RELATO DE CASO
METÁSTASE ENDOTRAQUEAL E ENDOBRÔNQUICA DE ADENOCARCINOMA DE CÓLON
PAULO DE CARVALHO CONTU1, CLÁUDIO TARTA1, DANIEL DE CARVALHO DAMIN1, IVANICE FREIRE DUARTE1, SIMONE SANTANA CONTU1, LUÍS FERNANDO MOREIRA1
1Serviço de Coloproctologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) - Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
RESUMO: A disseminação metastática endotraqueal e endobrônquica do câncer de cólon é um evento raro. Os autores relatam o caso de um paciente com manifestação aguda de doença metastática endotraqueal e endobrônquica, 10 anos após o tratamento do tumor primário.
Descritores: câncer, colorretal, metástase, endotraqueal, tratamento, prognóstico
Introdução
O envolvimento do pulmão por neoplasias extratorácicas é observado em 30% dos casos
1. Já o comprometimento pulmonar na forma de
metástases endobrônquicas é de 2%
1,4,6. Os tumores sólidos que mais freqüentemente apresentam
disseminação endobrônquica são os tumores de cabeça e
pescoço, rim, mama e intestino grosso
1, podendo também ocorrer em carcinoma de tireóide, testículo,
bexiga, ovário, colo uterino, útero, pâncreas,
esôfago, estomago, melanoma e sarcoma
1-7. O intestino grosso é responsável por 11% a 26% dos casos de
metástases endobrônquicas
1.
RELATO DO CASO
Paciente masculino, 64 anos, foi admitido
com quadro de insuficiência respiratória e estridor
laríngeo. História de colectomia esquerda há 10 anos
e pneumonectomia direita há 2 anos para
tratamento, respectivamente, de um adenocarcinoma de
cólon descendente Dukes B e metástase pulmonar.
Realizou tomografia computadorizada que evidenciou
lesão endotraqueal e endobrônquica à esquerda, nódulo
no segmento ápico-posterior do pulmão esquerdo,
lesão hepática em segmento seis e derrame pleural à
direita. Foi submetido a broncoscopia rígida com
ressecção parcial das lesões. O exame anatomopatológico
e imunohistoquímico confirmaram adenocarcinoma
de origem gastrintestinal. Metástases ósseas e
hepáticas foram diagnosticadas por cintilografia e
ultrassonografia, respectivamente. Foi indicado tratamento paliativo
com radioterapia para traquéia e áreas de dor óssea.
DISCUSSÃO
A primeira descrição de metástase
endobrônquica por carcinoma de cólon foi de Raine
em 1941. Usualmente é acompanhada de
disseminação metastática sincrônica, sendo, portanto, sinal de
doença avançada e de mau prognóstico, com
sobrevida, usualmente, bastante curta
1,5.
Ao contrário das metástases
parenquimatosas de pulmão, as metástases endobrônquicas ocorrem
ao acaso na árvore respiratória
5. A apresentação clínica
é semelhante ao do carcinoma primário de pulmão,
com tosse e hemoptise, ocorrendo na maioria dos casos
1,2, enquanto que dor torácica, dispnéia e sibilância
são achados menos freqüentes
2,3,5. A manifestação de estridor é rara, uma vez que o comprometimento
da traquéia é incomum.
Os achados radiológicos das metástases
traqueais e brônquicas são bastante variáveis
6, podendo também simular um carcinoma brônquico primário
2. A radiografia de tórax pode ser normal ou
apresentar múltiplos nódulos, infiltrados e atelectasias
subsegmentares ou de todo o pulmão
1,6. Salud e colaboradores 7 demonstraram correlação entre os achados
broncoscópicos e da tomografia computadorizada,
atribuindo a esta última uma alta sensibilidade na detecção
e localização das lesões endobrônquicas,
podendo auxiliar na avaliação de pacientes quando a
broncoscopia não é factível.
Embora o diagnóstico possa ser
suspeitado pelos achados clínicos e radiológicos, a
confirmação deve ser feita por broncoscopia com biópsia
profunda, uma vez que a lesão é submucosa
1,5, o que explica o baixo índice diagnóstico do exame citopatológico
de escarro e do lavado e escovado brônquicos
1,2,5.
Apesar das manifestações clínicas
e radiológicas serem similares ao carcinoma
brônquico primário, há evidências que ajudam a diferenciar
estas condições, como a história prévia de
tumor extratorácico primário
2. O intervalo entre o
diagnóstico do tumor primário e a recidiva pulmonar
endobrônquica varia de 3 meses a 25 anos, segundo as
séries retrospectivas 1,4-6.
O tratamento deve ser definido individualmente, conforme o tumor primário,
gravidade dos sintomas e extensão sistêmica da doença
6. A radioterapia pode oferecer bons resultados
nos pacientes cuja manifestação metastática mais
importante é a pulmonar 2. Outros meios
terapêuticos paliativos são a fototerapia por laser e colocação
de prótese endobrônquica 1. Em casos selecionados,
a lobectomia ou pneumonectomia podem ser
opções aceitáveis
1. Sheperd 4 descreveu uma série de
25 pacientes com metástase endobrônquica, 12 dos
quais tratados cirurgicamente, incluindo três casos com
lesão primária de intestino grosso, com sobrevida média
de 12 meses. A cirurgia parece ser a opção que permite
os maiores intervalos livres de sintomas e
sobrevida, quando a lesão endobrônquica for a única
manifestação de doença metastática.
O longo intervalo que pode ocorrer entre o tratamento do tumor primário e a
manifestação metastática reflete o caráter indolente de
tumores sólidos, como o carcinoma colorretal.
SUMMARY: Endotracheal and endobronchial dissemination from a colon cancer is an excedingly rare event. The authors report a case of an endotracheal and endobronchial metastatic lesion presenting clinically 10 years after treatment of the primary tumor.
Key words: colon cancer, endobronchial metastatic, treatment
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Endereço para correspondência:
PAULO DE CARVALHO CONTU
Rua Casemiro de Abreu, 900 apto. 302
Bairro Bela Vista
90420-000 - Porto Alegre (RS)
E-mail: contu@terra.com.br
Recebido em 03/10/2005
Aceito para publicação em 18/11/2005
Trabalho realizado no Serviço de Coloproctologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) _ Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).