ATUALIZAÇÃO
Francisco Lopes-Paulo - TSBCP
Unitermos: PET, PET/CT,FDG-18F, cólon, reto, neoplasma, metástases.
O PET (Positron Emission Tomography) é
um método diagnóstico por imagem, baseado na
captação de raios gama, produzidos a partir da degradação
de isótopos instáveis, associados a
substâncias metabolizadas pelos tecidos.
Comumente utiliza-se a glicose associada
ao flúor-18 (FDG-18F), pois esse carboidrato é
avidamente captado por tecidos com intensa atividade
metabólica, tais como o miocárdio, tecido nervoso e neoplasias.
A FDG-18F é utilizada na mesma via metabólica
da glicose nos tecidos tumorais. Devido à
alta instabilidade do flúor-18, esse isótopo emite
partículas positivas, os pósitrons, que ao se chocarem
com elétrons do meio adjacente, emitem dois raios
gama em direção diametralmente oposta, sendo
estes captados pelo tomógrafo PET/CT, que os
transforma em pontos que irão gerar a imagem da lesão.
Esse equipamento é constituído por uma unidade
captadora de raios gama e por um tomógrafo
computadorizado, capaz de realizar os dois exames isoladamente
e sobrepor as duas imagens para melhor definição
da localização anatômica das lesões.
Este método de imagem tem como
principais indicações: avaliação de suspeita de malignidade,
como em imagens obtidas por outros métodos, tais como
ultra-sonografia, tomografia ou ressonância
magnética, a detecção de recidivas pós-operatórias, avaliação
de resposta a terapias complementares, como a quimioterapia e radioterapia, prognóstico
e planejamento de radioterapia.
As metástases hepáticas representam
uma conseqüência comum do carcinoma colorretal.
A detecção precoce e precisa dessas metástases é
crucial para a indicação de hepatectomia parcial,
considerada o tratamento curativo padrão nesses casos. A
presença de metástases extra-hepáticas geralmente
contra-indicará a ressecção cirúrgica como opção
terapêutica. Zhuang et al1, realizaram um estudo de oitenta
PET-FDG-18F e tomografias computadorizadas
(CT), realizadas em pacientes portadores de
carcinoma colorretal, com a finalidade de detectar
metástases hepáticas e outras metástases à distância,
comparando os achados do exame com a patologia cirúrgica e
com a evolução clínica. O
PET-FDG-18F detectou metástases hepáticas em 28 pacientes, com uma sensibilidade
de 100%. A CT detectou metástases em 20 pacientes,
com sensibilidade de 71,4%. Além disso, em um caso
com CT negativo, o PET- FDG-18F detectou um foco
de hipermetabolismo em uma região adjacente ao
fígado, que correspondia a um tumor primário sincrônico
de cólon. Em 6 pacientes com metástases hepáticas,
o PET-FDG-18F detectou lesões
extra-hepáticas, enquanto nesses mesmos pacientes a CT
detectou apenas as lesões do fígado.
Ainda no tratamento de metástases
hepáticas, o PET/CT tem sido utilizado para avaliação
precoce da eficácia da lise de metástases hepáticas por
rádio-ablação3.
Em um estudo recente, Even-Sapir et
al2 avaliaram 62 pacientes submetidos a
ressecção abdomino-perineal (n = 17) ou ressecção anterior (n
= 45) para tratamento de adenocarcinoma de reto,
através do PET/CT_FDG-18F. Eventuais pontos de
captação pélvica foram interpretados como benignos
ou malignos, de acordo com sua forma, localização
e intensidade de captação da
FDG-18F (1-2= benigno e/ou fisiológico, 3= duvidoso, 4-5= maligno). As
imagens foram avaliadas conjuntamente por dois
especialistas. As recidivas pélvicas foram confirmadas por
exame histopatológico ou através de acompanhamento
clínico e por imagem. Foram identificados 81 pontos
de captação aumentada de
FDG-18F, dos quais comprovou-se malignidade em 44. Os índices de
sensibilidade, especificidade, valores predictivos positivos
e negativos e acurácia para diferenciação entre
lesões benignas e malignas na pelve foram de 98%, 96%,
90%, 97% e 93% respectivamente para o PET/CT e de
82%, 65%, 73%, 75% e 74% para o PET isoladamente.
A causa mais comum de resultados falso positivos foi
a captação fisiológica da
FDG-18F por órgãos
deslocados de sua posição anatômica original em decorrência
da manipulação cirúrgica. Alterações na região
pré-sacral foram identificadas pela
tomografia computadorizada em 48% dos pacientes e em
23% essas alterações provaram ser malignas através
da avaliação pelo PET/CT. A sensibilidade,
especificidade e valores predictivos positivo e negativo foram
de 100%, 96%, 88% e 100% respectivamente para o
PET/CT na avaliação dessas alterações pré-sacrais.
Os achados do PET/CT foram clinicamente relevantes
em 47% dos 62 pacientes acompanhados.
