretal, encontraram 15% de complicações
pós-operatórias com o procedimento. A deiscência da
linha de grampeamento ocorreu em 0,5% dos casos e
hematomas e abscessos retrorretais em 0,1%. Paradoxalmente constataram que 65%
das complicações ocorreram com cirurgiões
mais experientes que já tinham realizado mais de
25 operações desse tipo. Concluíram que a maioria
delas poderia ter sido evitada se existisse maior cuidado
à integridade da parede retal durante a realização
da sutura em bolsa que acompanha o procedimento.
Ripetti et al.7 descreveram caso de
doente portadora de síndrome do períneo
descendente, intussuscepção retorretal e retocele que, devido
à doença hemorroidária de 3º grau, foi submetida a
HG. Após o disparo inicial do aparelho os autores
notaram que o segmento de parede retal extirpado
estava incompleto, faltando metade da circunferência
do mesmo. Confeccionaram uma nova sutura em bolsa realizando um segundo disparo para remover
o excedente de tecido não retirado na primeira
tentativa. A partir do 2º pós-operatório a doente
desenvolveu febre, dor abdominal, encontrando-se
pneumoperitônio, retropneumoperitônio e pneumomediastino
na radiografia simples de abdômen e de tórax. O
toque retal mostrava deiscência completa na linha
de grampeamento posterior. Submetida a
laparotomia, constataram que as duas linhas de grampeamento
se encontravam acima da reflexão peritonial, com
intenso processo inflamatório dos tecidos
perirretais. Realizaram sigmoidostomia em alça e drenagem
das cavidades pélvica e abdominal. Houve
recuperação satisfatória da doente que recebeu alta no sexto
dia, sendo a colostomia fechada após quatro meses.
Os autores concluem que a realização de mais de
um disparo e o emprego da HG em pacientes com
retocele e síndrome do períneo descendente deve ser
evitada. Pescatori21, comentando o artigo de Ripetti et
al.7, acredita que as complicações da HG
encontram-se subestimadas pelo constrangimento dos cirurgiões
em relatar insucessos e erros técnicos. Reforça que
são vários os casos comentados informalmente de
falhas de funcionamento no equipamento (secção
sem grampeamento e grampeamento sem secção)
que infelizmente não são publicados. Apesar
do procedimento possuir diversas vantagens e
méritos deverá ser criteriosamente indicado, caso
contrário poderá transformar um simples procedimento
cirúrgico em verdadeiro desastre.
A revisão da literatura mostra que os
autores que vivenciaram estas graves complicações da
HG atribuem-na ao envolvimento inadvertido da
camada muscular própria do reto durante a confecção da
sutura em bolsa4-8,6,11,12,21,22. Pela ausência de serosa no
reto baixo o envolvimento da camada muscular
própria poderia promover a realização de uma
anastomose completa de todas as camadas que compõem a
parede retal. Some-se ainda o fato de que o reto, em
muitas oportunidades, está desprovido de preparo
mecânico adequado, o que poderia permitir a contaminação
do espaço retrorretal, em virtude da solução
de continuidade entre os grampos, com possibilidade
de extensão cranial para o retroperitônio.
O maior tamanho da abertura do
anuscópio auxiliar PSA 33 original do PPH faz com que
segmento significante da parede retal fique prolapsada para o
interior do aparelho, dificultando, freqüentemente,
a realização da sutura em bolsa, sobretudo nos
doentes portadores de mamilos hemorroidários de
maiores dimensões. Dessa forma, principalmente para
o cirurgião iniciante com a técnica, poderá ser
difícil estabelecer a profundidade ideal com que os
pontos devam ser aplicados durante a realização da sutura
em bolsa. A aplicação de pontos superficiais
demais poderia estar relacionada à ruptura da bolsa quando
do seu fechamento e, dessa maneira, requerendo a confecção de uma nova sutura. A realização de
pontos mais profundos gera a preocupação de englobar
as camadas mais profundas da parede retal com
incremento do risco de perfuração.
A modificação proposta com uma
chanfradura de menores dimensões permite o prolapso somente
das camadas mucosa e submucosa da parede retal.
Além disso, como a confecção da sutura em bolsa é
realizada na parede contra-lateral da chanfradura original,
os pontos são aplicados com melhor visão, mesmo
nos doentes portadores de mamilos hemorroidários
com maiores dimensões.
Os constantes movimentos necessários de retirada e recolocação do anuscópio auxiliar PSA
33 para permitir a realização da sutura em bolsa em
toda a circunferência do reto fazem com que, no início
da experiência, o cirurgião execute uma sutura em
bolsa muitas vezes irregular (excêntrica). O iniciante
muitas vezes perde o parâmetro da distância do ponto
realizado anteriormente, aplicando, dessa forma, os
pontos subseqüentes em distâncias diferentes em relação
à linha pectínea. Esta falta de uniformidade na
aplicação dos pontos durante a confecção da sutura em
bolsa promove, após o grampeamento, a extirpação
de segmento de mucosa e submucosa retal irregular, nitidamente mais estreito em uma de suas porções.