A relevância do PET/CT no diagnóstico
e manejo das recidivas do câncer colorretal já
está definida. No entanto uma questão a ser discutida é
a influência que esse método diagnóstico pode ter
na terapêutica do câncer colorretal primário, de modo
especial nos tumores malignos do reto. Um estudo prospectivo recente avaliou a influência desse
método no planejamento terapêutico de tumores de
reto4. Quarenta e seis pacientes portadores de
adenocarcinomas de reto avançados foram encaminhados
para terapia neo-adjuvante, tendo sido submetidos a
PET/CT antes do início da terapia. Todos
foram encaminhados com estadiamento feito com base
nos exames clínicos e de imagem convencionais,
assim como a conduta terapêutica planejada.
Comparou-se então esse estadiamento com o estadiamento feito
após o PET/CT, assim como a propriedade das
alterações de conduta terapêutica realizadas com base
nesse exame, através da evolução clínica. O
tratamento cirúrgico de 36 pacientes (78%) não foi alterado
pelo PET/CT, embora esse exame tenha feito "upstage"
em 3 pacientes (8%) e "downstage"em 5 pacientes
(14%). Em 8 pacientes (17%) a conduta terapêutica foi
alterada com base nesse exame, incluindo 6 pacientes
(13%) nos quais a cirurgia foi contra-indicada e 2
pacientes (4%) nos quais o campo de radioterapia foi
alterado. Concluiu-se que o PET/CT pode aumentar a
precisão do estadiamento e influenciar na conduta
terapêutica dos tumores malignos do reto.
O PET-FDG-18F pode ser utilizado
para avaliação da resposta terapêutica à radio
e quimioterapia, assim como o prognóstico baseado
nessa resposta. Em um estudo recente do Memorial
Sloan-Kettering Câncer Center, NY, quinze
pacientes portadores de adenocarcinoma de reto
localmente avançados foram encaminhados a
rádio-quimioterapia
pré-operatória5. Para tanto foram considerados
os tumores volumosos ou fixos, assim como os que apresentavam estadiamento ultra-sonográfico de
T3-4, N1 ou ambos. O tratamento administrado foi radioterapia (5040 cGy) e quimioterapia (5-FU /
leucovorin). Foi realizado um
PET-FDG-18F antes desse tratamento e 4-5 semanas após seu término.
Para avaliação da resposta foram utilizados o valor
padrão de captação máxima (SUV-max) e a glicólise total
da lesão (TLG). Após um acompanhamento mediano
de 42 meses, 11 pacientes estavam vivos e livres
de doença, enquanto 4 haviam falecido em
decorrência da evolução da neoplasia. A diminuição média do
SUV-max (Delta SUV-max) foi de 69% nos pacientes
livres de doença e de 37% nos pacientes que
apresentaram recidiva (p<0,004). Valores de Delta SUV-max > ou
= 62,5 e DeltaTLG > ou = 69,5 foram os melhores predictivos de sobrevida livre de doença.
Comentários
O PET é um método diagnóstico por
imagem com grande aplicabilidade em oncologia. Sua
principal vantagem é que as imagens obtidas, mais do
que uma estrutura anatômica, representam a imagem
do metabolismo da glicose em tecidos com grande consumo dessa substância. Os tumores são
massas celulares que consomem avidamente a
glicose, captando intensamente a FDG-18F, proporcionando
a emissão de uma grande quantidade de pósitrons
e subseqüentes raios gama, que são captados
pelo equipamento. Não devemos esquecer, no entanto,
que tecidos normais podem apresentar uma
captação considerável desse elemento, o que torna importante
a associação da tomografia computadorizada ao
PET, para melhor localização anatômica. Outro fator a
ser considerado é que a manipulação cirúrgica
pode deslocar tecidos ou órgãos de sua localização
anatômica original, dificultando a interpretação, caso sejam
estes tecidos captadores intensos de glicose. No momento
o PET/CT ainda é um exame dispendioso e de
pouca disponibilidade. No entanto, devido a sua aplicabilidade crescente em diversas áreas da
medicina, acreditamos que em breve tornar-se-á
amplamente disponível em nosso país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Zhuang H, Sinha P, Pourdehnad M, et al. The role of
positron emission tomography with fluorine-18-deoxyglucose in
identifying colorectal cancer metastases to liver.
Nucl Med Commun; 2000, 21(9): 793-8.
2. Even-Sapir E, Parag Y, Lerman H, et al. Detection
of recurrence in patients with rectal câncer: PET/CT
after abdominoperineal or anterior resection.
Radiology; 2004, 232(3): 815-22.
3. Donckier V, Van Laethem JL, Goldman S, et al.
[F-18] fluorodeoxyglucose positron emission tomography as a
tool for early recognition of incomplete tumor destruction
after radiofrequency ablation for liver metastases.
J Surg Oncol; 2003, 84(4): 215-23.
4. Heriot AG, Hicks RJ, Drummond EG, et al. Does
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rectal cancer? A prospective assessment. Dis Colon
Rectum; 2004, 47(4): 451-8.
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