Não é raro verificar-se, ao término da operação, que,
em algum ponto da linha de grampeamento, exista
maior proximidade em relação à linha pectínea ou até
mesmo o envolvimento das porções mais altas do canal
anal20. É possível que seja esta uma das explicações
plausíveis para a ocorrência de dor ou maior urgência
evacuatória que alguns enfermos apresentam no
pós-operatório15,16,20.
Nos 30 doentes em que foi utilizada a modificação proposta os resultados, até o
momento, são semelhantes aos da literatura no que se refere
a dor, tenesmo e resultados funcionais. Ocorreram
cinco (16,6%) sangramentos durante a operação, que
foram facilmente coibidos pela aplicação de pontos
locais. Não houve sangramento pós-operatório
que necessitasse revisão cirúrgica. A confecção da
sutura em bolsa pôde ser realizada com maior facilidade
e num menor espaço de tempo quando se empregou
o anuscópio modificado. Ao término da operação,
o exame da linha de grampeamento mostrava-a igualmente distante da linha pectínea em toda
a circunferência da parede retal, não havendo em
nenhum caso o envolvimento do epitélio do canal anal.
Quando se comparou o uso do anuscópio original com o modificado, a análise macroscópica
do segmento de parede retal extirpado mostrava anéis
mais uniformes em toda a sua extensão e com
menor quantidade de musculatura visível com a utilização
do anuscópio modificado. Atualmente estamos
realizando, de forma prospectiva e randomizada, o
exame histopatológico do segmento retirado com os dois
tipos de anuscópio por meio de estudo
imuno-histoquímico específico para tecido muscular e
posterior mensuração, por histometria, da quantidade de
tecido muscular existente. Esse estudo tem como
objetivo mensurar a quantidade de tecido muscular
existente nos fragmentos extirpados, comparando
doentes operados com o anuscópio original e o modificado.
Os resultados iniciais sugerem a existência de
menor quantidade de tecido muscular quando se utiliza
o anuscópio modificado. Entretanto, somente
estudo comparativo dos resultados obtidos com o emprego
dos dois tipos de anuscópios e, com maior número de
casos, essas impressões iniciais poderão ser confirmadas.
SUMMARY: Hemorrhoidectomy by means of stapling is a new technical option for the treatment of third-degree hemorrhoidal disease. The main advantages are reduced severity of postoperative pain, more rapid return to daily activities and complication rates that are similar to the rates for other utilized techniques. However, as experience with the method has increased, reports of serious and potentially fatal complications have been published, such as perforations of the rectal wall, pelvic infections and Fournier's gangrene. The depth at which the stitches are applied in the rectal wall while performing the purse suture has been pointed out as one of the possible causes. When the applied stitches go beyond the mucosa and submucosa layers, to reach the muscle layer of the rectal wall, there is a risk of perforation, consequent to pulling the muscle layer into the head of the apparatus while performing the stapling. The objective of the present techinique note is to present a modification introduced into the auxiliary anoscope (PSA 33) that allows the purse suture to be constructed more easily and safely, thus reducing the chance of inadvertently involving the deeper layers of the rectal wall. Thirty patients with third-degree hemorrhoidal disease were studied. All steps of the technique were performed in accordance with the supplier's guidance. The modification introduced was made to the auxiliary anoscope (PSA 33) that was utilized for constructing the purse suture. A longitudinal cut of four centimeters in length and one centimeter in width was made in the contralateral portion of the original chamfering of the equipment. A small groove was also made, set into the internal surface of the anoscope at two centimeters from the distal extremity, with a length of ten millimeters. This had the objective of serving as a guide for the needle during the application of the stitches for the purse suture, and also of ensuring that it would be constructed at the same distance from the pectineal line, for the whole circumference of the rectal wall. Thus, upon introducing the modified anoscope accessory and pressing it against the rectal wall, "herniation" of the mucosa and submucosa layers into the chamfering constructed takes place. In this way, the stitches can be applied within this location, using the groove in the internal surface as a guide. This enables involvement of only the surface layers of the rectal wall that have been prolapsed into the chamfering. The initial results from using this modification are equivalent to those in the literature, with the occurrence of only two cases of low-intensity postoperative bleeding. It has been observed that, with the modification introduced, rings of greater uniformity were obtained, with lesser quantities of visible macroscopically musculature and reduced duration of surgery in comparison with the use of the original anoscope.
Key words: Hemorrhoids, surgery, Surgical staplers, Suture techniques.
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Endereço para correspondência:
René Crepaldi Filho
Av Padre Anchieta, 421 - Bairro Jardim
09.090-710- Santo André (SP)
E-mail: renecrepaldi@msn.com
1 Ethicon Produtcs _ Johnson & Johnson USA
Trabalho realizado na Chyrus Médica, Santo André (SP), em
colaboração com a Disciplina de Cirurgia Geral do Curso de Medicina da
Universidade São Francisco, Bragança Paulista.
Recebido em 26/11/2004
Aceito para publicação em 13/01/2005